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Maioria não confia nos políticos e empresários
Pesquisa Gallup em 60 países para Fórum de Davos revela ceticismo crescente
43% dos pesquisados vêem desonestidade em políticos, e 34%, nos homens de negócio; "reduzir guerras" é vista como maior prioridade
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O mundo não confia nos seus
líderes, sejam eles políticos ou
homens de negócio. É o que
mostra pesquisa feita pelo instituto Gallup Internacional para o Fórum Econômico Mundial, com 55 mil pessoas de 60
países, entre os quais não figura
o Brasil.
De acordo com o Gallup, a
pesquisa representa o ponto de
vista de 1,5 bilhão de "cidadãos
globais", menos o dos brasileiros, porque o instituto não tem
representação no Brasil. "Por
isso, a voz do brasileiro não está
presente", disse à Folha Paula
Power, do Gallup.
A desconfiança em relação
aos dirigentes políticos e empresariais já havia aparecido
em pesquisas anteriores do Gallup para o Fórum, na série batizada de "Voz do Povo". A novidade é que é crescente.
A maior razão para ela é a desonestidade, que 43% dos pesquisados vêem em seus políticos, e 34%, nos homens de negócio (também nas pesquisas
anteriores, o julgamento dos
políticos fora mais severo).
Some-se à desonestidade o
fato de que 33% dos consultados consideram os políticos
"não-éticos" e tem-se um cenário em que três de cada quatro
"cidadãos globais" acham que
seus políticos são corruptos.
No caso dos empresários, são
30% os pesquisados que os
vêem como "não-éticos", o que
também forma uma maioria
absoluta que desaprova a conduta ética dos homens de negócio.
Na América Latina, a porcentagem dos que apontam desonestidade na política chega a picos de 90% (Bolívia), 89%
(Peru e Equador) e apenas um
pouco menos (80%) na Venezuela.
Mesmo nos Estados Unidos,
a maioria absoluta (52%) dos
pesquisados acha os políticos
desonestos.
Talvez como decorrência da
falta de confiança nos líderes, a
pesquisa 2006 (foi feita em dezembro) mostra uma tendência ao pessimismo em quesitos
que dependem fundamentalmente do comando político ou
empresarial, como é o caso da
segurança e da prosperidade
econômica.
Em relação à última, caiu de
43% para 40%, na comparação
com 2005, o número dos que
respondem que a próxima geração viverá em prosperidade.
O ano passado foi o de maior
otimismo desde o início da
"Voz do Povo", em 2003.
A queda ocorre apesar de
2006 ter sido mais um ano de
bom desempenho econômico
no planeta, sem as crises que
foram a característica central
da segunda metade dos anos
1990.
A queda na porcentagem de
otimistas não altera, no entanto, o fato de que os 40% que
confiam em viver prosperamente superam os 31% que temem ter muito ou um pouco
menos de prosperidade.
Já na questão da segurança, o
pessimismo é claro: quase a
metade (exatamente 48%) dos
pesquisados afirma que a próxima geração viverá em um
mundo menos seguro. No ano
anterior, eram apenas 30% os
que temiam a insegurança.
Os otimistas quanto à segurança mundial, que eram 35%
em 2005, minguaram para
26%.
É natural, nesse cenário, que
a principal prioridade que os
pesquisados apontam para
seus líderes seja, desta vez, "reduzir guerras", desejo de 15%
dos consultados. Em anos anteriores, "promover o crescimento econômico" e "fechar a
brecha entre ricos e pobres" figuravam no topo da lista de
prioridades.
A pesquisa mostra ainda
uma imensa brecha nas percepções dos norte-americanos
na comparação com cidadãos
de outros países. No conjunto
dos consultados, a "guerra contra o terrorismo" desatada pela
administração George Walker
Bush é prioridade para apenas
12% deles, mas, nos Estados
Unidos, a porcentagem praticamente dobra, para 23%.
A pesquisa será apresentada
em Davos (Suíça), a partir do
dia 24, quando começa o encontro anual 2007 do Fórum
Econômico Mundial, cujos
participantes são básica e ironicamente os personagens (líderes políticos e empresariais)
dos quais desconfia a "voz do
povo".
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