São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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Presidente afirma que não espera ajuda do governo

DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Varig, Manuel Guedes, 43, tem repetido que a empresa é viável, embora o cerco dos credores venha se fechando.
Desde que a Fundação Ruben Berta rejeitou o memorando de entendimentos proposto pelo comitê de credores, no mês passado, Guedes passou a discutir pessoalmente com cada um deles.
O BNDES afastou-se das negociações e só voltará a analisar o plano de recapitalização da empresa se houver acerto com os credores. O executivo diz que a Varig não quer ajuda financeira do governo Lula, nem o perdão de sua dívida. "Só queremos pagá-la de forma ordenada", afirma.

Folha - A Air Comet, que administra a Aerolineas Argentinas, pode assumir a Varig?
Manuel Eduardo Domingues Guedes -
Não há nada a este respeito. Estamos conversando com uma série de investidores, mas não com esse grupo.

Folha - Há negociações com companhias aéreas estrangeiras?
Manuel Guedes -
Seria muito difícil contar com elas, porque a situação está ruim para todas. Nosso foco é com investidores internacionais, fundos e bancos de investimentos.

Folha - Quais são as bases da negociação?
Manuel Guedes -
As conversas estão no começo, mas o importante é que estão sendo feitas dentro do projeto inicial da empresa, de atrair investidores e, a partir daí, retomar as negociações com o BNDES. A companhia é viável. Os trabalhos feitos para o BNDES mostraram isso.
Já houve uma melhoria do resultado operacional. A integração das malhas da Rio-Sul, Varig e Nordeste, ocorrida em setembro, vai dar uma economia de US$ 80 milhões por ano.
Tivemos um pequeno lucro de R$ 1 milhão na conta "'resultado da atividade", que é diferente do conceito de resultado operacional. Ele não inclui custos de juros, de variações cambiais e de resultados extraordinários. Não pago juros para transportar passageiros. Pago combustível, piloto, arrendamento da aeronave etc.
O que precisa ser reavaliado é o aspecto financeiro. Temos uma dívida total de cerca de US$ 800 milhões.

Folha - É o total da dívida?
Manuel Guedes -
Só não inclui as contingências: pagamentos de tributos que estamos questionando na Justiça. Questionamos todos os tipos de tributo que tenham sido objeto de manifestação de tribunais superiores quanto à sua constitucionalidade. Se a empresa perder todas as ações, significaria mais R$ 1 bilhão de dívida.

Folha - Os US$ 800 milhões são dívidas vencidas ou a vencer?
Manuel Guedes -
São dívidas a vencer. Desse total, US$ 220 milhões vencem em 2003. O objetivo é pagar US$ 70 milhões em 2003, que são compatíveis com o fluxo de caixa, e refinanciar o restante. Reconhecemos a dívida, mas precisamos de condições melhores. Não queremos descontos, não queremos perdão, nem aumentar a dívida de governo. Queremos pagá-la, mas de forma ordenada.

Folha - Com a dissolução do comitê de credores, vocês continuam negociando com o BNDES?
Manuel Guedes -
O BNDES condiciona sua participação no plano de capitalização à renegociação com os credores e estamos discutindo com eles. Quando tivermos uma visibilidade maior, vamos reapresentar o plano ao BNDES.

Folha - Quem é o maior credor?
Manuel Guedes -
O Banco do Brasil, com US$ 100 milhões, é um credor importante. Temos débitos de US$ 200 milhões com bancos japoneses e de US$ 50 milhões com fundos de pensão americanos lastreados em recebíveis (garantidos pela receita futura da venda de passagens). A dívida com a BR Distribuidora está em R$ 150 milhões, dos quais R$ 120 milhões já estavam negociados para pagamento em cinco anos.

Folha - Há duas semanas, o senhor disse que esperava resposta do BNDES sobre o plano de recapitalização proposto em março. Continua sem resposta?
Manuel Guedes -
O BNDES disse que está disposto a ajudar, desde que seja feita a renegociação financeira com os credores.

Folha - Vocês estão sendo assessorados por algum banco ou consultoria neste momento?
Manuel Guedes -
Estamos sem nenhuma assessoria, no momento. A discussão está sendo feita diretamente pela diretoria.

Folha - O senhor disse que a Fundação Ruben Berta estaria disposta a abrir mão do controle da Varig. Hoje ela tem 87% das ações com direito a voto. Cairia para quanto?
Manuel Ribeiro -
Ela não definiu o nível, mas podia diminuir até para 1%. A Fundação abre mão do controle, com a condição de que o dinheiro novo vá para Varig, não para credores.

Folha - Vocês esperam alguma ajuda do governo Lula?
Manuel Guedes -
Faço questão de dizer que não pretendemos que o governo, seja ele qual for, injete recursos na companhia. Queremos um reexame do setor, em termos de competitividade e de regulamentação.

Folha - Quanto tempo a Varig sobrevive sem novos investidores?
Manuel Guedes -
O problema não é o tempo em si, mas em que condições ela sobrevive. Precisamos de recursos para investimentos e modernização de frota etc. A sobrevivência da Varig não está ligada diretamente à operação de vôo, mas a como os credores pretendem apoiar ou não a companhia. Alguns deles, não todos, estão dispostos a apoiá-la.


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