São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

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Maioria não confia nos políticos e empresários

Pesquisa Gallup em 60 países para Fórum de Davos revela ceticismo crescente

43% dos pesquisados vêem desonestidade em políticos, e 34%, nos homens de negócio; "reduzir guerras" é vista como maior prioridade

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O mundo não confia nos seus líderes, sejam eles políticos ou homens de negócio. É o que mostra pesquisa feita pelo instituto Gallup Internacional para o Fórum Econômico Mundial, com 55 mil pessoas de 60 países, entre os quais não figura o Brasil.
De acordo com o Gallup, a pesquisa representa o ponto de vista de 1,5 bilhão de "cidadãos globais", menos o dos brasileiros, porque o instituto não tem representação no Brasil. "Por isso, a voz do brasileiro não está presente", disse à Folha Paula Power, do Gallup.
A desconfiança em relação aos dirigentes políticos e empresariais já havia aparecido em pesquisas anteriores do Gallup para o Fórum, na série batizada de "Voz do Povo". A novidade é que é crescente.
A maior razão para ela é a desonestidade, que 43% dos pesquisados vêem em seus políticos, e 34%, nos homens de negócio (também nas pesquisas anteriores, o julgamento dos políticos fora mais severo).
Some-se à desonestidade o fato de que 33% dos consultados consideram os políticos "não-éticos" e tem-se um cenário em que três de cada quatro "cidadãos globais" acham que seus políticos são corruptos.
No caso dos empresários, são 30% os pesquisados que os vêem como "não-éticos", o que também forma uma maioria absoluta que desaprova a conduta ética dos homens de negócio.
Na América Latina, a porcentagem dos que apontam desonestidade na política chega a picos de 90% (Bolívia), 89% (Peru e Equador) e apenas um pouco menos (80%) na Venezuela.
Mesmo nos Estados Unidos, a maioria absoluta (52%) dos pesquisados acha os políticos desonestos.
Talvez como decorrência da falta de confiança nos líderes, a pesquisa 2006 (foi feita em dezembro) mostra uma tendência ao pessimismo em quesitos que dependem fundamentalmente do comando político ou empresarial, como é o caso da segurança e da prosperidade econômica.
Em relação à última, caiu de 43% para 40%, na comparação com 2005, o número dos que respondem que a próxima geração viverá em prosperidade. O ano passado foi o de maior otimismo desde o início da "Voz do Povo", em 2003.
A queda ocorre apesar de 2006 ter sido mais um ano de bom desempenho econômico no planeta, sem as crises que foram a característica central da segunda metade dos anos 1990.
A queda na porcentagem de otimistas não altera, no entanto, o fato de que os 40% que confiam em viver prosperamente superam os 31% que temem ter muito ou um pouco menos de prosperidade.
Já na questão da segurança, o pessimismo é claro: quase a metade (exatamente 48%) dos pesquisados afirma que a próxima geração viverá em um mundo menos seguro. No ano anterior, eram apenas 30% os que temiam a insegurança.
Os otimistas quanto à segurança mundial, que eram 35% em 2005, minguaram para 26%.
É natural, nesse cenário, que a principal prioridade que os pesquisados apontam para seus líderes seja, desta vez, "reduzir guerras", desejo de 15% dos consultados. Em anos anteriores, "promover o crescimento econômico" e "fechar a brecha entre ricos e pobres" figuravam no topo da lista de prioridades.
A pesquisa mostra ainda uma imensa brecha nas percepções dos norte-americanos na comparação com cidadãos de outros países. No conjunto dos consultados, a "guerra contra o terrorismo" desatada pela administração George Walker Bush é prioridade para apenas 12% deles, mas, nos Estados Unidos, a porcentagem praticamente dobra, para 23%.
A pesquisa será apresentada em Davos (Suíça), a partir do dia 24, quando começa o encontro anual 2007 do Fórum Econômico Mundial, cujos participantes são básica e ironicamente os personagens (líderes políticos e empresariais) dos quais desconfia a "voz do povo".


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