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RIQUEZA AMERICANA
Gordon nega o poder da nova economia e diz que antigas invenções foram mais importantes do que ela
"Internet não sustenta o ritmo dos EUA"
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Internet e os computadores
não revolucionaram a economia
dos EUA, nem sustentam o ritmo
de seu crescimento. Cedo ou tarde, o país, que cresceu a uma taxa
de 5,6% no segundo trimestre, terá que prestar contas com a boa e
velha teoria econômica -que diz,
desde que nasceu, que há limites
para a expansão econômica.
O alerta é dado por quem já frequentou as melhores escolas norte-americanas. O economista Robert J. Gordon já lecionou em
Harvard e Chicago e, atualmente,
é professor da Northwestern University. Dedica-se, há quase 30
anos, a estudar desemprego, inflação e crescimento da economia
norte-americana.
O último trabalho do professor
Gordon é sobre a nova economia.
Suas conclusões não foram nada
animadoras para as empresas de
tecnologia que enfrentam o ceticismo dos investidores, que fez os
papéis da Nasdaq -Bolsa eletrônica norte-americana- perderem 34% de seu valor desde março. Para Gordon, apenas uma
parcela pequena do crescimento
da produtividade norte-americana nos últimos anos pode ser atribuída aos efeitos da disseminação
de computadores e da Internet.
Produtividade
A economia norte-americana
cresce ininterruptamente há uma
década sem enfrentar pressões inflacionárias. Economistas do
mundo todo se esforçam para explicar como isso é possível.
A teoria diz que crescimento
sem inflação só ocorre quando há
aumento de produtividade: a inflação aparece quando faltam trabalhadores e os salários e custos
começam a subir por conta disso
ou quando os salários altos fazem
as pessoas consumirem muito.
Se novas máquinas ou novas
formas de organizar o trabalho
permitem que um mesmo número de trabalhadores produza mais
bens e serviços num mesmo período de tempo -ou seja, se a
produtividade aumenta- , então
a economia pode crescer mais
sem pressionar os preços.
Os economistas começaram,
então, a procurar por fatores que
poderiam ter aumentado a produtividade nos EUA. Descobriram que a disseminação de computadores e Internet era maior lá
que em qualquer outro país.
A conclusão: o uso intensivo de
computadores e de novas tecnologias de telecomunicações aumentou a produtividade e está
permitindo o crescimento da economia norte-americana. Muitos
não tardaram em afirmar que o
país estava passando por um novo tipo de revolução industrial.
Contra a maré
Mas não é bem isso que o professor Gordon concluiu depois de
analisar as taxas de crescimento
da produtividade nos EUA desde
1870. Desde aquele ano, a produtividade nunca cresceu tão expressivamente como nos últimos
cinco anos. Segundo o estudo do
professor, a produtividade cresceu a uma taxa média de 2,65%
nos EUA no período 1995-1999.
Isso significa que, se em 1995
um trabalhador norte-americano
produzisse cem alfinetes em uma
hora, no início de 2000 ele conseguiria produzir 111 alfinetes no
mesmo período de tempo.
O economista afirma que apenas 21% do ganho de produtividade conseguido nesse período
pode ser atribuído ao uso de computadores e Internet.
Ainda assim, segundo Gordon,
esses ganhos não se espalharam
por toda a economia e se concentraram em poucos setores.
"Com exceção da pequena parte
da economia que produz computadores e periféricos e de alguns
setores produtores de bens duráveis, os efeitos da nova economia
na taxa de crescimento da produtividade são nulos."
Para justificar o crescimento
dos EUA a taxas tão impressionantes, Gordon tem uma explicação que não poderia rimar melhor com a velha economia: "O
crescimento ocorrido nos últimos
cinco anos é maior do que qualquer tendência sustentável. Seu
surgimento foi possível graças a
duas insustentáveis "válvulas de
segurança': um declínio da taxa
de desemprego de 5,6% para 3,9%
e um aumento no déficit da conta
corrente de 1,5% para 3,9% do
PIB (Produto Interno Bruto)".
Internet improdutiva
O economista lembra que muitos dos investimentos na Web são
mera duplicação de negócios já
existentes no mundo real: companhias tradicionais que são obrigadas a investir para defender sua
participação no mercado do ataque das empresas virtuais.
Grande parte do conteúdo veiculado na Internet já existia em
outros tipos de mídia. "Esses negócios representam apenas a
substituição de um tipo de entretenimento ou veículo de informação por outro."
Gordon vai mais longe e afirma
que a Net pode acabar levando,
em alguns casos, à perda de eficiência. "Há grande evidência de
que uma fração considerável da
atividade de consumo pela Web
ocorre nos escritórios, onde os
trabalhadores têm acesso mais rápido à rede, à custa de seus empregadores", diz.
Grandes invenções
"Os computadores e a Internet
não causaram tanto impacto
quanto as grandes invenções do
final do século 19 e início do século 20", afirma Gordon.
A invenção da eletricidade
(1879), do motor a combustão interna (1877), de aparelhos como o
telégrafo (1844), o telefone (1876)
o rádio (1899) e a televisão (1911)
eliminou as distâncias do mundo
em uma proporção maior do que
a Internet, argumenta o professor
norte-americano.
A adoção crescente de infra-estrutura de saneamento e de hábitos de higiene melhorou muito as
condições de vida da população.
As novas invenções, crescentemente adotadas pelas indústrias,
"geraram um aumento na renda
per capita e na riqueza durante os
anos dourados de crescimento da
produtividade (1913-72), que permitiu uma melhora sem precedentes nos padrões de vida", diz o
professor. Essa melhora se disseminou inclusive pelos padrões de
consumo da população.
O professor, com bom humor,
sintetiza seu pensamento sobre a
revolução da Internet com uma
pergunta direta: "Se você pudesse
escolher apenas uma dessas invenções: esgoto encanado ou Internet, qual você escolheria?".
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