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COMÉRCIO MUNDIAL
Ofertas devem ser melhoradas, diz carta
Empresários da UE dão ultimato a presidentes de países do Mercosul
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Os empresários europeus enviaram carta-ultimato aos presidentes dos países do Mercosul, em
que cobram ofertas "substanciais" em áreas de interesse dos
europeus, sob pena de ver fechar-se por muito tempo o que consideram "uma janela de oportunidade".
O texto é assinado por Jürgen
Strube, presidente da União das
Indústrias da Comunidade Européia (Unice), conglomerado que
diz representar 16 milhões de empresas européias e se define como
"a voz dos negócios na Europa".
A "janela de oportunidade" é a
troca de ofertas melhoradas que
UE e Mercosul marcaram para este mês. O empresariado europeu
cobra do Mercosul melhor acesso
a mercado para bens industriais,
serviços, compras governamentais e investimentos.
"Se não houver tal progresso",
não só se fechará por bom tempo
a "janela de oportunidade" como
"a conclusão em tempo do acordo
Mercosul-UE estaria em risco e
sujeita a um adiamento por tempo imprevisível", adverte a carta.
A pressão do empresariado foi
encampada pelos negociadores
europeus, mas a "janela de oportunidade" mudou de formato. A
intenção inicial era trocar ofertas
em Bruxelas, hoje. Em vez disso,
dois dos principais negociadores
europeus se deslocaram para
Buenos Aires, para reunir-se domingo e segunda-feira com seus
pares do Mercosul.
Nesses dois dias, haverá "uma
troca de ofertas comentada", na
descrição de Jorge Remes Lenicov, o embaixador da Argentina
na União Européia. Ou seja, cada
parte explicará sua oferta, capítulo por capítulo, e ouvirá os comentários do outro lado.
Só depois desse exercício é que
serão trocadas formalmente as
ofertas, ainda na semana que
vem. A fórmula agora inventada
visa permitir que "saibamos que a
oferta formal será a melhor oferta
possível para a outra parte", diz
Arancha González, a porta-voz da
UE para assuntos comerciais.
"Muita carne na brasa"
Embora detalhes das propostas
continuem mantidos sob reserva,
já se sabe o espírito de cada uma
delas. Os europeus anunciaram
aos negociadores do Mercosul
que a oferta agrícola será "substantiva", no dizer de Peter Carl,
diretor-geral de Comércio da UE
e um dos dois enviados do bloco
europeu a Buenos Aires (o outro é
Jesús Silva Rodríguez, diretor-geral da Agricultura).
Traduz González: "Já havíamos
oferecido liberalizar 91% do nosso comércio com o Mercosul. Para o restante, que consideramos
sensível, haverá uma oferta de
melhor acesso a mercado" (jargão
diplomático para redução/eliminação das tarifas de importação).
Abrir o mercado agrícola europeu é a principal reivindicação do
Mercosul, extremamente competitivo nessa área.
O bloco do Sul, por sua vez, usa
a mesma palavra "substantiva"
para definir suas próprias propostas. Como a Folha já antecipou, os europeus ganharão acesso
privilegiado ao mercado do Mercosul em telecomunicações e em
serviços financeiros.
Mas, em compras governamentais, outro capítulo que consta na
carta-ultimato dos empresários, a
oferta é menos substantiva, na
medida em que prevê apenas
transparência nas concorrências
públicas, e não a possibilidade de
que os europeus delas participem
em condições semelhantes à dos
fornecedores locais.
É nesse ponto que tende a haver
divergências mais fortes, já que é
manifesta a vontade política dos
dois lados de avançar na negociação, de forma a poder anunciar
um acordo já na Cúpula União
Européia/América Latina-Caribe
de 28 de maio, no México.
"Estamos muito otimistas de
que haja verdadeiro desejo de ambas as partes de pôr o máximo de
carne na brasa", afirma González,
usando uma metáfora bem espanhola.
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