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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
"Infoexclusão" ameaça Internet no Brasil e na AL
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A temporada é de notícias de demissões e cancelamento de investimentos na
Internet, no Brasil e em outros
países. As explicações são mais
ou menos óbvias. Primeiro,
houve exagero de expectativas e
dimensionamento. Segundo,
novas tecnologias são caras e demoram mais para se desenvolver em sociedades pobres. Terceiro, o cenário mundial, hoje, é
de redução no crescimento econômico e, nesse contexto, nem a
nova economia escapa.
Menos óbvia é a percepção de
que a esse esfriamento da iniciativa privada não deveria corresponder, necessariamente, um
encolhimento da iniciativa pública. A ideologia predominante
há dois anos, no entanto, difundiu a noção de que cada adolescente seria o bilionário do futuro, de que qualquer um poderia
criar seu negócio on line e escapar de limitações da velha economia. Em alguns países, ganha
força a consciência de que a Internet não é um assunto apenas
privado, que só diga respeito a
jovens que abandonam MBAs
ansiosos para apresentar "business plans" para investidores.
Em todo o mundo, a construção de novas redes de comunicação é vista como parte de um
programa bem mais amplo de
construção de uma sociedade
"da informação" ou "do conhecimento". Isso exige novas políticas industriais e tecnológicas,
novas relações entre os sistemas
educacional e empresarial e gastos públicos para levar a rede ao
maior número de pessoas. No
Brasil, a criação de fundos com
esse objetivo está empacada no
Congresso, tamanha é a força do
lobby das prestadoras de serviços de telecomunicações.
É óbvio: quanto menos infra-estrutura pública, quanto menor a universalização do acesso,
maior o potencial ou a expectativa de vendas de produtos e serviços de telecomunicações por
parte das empresas privadas.
Um "policy paper" alertando
para esses riscos, no Brasil, acaba de ser publicado pela Friedrich Ebert Stiftung. O trabalho
foi escrito por Carlos A. Afonso,
co-fundador e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (o Ibase, do
Betinho). Afonso foi o idealizador do primeiro provedor de
serviços Internet no Brasil e
atualmente é diretor da Rede de
Informações para o Terceiro Setor (Rits). O trabalho pode ser lido no endereço www.fes.org.br.
Afonso lança alertas com relação ao Brasil e à América Latina.
Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, menos de 300
(6%) contam com a infra-estrutura necessária para a instalação
de serviços de acesso à Internet.
Os cerca de cinco milhões de
usuários da Internet no Brasil
são menos de 3% de nossa população. O Brasil é de longe o
pior colocado em números per
capita de usuários, computadores pessoais, linhas telefônicas e
servidores Internet entre as nove maiores economias do mundo. Os circuitos que conectam
os provedores de serviços à Internet estão entre os mais caros
do mundo. Não há no país um
plano para implantar mecanismos efetivos e abrangentes de
democratização de acesso, como conexão maciça de escolas
públicas, programas de treinamento básico etc. Um amplo
programa poderia ser realizado
em dois anos gastando menos
de 0,2% do PIB, mas não há estudos de viabilidade para isso.
Quanto à América Latina,
Afonso alerta para o fato de que
a região é a única que ainda não
dispõe de uma iniciativa comum voltada à interconexão.
O risco maior é o da "infoexclusão". O Brasil foi pioneiro
com relação à Internet mas, como já ocorre em outras áreas da
"velha economia", corre o risco
de ser retardatário quando se
trata da questão social.
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