São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

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Cúpula da PF comandará investigações

Governo considera hipótese de que dados furtados da Petrobras possam parar nas mãos de governos estrangeiros

Polícia Federal se queixa de falta de informações prestadas pela estatal brasileira sobre o furto constatado no último dia 1º

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por considerar uma investigação de nível de Estado, envolvendo interesses do país, o governo Lula decidiu transferir para a cúpula da Polícia Federal o comando do inquérito que investiga o furto de computadores da Petrobras, contendo informações sigilosas e estratégicas da empresa.
Segundo um assessor do presidente Lula, o governo classifica o caso de "grave" por ter a informação de que não se trata de um "roubo simples" e deve ser mais do que uma "simples espionagem industrial".
Ou seja, o Palácio do Planalto e a PF trabalham com a linha de investigação de que o furto não foi apenas uma operação contratada por uma empresa para dispor de informações privilegiadas a serem usadas, por exemplo, numa licitação de reservas de petróleo.
Uma das hipóteses aventadas dentro do governo é que o furto dos quatro computadores, de dois discos rígidos e dois pen drives da estatal pode ser obra de uma quadrilha internacional especializada em obter informações sigilosas para vendê-las a governos ou empresas.
Até anteontem, as investigações estavam sob responsabilidade da delegacia da PF em Macaé porque inicialmente o caso foi tratado como um roubo de carga.
Agora, diante do quadro considerado "grave" pelo Planalto, o governo decidiu que a investigação será comandada diretamente pelo diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, que designará a equipe responsável.
Nas palavras de um assessor de Lula, não se trata de um afastamento do caso da delegada Carla de Melo Dolinski, que vinha dirigindo as ações em Macaé, mas da avaliação de que não é uma situação "ordinária", e sim para uma investigação do primeiro escalão da PF.
Além da PF, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) também foi acionada pelo Planalto e auxiliará nos trabalhos de apuração. O governo foi informado do caso no dia em que ocorreu, 1º de fevereiro, quando quatro laptops (computadores portáteis) e dois discos rígidos com informações sigilosas e estratégicas da Petrobras foram furtados de um contêiner sob responsabilidade da empresa americana Halliburton.
No material, havia dados sobre as recentes descobertas da estatal de reservas de óleo e gás. Entre elas, está o campo de Tupi, na bacia de Santos, o maior já descoberto no país. Suas reservas, que ainda dependem de confirmação final, são estimadas entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris. Ao todo, o Brasil tem hoje 14 bilhões de barris.
A Halliburton, responsável pelo transporte dos laptops e dos discos rígidos, é uma das mais antigas prestadoras de serviço da Petrobras. Nos EUA, teve como presidente Dick Cheney, atual vice-presidente do país e foi muito atuante no Iraque do pós-guerra.
O furto foi descoberto depois que funcionários notaram que o lacre do contêiner, que transportava os equipamentos de Santos para Macaé, tinha marcas de violação. Acionada, a Petrobras fez vistoria e constatou o furto dos equipamentos.
Segundo a Folha apurou, a PF tem se queixado de falta de colaboração por parte da Petrobras com as investigações, o que deve ser contornado com a transferência da responsabilidade pelo comando do inquérito para a cúpula em Brasília.
O governo já havia decidido, para evitar eventuais prejuízos, manter suspensas as licitações das áreas do megacampo até o esclarecimento do caso.


Colaborou ANDREA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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