São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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Ex-conselheiro compara companhia a estatal

DA SUCURSAL DO RIO

O assessor da controladoria da Varig, Yutaka Imagawa, é tido como o homem mais poderoso da corporação. Há cinco anos, ele ocupa a presidência do conselho de curadores da Fundação Ruben Berta, que detém o controle acionário de todas as empresas do grupo, entre elas, a Rio Sul, a Nordeste, a Sata e os hotéis Tropical.
Imagawa chegou ao topo da hierarquia sem ter exercido cargo executivo. Foi eleito em votação pelos 237 integrantes do Colégio Deliberante, que representam os donos da fundação, no caso, os próprios funcionários da Varig.
Como líder do conselho curador, Imagawa preside o conselho de administração da FRB-Par, empresa de participações da Fundação Ruben Berta, que tem sob seu guarda-chuva três outras holdings: Varig S.A. (Viação Aérea Riograndense), Varig Participações em Transportes Aéreos e Varig Participações em Serviços Complementares.
Criado em 1995, o conselho de curadores é composto por sete empregados da Varig, como o ouvidor Gilberto Rigoni e o piloto-chefe Gilberto Santos. Nos últimos anos, houve um aumento progressivo da ingerência dos curadores na área administrativa, o que tem gerado atritos com os executivos vindos de fora.
De início, o estatuto do conselho curador não permitia que membros fossem nomeados diretores ou integrassem os conselhos de administração das empresas controladas pela fundação. O objetivo era dar autonomia administrativa às empresas.
O estatuto foi mudado, e Imagawa assumiu a presidência do conselho de administração da FRB-Par, que está no cume do organograma. Outros curadores ainda tornaram-se conselheiros nas duas holdings criadas com a cisão da Varig S.A., em 1999.
O conselho curador entrou em rota de colisão com o conselho administrativo da Varig durante a gestão de Fernando Pinto, hoje presidente da companhia portuguesa TAP. Jorge Hilário Gouvea Vieira, então presidente do conselho de administração, saiu antes do final do mandato, por discordar dos curadores.
Um dos motivos da divergência foi a cisão societária de 1999, que levou a Rio Sul e a Nordeste para a nova holding Varig Participações em Transportes Aéreos, fora da alçada da companhia aérea principal. Apenas a Pluna continuou continuou com a Varig S.A.
Esse conflito de interesses é descrito pelo ex-conselheiro de administração da Varig, Leonardo Viegas, que deixou o cargo em maio do ano passado. Ele ficou dois anos no conselho.
Ele diz que o maior problema da Varig é sua governança, em vários níveis: o conselho de administração da Varig, o conselho de administração da FRB-Par, o conselho curador e o Colégio Deliberante da Fundação Ruben Berta.
"A Varig precisa de uma gestão firme, que não relute em contrariar interesses de grupos e "bases eleitorais", se necessário. Nossa experiência demonstrou que projetos voltados a melhorar o desempenho operacional enfrentam resistências", disse o ex-conselheiro à Folha.
Viegas diz que a marca Varig e a competência técnica dos profissionais da empresa não bastam para atrair novos investimentos. "A Varig continua a ser encarada como uma estatal, e sua governança não colabora para alterar essa percepção", afirma.
Para ele, há na Varig duas carreiras funcionais paralelas: a carreira de executivo, representada pelo progresso na hierarquia da empresa, e a carreira política, com a conquista de cargos eletivos na Fundação Ruben Berta.
"Uma carreira prejudica a outra. A de executivo exige obter resultados, mesmo à custa de popularidade. A carreira política progride por meio de acordos, promessas de campanha e críticas à gestão da companhia, mesmo que injustas. Nesse sentido, a Varig é um retrato do Brasil", diz. (EL)


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