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BENJAMIN STEINBRUCH
União Americana
Será utópica a idéia de um continente americano unido e mais igualitário, do Alasca
a Punta Arenas, no Chile?
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TROVÕES que assustam a América Latina mostram quão
longe estamos de uma união
continental nas Américas. A Venezuela expulsa companhias estrangeiras e anuncia plano de estatizações. A Bolívia expropria empresas
que operam na produção de petróleo e gás, envolvendo também a Petrobras. O Equador dá indícios de
que poderá seguir o mesmo caminho. A Argentina interfere nos preços de tarifas de empresas multinacionais instaladas no país e vai à Organização Mundial do Comércio contra o Brasil. A mesma Argentina
duela com o pequeno Uruguai e bloqueia os acessos ao território vizinho para impedir a instalação de fábricas de celulose na fronteira binacional.
O bloco de países americanos,
num mundo em que a união regional se mostra cada vez mais importante, não existe nem no imaginário de lideranças continentais. A UE
(União Européia) é um exemplo de
sucesso. Funciona tão bem que já
conseguiu diminuir as diferenças
entre os países mais pobres e os
mais ricos da Europa ocidental. Nas
Américas, é difícil até buscar estatísticas conjuntas dos 35 países da
região. Números da América do
Norte não costumam ser somados
aos da América Latina.
As desigualdades das Américas
são muito mais gritantes que as da
Europa. O grande líder, os EUA,
com o Canadá, tem PIB (Produto
Interno Bruto) entre os mais altos
do mundo, enquanto muitas das 35
nações continentais vivem em extrema pobreza. Sozinhos, os EUA
possuem uma produção anual de
US$ 13 trilhões, equivalente a 76%
de todo o PIB das Américas (estimado em US$ 17 trilhões) e cerca de
cem vezes maior que o dos 20 países
da América Central.
Por essa liderança, os Estados
Unidos deveriam dar mais atenção
aos vizinhos de seu próprio quintal.
Se olhasse mais atentamente e com
mais generosidade para o sul, a
grande nação americana poderia
enxergar enormes sinergias latentes nas Américas e investir na idéia
de construir uma verdadeira união
continental.
As sinergias são muitas: minérios,
petróleo, gás, agrobusiness, bioenergia, manufaturados, serviços e a
infinita biodiversidade da Amazônia. Juntas, construiriam um poderoso e diferenciado continente.
Uma parcela dos bilionários orçamentos direcionados para guerras
proporcionaria às Américas condição de aproveitar o que de melhor
existe em cada país. A própria Constituição dos EUA poderia ser um
paradigma continental.
É óbvio que o mundo caminha para formar três blocos distintos: Europa, Ásia e América. Com seus recursos naturais, as Américas poderiam ser auto-suficientes, embora obviamente não fechadas a outros
blocos. Explorar sinergias, como se
faz nas as grandes fusões empresariais, seria uma forma de aumentar
produtividade, baratear custos e estimular investimentos conjuntos.
A construção de uma verdadeira
União Americana exige determinação, para chegar a um nível muito
além do imaginado pela finada Alca,
um simples tratado de livre comércio, engendrado para que os Estados Unidos possam comprar matérias-primas baratas e vender tecnologia cara.
Contra a triste realidade do curto
prazo -que cultiva a pobreza, mantém desigualdades e semeia o populismo com fachada de socialismo- é
possível ter uma visão de longo prazo, calcada em sinergias e na idéia de
maior eqüidade entre as nações
americanas do norte, do centro e do
sul.
Nada de desmontar nacionalidades. Como na União Européia, as
identidades nacionais e os interesses estratégicos podem ser tranqüilamente preservados. Com uma população estimada em 900 milhões
de pessoas, as três Américas seriam
um bloco tão sustentável e poderoso
quanto Europa ou Ásia.
Será utópica a idéia de um continente americano unido e mais igualitário, da glacial Barrow, no extremo norte do Alasca, à não menos gélida Punta Arenas, no extremo sul
do Chile? Será loucura pensar numa
UA (União Americana)?
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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