São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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China acirra concorrência entre montadoras

GM desloca executivo do Brasil para levar experiência em processo de produção em joint-venture chinesa

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como o único dos grandes mercados de veículos em crescimento, a China deve virar palco de uma concorrência mais acirrada entre as montadoras neste ano.
Em janeiro, o país tornou-se o maior mercado mundial, com 735.500 unidades vendidas, desbancando pela primeira vez os Estados Unidos (656.693). A liderança foi puxada por uma razão pontual, a queda na venda de veículos para frotistas nos EUA. Mas, ainda que não se consolide como líder em vendas, a China deve ultrapassar os EUA e se tornar o segundo maior produtor mundial de carros até o final do ano, atrás do Japão, segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers.
A ordem agora é ganhar produtividade e desenvolver produtos globalmente competitivos para não perder terreno para a concorrência. "Temos que estar preparados, porque a China é hoje a região mais desafiadora para a indústria automotiva", disse à Folha o executivo Gerson Pagnotta, que foi deslocado da General Motors do Brasil, há cerca de um mês, para assumir o posto de diretor de engenharia de manufatura da SGM, joint-venture entre a GM e a Saic (Shanghai Automotive Industry Corporation).
Em meio à crise global, a China precisa crescer com qualidade, diz Pagnotta. Seu papel na SGM será levar a experiência do Brasil, considerado modelo na área de manufatura, para melhorar o processo produtivo da indústria chinesa.
"A China vivia um momento em que só se vislumbrava aumento de mercado. Aí, bastava aumentar a capacidade. Era difícil errar, mas agora o momento é diferente. Temos que crescer, mas com eficiência", afirma o executivo.
A SGM tem na China capacidade de produção de 1 milhão de veículos por ano. A meta era chegar a esse volume entre 2008 e 2009, mas a crise internacional atrapalhou os planos. Por enquanto, a montadora produz 600 mil veículos.
A montadora tem três complexos industriais na China, em Xangai, Yantai e Shenyang, onde se produzem modelos de carros populares e de luxo.
O objetivo para daqui a três anos, quando se encerra o período de Pagnotta, é que os três complexos tenham produtos globais, com mais qualidade e tecnologia.

Indústria chinesa
Em 2008, a China produziu 7,4 milhões de automóveis e comerciais leves. Para este ano, a previsão é de crescimento de 1,5%, o que a coloca na posição de único grande mercado com aumento de produção.
Entre 2007 e 2012, o país responderá por 49,6% do crescimento mundial de veículos, seguido pela Índia (19,5%) e Rússia (13,7%). O Brasil será responsável por 8,2% desse crescimento, de acordo com a Pricewaterhouse.
Até lá, serão produzidos no mundo 77 milhões de carros, contra 68,9 milhões no ano passado. "Os países que têm potencial de crescimento serão disputados em uma briga de foice", afirma Rogelio Golfarb, diretor da Ford e ex-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). "Todas as empresas que estão na China têm uma visão de participar mais intensamente disso", disse.
De acordo com ele, a percepção sobre a China mudou muito rápido, já que em 2005 debatia-se se o país seria de fato um grande competidor. E se a China ainda não tem produtos globalmente competitivos, caminha para isso a passos largos.
Na avaliação do sócio-diretor da Price, Marcelo Cioffi, pode-se traçar um paralelo entre a China e a Coreia do Sul.
"A Coreia não tinha um competidor mundial até meados dos anos 90, mas ganhou expressividade com a Hyundai, que hoje é a sexta maior montadora do mundo. A China vai atrair muitos investimentos ainda, todos estão de olho."


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