São Paulo, terça-feira, 15 de setembro de 2009

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China abre queixa contra os EUA na OMC

País asiático acusa o governo Obama de "protecionismo desenfreado" por conta do aumento de tarifa de importação de pneus

Trata-se da primeira briga comercial entre as duas maiores potências mundiais na atual administração norte-americana


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China apresentou ontem queixa contra os Estados Unidos na OMC (Organização Mundial do Comércio) por conta do aumento da alíquota para a entrada de pneus chineses nos EUA.
A nova tarifa é de 35%, além dos atuais 4%, e afeta um negócio de US$ 1,8 bilhão, valor dos pneus chineses exportados no ano passado para os EUA.
O Ministério do Comércio chinês acusou os Estados Unidos de violar regras da OMC e de promover "protecionismo desenfreado".
O aumento da tarifa aconteceu após pressão de sindicatos americanos, que dizem que 7.000 empregos desapareceram após a "invasão" de pneus baratos da China.
Em 2004, os EUA importaram 14 milhões de pneus, número que saltou para 46 milhões em 2008. Quatro grandes fábricas americanas fecharam e três correm o mesmo risco.
Esta é a primeira briga no governo Obama entre as duas maiores potências mundiais, quando pressões aumentam nas bases democratas para uma atitude mais dura contra o gigante asiático. Só no primeiro semestre deste ano, o deficit comercial dos EUA com a China chegou a US$ 103 bilhões.
Em discurso ontem em Wall Street, o presidente dos EUA, Barack Obama, comentou o episódio, sem citar a China diretamente. Afirmou que seu governo está comprometido com a expansão do comércio com outros países.
"Mas nenhum sistema de comércio vai funcionar se nós falharmos na aplicação dos acordos comerciais. Então quando, como aconteceu neste fim de semana, nós invocamos condições de acordos existentes, não estamos fazendo isso para provocar ou promover um protecionismo autodestrutivo. Nós fazemos isso porque aplicar acordos comerciais é parte da manutenção de um sistema de comércio livre e aberto", disse.
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, afirmou ainda que é inegável que houve um aumento exponencial do número de pneus chineses que entraram no país nos últimos dois anos.

Retaliação chinesa
A queixa na OMC não foi a única resposta chinesa. O governo do país anunciou que começaria investigações antidumping contra a importação de frangos e carros dos EUA.
Segundo os chineses, os produtos chegam a um preço mais barato que nos EUA ou são beneficiados por subsídios. As exportações de frango americano para a China totalizam US$ 800 milhões por ano, mesmo valor que automóveis e autopeças, também sob investigação.
A suspensão pode favorecer o Brasil, que só começou a exportar frangos para a China em maio passado, mas ainda tem participação pequena no mercado chinês.
O protecionismo americano foi manchete de todos os jornais estatais chineses e se tornou o assunto do dia na internet local.
"A China vai encorajar e apoiar os fabricantes domésticos a produzir pneus de maior qualidade e valor agregado", diz um comunicado colocado ontem no site do Ministério do Comércio chinês.
Após a decisão americana, as ações dos fabricantes de pneus chineses caíram 10%. A alíquota de 35% passará a valer no dia 26 de setembro.

Colaborou JANAINA LAGE, de NOVA YORK



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