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Pressão de Dirceu pode ter efeito contrário, afirma Gustavo Franco
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ex-presidente do BC Gustavo
Franco, 48, acha difícil prever a
decisão hoje na reunião do Copom sobre os juros. Ele acha possível a manutenção da Selic, já que
os juros de longo prazo subiram
depois da divulgação da ata da última reunião do comitê.
Folha -Qual o seu palpite para a
decisão do Copom hoje?
Gustavo Franco -É difícil dizer.
Seria muita adivinhação tentar
prever uma decisão do Copom.
Acho até que eles podem não fazer nada. O importante era fazer
com que o mercado acreditasse
que o BC seria capaz de subir os
juros, e isso aconteceu. Gostem
ou não, os juros de longo prazo já
subiram. Portanto, uma vez que
isso já aconteceu, não sei se o BC
precisa aumentar os juros, senão
fica uma coisa mais de aparência
do que de substância. Quando o
ministro da Casa Civil [José Dirceu] se pronuncia sobre juros, se
cria uma situação que se o BC não
subir os juros fica a impressão de
que foi por causa da pressão do
ministro e esse tipo de coisa começa a afetar a dinâmica da decisão do Copom. Trata-se de uma
decisão muito subjetiva.
Folha -O sr. vê risco de aumento
da inflação?
Franco -Hoje, há um superaquecimento em alguns setores da
economia. Já outros estão muito
devagar. Essa situação é muito
complicada de administrar. Nos
setores que estão em ritmo bem
lento, um aumento de juros não
seria justo.
Folha -Uma alta dos juros pode
prejudicar o crescimento?
Franco -Depende muito das expectativas. Se todo mundo achar,
por exemplo, que o aumento de
juros é temporário, é possível os
juros de longo prazo até embutirem uma queda. O efeito de um
aumento pequeno de juros é muito difícil de avaliar. Quando o aumento de juros é grande, se sabe
que a pancada é para valer.
Folha -No mercado, a aposta é de
que haverá um aumento dos juros.
Franco -O BC ficou meio na
obrigação de demonstrar que é
capaz de subir os juros, e por isso
a expectativa dominante é de que
vai mesmo ter um aumento. O
problema é que a ata das reuniões
do Copom está sendo divulgada
num período muito próximo ao
da reunião. Não sei se isso é bom.
Antigamente, as atas eram publicadas muito depois da reunião. A
ata ficou às vezes mais importante
do que a decisão. O BC está operando a ata do Copom, e não sei se
essa é a melhor maneira de se fazer política monetária.
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