São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes ainda concentram vendas

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo que as líderes de mercado tenham perdido uma parcela do bolo total, a indústria brasileira ainda é extremamente concentrada. No setor de sabão em pó, por exemplo, as duas maiores empresas têm mais de 90% do mercado. No caso das cervejas, a líder, AmBev, supera a taxa de 60%. A situação se repete nos chocolates.
O que ajuda a mexer -para cima ou para baixo- com os níveis de concentração é a guerra de preços entre as empresas. Quando uma companhia resolve baixar os preços de forma considerável, para aumentar as vendas, ela eleva sua participação. É o que os analistas chamam de "comprar mercado". É uma estratégia que desequilibra o setor e dura pouco.
Lançamentos de mercadorias também forçam mudanças. "O brasileiro adora novidades e experimenta sempre", diz Cláudio Felisone, do Provar, que estuda o mercado varejista.
O que mais favorece alterações nos rankings de empresas, entretanto, e de forma imediata, são as fusões e as aquisições. A compra da Garoto pela Nestlé, que não foi finalizada ainda, pode deixar o mercado mais "fechado", diz a concorrente Lacta. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) está avaliando o negócio ainda.
"Essa competição é danosa. Eles poderão forçar uma queda de preço em todo o mercado e desequilibrá-lo. E os estrangeiros não entrarão no Brasil. Afinal, por que colocar dinheiro aqui se só um grupo tem mais de 50% do mercado?", diz José Roberto de Almeida, diretor jurídico da Lacta.
A Abicab, que representa os fabricantes, discorda em parte. "Em vários setores temos poucos "players", mas extremamente competitivos. Brigam pelo melhor preço, têm campanhas de marketing agressivas, dezenas de produtos diferentes", diz Getúlio Ursulino, presidente da entidade. "O consumidor só ganha com essa disputa, ainda que entre poucas empresas", afirma ele.
Dados da Nielsen mostram que a Lacta já perdeu espaço. Estava com 35,4% em 2001 e passou para 33,5% em junho de 2002. A Nestlé e Garoto, juntas, tinham 55,2% do mercado de chocolates no fim do primeiro semestre deste ano. Em 2001, estavam com menos: 53,6%.

Efeitos ao consumidor
A possibilidade de ter muitas ou poucas escolhas nas prateleiras é o que faz diferença ao consumidor. Por isso, analistas acreditam que, mesmo que a disputa entre duas empresas seja competitiva, é preciso sempre ter mais "players" nesse jogo.
No setor de cervejas, por exemplo, a AmBev ganhou a companhia de empresas mais atuantes do que no passado, como a Cintra e a Schincariol. Em 2001, a AmBev, dona das marcas Brahma e Antarctica, estava com 65,6% de participação. Em junho de 2002, caiu para 63,9%. A Kaiser ganhou pontos no período -1,8. De um ano para cá, os preços aumentaram pouco. A expansão foi de apenas 0,5%, segundo o IPC/Fipe.


Texto Anterior: Concorrência: Mercado fica mais pulverizado em 2002
Próximo Texto: Mercados e serviços: Justiça cobrará custas em ações trabalhistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.