São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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CAPITAL EXTERNO

Valor previsto pelo IIF, instituição que reúne bancos de todo o mundo, é o maior desde 1997, ano da crise asiática

Emergentes terão US$ 230 bi, diz instituto

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês) anunciou ontem que países emergentes como o Brasil devem receber US$ 230 bilhões neste ano em fluxos de capital, o maior valor desde o começo do efeito dominó de crises iniciado em 1997.
Charles Dallara, diretor-gerente do IIF, disse, porém, que o cenário de otimismo para os emergentes e para a economia mundial está "repleto de riscos".
Sobre a expectativa de crescimento maior no Brasil e de pressões sobre a inflação, Dallara afirmou que o Banco Central "tem suas razões para ser cuidadoso".
"O Brasil demonstrou muita paciência para atingir a atual recuperação e vem se mantendo extremamente bem, permitindo que as condições para o crescimento venham à tona", disse Dallara. "Mas ainda há muitas incertezas internacionais."
A análise geral do IIF sobre os países emergentes enfatiza o fato de os "spreads" para essas nações terem dado um salto em maio deste ano, no início do processo de aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos. Esse movimento sinalizaria "a existência de fragilidades".
Dallara afirmou que o conjunto do cenário internacional, com o preço do petróleo elevado, a possibilidade de novos ataques terroristas e "discrepâncias" entre algumas economias, constitui "muitos fatores de risco".
"Não lembro de nenhum ciclo de recuperação econômica que tenha estado tão entrelaçado a incertezas e riscos", disse Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF. "O espaço para cometer erros está ficando cada vez menor no momento em que entramos em um período de aperto na liquidez global. A implementação de políticas consistentes será crucial", acrescentou.

Seriedade do BC
Para o IIF, um eventual aumento da taxa básica de juros no Brasil hoje na reunião do Copom "não surpreenderá" e representará mais uma demonstração de "cuidado" da parte do Banco Central.
Ao mesmo tempo, o IIF, que representa 330 dos maiores bancos e corretoras do mundo, criticou países que estão "relaxando" suas políticas macroeconômicas diante de um quadro de recuperação e otimismo mundial.
Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF, afirmou que o debate dentro do governo brasileiro sobre a eventual necessidade de elevar o juro básico (hoje em 16% ao ano) "mostra a seriedade com que o Banco Central está levando a questão das metas de inflação".
"Não ficaria surpreso se houvesse um pequeno ajuste", afirmou Horiguchi.

Críticas a acordo argentino
A análise feita pelo IIF antecedeu a reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, que começa em duas semanas, em Washington.
Em carta endereçada ao Fundo e aos representantes dos países desenvolvidos, o IIF voltou a criticar o tratamento dispensado à Argentina desde setembro do ano passado, quando o país fechou com o FMI um acordo considerado "frouxo demais".
Os membros do IIF formam uma maioria entre os bancos e demais credores de cerca de US$ 100 bilhões em dívidas em moratória da Argentina.
"O caso da Argentina representa exatamente o contrário do que é preciso fazer para reconquistar a confiança", disse Dallara. "Mesmo as condições gerais do acordo [com o Fundo] estão longe de terem sido cumpridas."


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