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Porto infla cidade e é contestado na Justiça
Principal projeto de logística do bilionário Eike Batista já quadruplica a arrecadação de São João da Barra, no Rio de Janeiro
Ministério Público Federal pede paralisação das obras na Justiça e licenciamento ambiental pelo Ibama;
LLX nega irregularidades
DENISE MENCHEN
ENVIADA ESPECIAL A
SÃO JOÃO DA BARRA (RJ)
Contestada pelo Ministério
Público, uma obra de US$ 1,6
bilhão do empresário Eike Batista está transformando uma
região pacata do norte do Estado do Rio. Ainda em fase de
obras, o porto de Açu já fez disparar a arrecadação de ISS (Imposto Sobre Serviços) de São
João da Barra. Entre 2007 e
2008, o avanço foi de 351%, de
R$ 1,6 milhão para R$ 7,4 milhões. Em 2009, até outubro,
somava R$ 6,6 milhões.
O porto é o principal projeto
da LLX, empresa de logística do
empresário que, segundo a revista "Forbes", é o mais rico do
Brasil. As obras começaram em
outubro de 2007, e o local deve
entrar em operação em 2012.
Atualmente, cerca de 2.400
pessoas trabalham no local, das
quais metade é de São João da
Barra, que tem apenas 30 mil
habitantes, ou da vizinha Campos. Antes, a prefeitura era o
maior empregador da cidade,
com 1.900 servidores.
O porto será uma nova alternativa para o escoamento da
produção do Centro-Oeste e do
Sudeste. A meta é que passem
por ali, anualmente, 100,8 milhões de toneladas -destas,
63,3 milhões serão de minério
de ferro, que chegarão de Minas Gerais por um mineroduto.
O investimento na área portuária será de cerca de R$ 3 bilhões. O projeto prevê ainda a
implantação de um complexo
industrial no entorno -no total, a LLX detém 7.800 hectares
na região. Até agora, 66 empresas já demonstraram interesse
em atuar no local.
Se os planos se concretizarem, São João da Barra receberá US$ 36 bilhões em investimentos e responderá pela geração de 50 mil empregos até
2025. Segundo estudo encomendado pela LLX, a população chegará a 250 mil pessoas.
O PIB, de R$ 827,7 milhões em
2007, deverá saltar 500%.
A construção do porto do
Açu, porém, é alvo de uma ação
civil pública movida pelo Ministério Público Federal, que vê
diversas irregularidades no
empreendimento. Desde agosto, um pedido para que as obras
sejam paralisadas aguarda
apreciação na 1ª Vara Federal
de Campos. O órgão estuda recorrer ao TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região devido à demora no julgamento.
Segundo a ação, a construção
representa uma "privatização
inconstitucional de serviço público". Para os procuradores, a
Antaq (Agência Nacional de
Transportes Aquaviários) enquadrou erroneamente o empreendimento para poder dispensá-lo de licitação.
"O porto jamais poderia ter
sido enquadrado como instalação portuária de uso privativo,
como fez a Antaq", diz o procurador Eduardo Santos de Oliveira, citando uma das categorias previstas na Lei dos Portos.
Segundo ele, o tamanho e as
características do empreendimento o tornam o que a lei chamou de "porto organizado", ou
seja, "construído e aparelhado
para atender às necessidades
da navegação, da movimentação de passageiros ou da movimentação e armazenagem de
mercadorias". Nesse caso, a exploração pela iniciativa privada
só pode ocorrer por delegação.
Outro problema citado na
ação é o fato de o licenciamento
ambiental ter sido concedido
pelo Inea (Instituto Estadual
do Ambiente), e não pelo Ibama. "Os impactos ambientais
vão afetar o mar territorial brasileiro", diz Oliveira.
O diretor de desenvolvimento da LLX, José Salomão Fadlalah, nega as irregularidades. Segundo ele, a empresa já protocolou uma contestação à ação
do MP. "Estamos confiantes de
que o empreendimento está em
estrito cumprimento da lei."
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