São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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Pressão de Dirceu pode ter efeito contrário, afirma Gustavo Franco

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ex-presidente do BC Gustavo Franco, 48, acha difícil prever a decisão hoje na reunião do Copom sobre os juros. Ele acha possível a manutenção da Selic, já que os juros de longo prazo subiram depois da divulgação da ata da última reunião do comitê.
 

Folha -Qual o seu palpite para a decisão do Copom hoje?
Gustavo Franco
-É difícil dizer. Seria muita adivinhação tentar prever uma decisão do Copom. Acho até que eles podem não fazer nada. O importante era fazer com que o mercado acreditasse que o BC seria capaz de subir os juros, e isso aconteceu. Gostem ou não, os juros de longo prazo já subiram. Portanto, uma vez que isso já aconteceu, não sei se o BC precisa aumentar os juros, senão fica uma coisa mais de aparência do que de substância. Quando o ministro da Casa Civil [José Dirceu] se pronuncia sobre juros, se cria uma situação que se o BC não subir os juros fica a impressão de que foi por causa da pressão do ministro e esse tipo de coisa começa a afetar a dinâmica da decisão do Copom. Trata-se de uma decisão muito subjetiva.

Folha -O sr. vê risco de aumento da inflação?
Franco
-Hoje, há um superaquecimento em alguns setores da economia. Já outros estão muito devagar. Essa situação é muito complicada de administrar. Nos setores que estão em ritmo bem lento, um aumento de juros não seria justo.

Folha -Uma alta dos juros pode prejudicar o crescimento?
Franco
-Depende muito das expectativas. Se todo mundo achar, por exemplo, que o aumento de juros é temporário, é possível os juros de longo prazo até embutirem uma queda. O efeito de um aumento pequeno de juros é muito difícil de avaliar. Quando o aumento de juros é grande, se sabe que a pancada é para valer.

Folha -No mercado, a aposta é de que haverá um aumento dos juros.
Franco
-O BC ficou meio na obrigação de demonstrar que é capaz de subir os juros, e por isso a expectativa dominante é de que vai mesmo ter um aumento. O problema é que a ata das reuniões do Copom está sendo divulgada num período muito próximo ao da reunião. Não sei se isso é bom. Antigamente, as atas eram publicadas muito depois da reunião. A ata ficou às vezes mais importante do que a decisão. O BC está operando a ata do Copom, e não sei se essa é a melhor maneira de se fazer política monetária.


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