São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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COMÉRCIO MUNDIAL

Ofertas devem ser melhoradas, diz carta

Empresários da UE dão ultimato a presidentes de países do Mercosul

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

Os empresários europeus enviaram carta-ultimato aos presidentes dos países do Mercosul, em que cobram ofertas "substanciais" em áreas de interesse dos europeus, sob pena de ver fechar-se por muito tempo o que consideram "uma janela de oportunidade".
O texto é assinado por Jürgen Strube, presidente da União das Indústrias da Comunidade Européia (Unice), conglomerado que diz representar 16 milhões de empresas européias e se define como "a voz dos negócios na Europa".
A "janela de oportunidade" é a troca de ofertas melhoradas que UE e Mercosul marcaram para este mês. O empresariado europeu cobra do Mercosul melhor acesso a mercado para bens industriais, serviços, compras governamentais e investimentos.
"Se não houver tal progresso", não só se fechará por bom tempo a "janela de oportunidade" como "a conclusão em tempo do acordo Mercosul-UE estaria em risco e sujeita a um adiamento por tempo imprevisível", adverte a carta.
A pressão do empresariado foi encampada pelos negociadores europeus, mas a "janela de oportunidade" mudou de formato. A intenção inicial era trocar ofertas em Bruxelas, hoje. Em vez disso, dois dos principais negociadores europeus se deslocaram para Buenos Aires, para reunir-se domingo e segunda-feira com seus pares do Mercosul.
Nesses dois dias, haverá "uma troca de ofertas comentada", na descrição de Jorge Remes Lenicov, o embaixador da Argentina na União Européia. Ou seja, cada parte explicará sua oferta, capítulo por capítulo, e ouvirá os comentários do outro lado.
Só depois desse exercício é que serão trocadas formalmente as ofertas, ainda na semana que vem. A fórmula agora inventada visa permitir que "saibamos que a oferta formal será a melhor oferta possível para a outra parte", diz Arancha González, a porta-voz da UE para assuntos comerciais.

"Muita carne na brasa"
Embora detalhes das propostas continuem mantidos sob reserva, já se sabe o espírito de cada uma delas. Os europeus anunciaram aos negociadores do Mercosul que a oferta agrícola será "substantiva", no dizer de Peter Carl, diretor-geral de Comércio da UE e um dos dois enviados do bloco europeu a Buenos Aires (o outro é Jesús Silva Rodríguez, diretor-geral da Agricultura).
Traduz González: "Já havíamos oferecido liberalizar 91% do nosso comércio com o Mercosul. Para o restante, que consideramos sensível, haverá uma oferta de melhor acesso a mercado" (jargão diplomático para redução/eliminação das tarifas de importação).
Abrir o mercado agrícola europeu é a principal reivindicação do Mercosul, extremamente competitivo nessa área.
O bloco do Sul, por sua vez, usa a mesma palavra "substantiva" para definir suas próprias propostas. Como a Folha já antecipou, os europeus ganharão acesso privilegiado ao mercado do Mercosul em telecomunicações e em serviços financeiros.
Mas, em compras governamentais, outro capítulo que consta na carta-ultimato dos empresários, a oferta é menos substantiva, na medida em que prevê apenas transparência nas concorrências públicas, e não a possibilidade de que os europeus delas participem em condições semelhantes à dos fornecedores locais.
É nesse ponto que tende a haver divergências mais fortes, já que é manifesta a vontade política dos dois lados de avançar na negociação, de forma a poder anunciar um acordo já na Cúpula União Européia/América Latina-Caribe de 28 de maio, no México.
"Estamos muito otimistas de que haja verdadeiro desejo de ambas as partes de pôr o máximo de carne na brasa", afirma González, usando uma metáfora bem espanhola.


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