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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Exuberância irracional enfrenta teste decisivo
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
A Bolsa de Nova York fechou em
baixa na última sexta-feira, enquanto os juros de longo prazo subiam, o dólar se fortalecia ainda
mais e crescia a especulação em
torno da decisão do Fed (banco
central norte-americano) sobre juros, na terça-feira.
Há duas questões no ar: será o
começo do fim do longo ciclo de
crescimento da economia dos
EUA? E a Bolsa, vai começar a cair
gradualmente ou haverá uma correção mais forte, até um "crash"?
O estopim de todo esse quadro
foi a inflação de 0,7% em abril.
Mas não se trata de um cenário
definitivamente sombrio. Boa parte dessa inflação inesperada decorre de uma alta nos preços de combustíveis. É o tipo de problema que
o Fed pode resolver facilmente.
O problema subjacente aos cálculos dos investidores é menos o
da alta dos juros em si e mais o de
saberem se o governo conseguirá
evitar o descontrole inflacionário.
Esse é o sentido da pressão vendedora de títulos públicos de longo
prazo (cuja contrapartida é uma
alta nas suas taxas de juros). O investidor, temendo que um eventual descontrole inflacionário venha a corroer o valor desses papéis,
procura livrar-se deles.
Mas Fed, se de fato optar pela elevação dos juros, estará imediata e
automaticamente afetando as economias de todo o mundo.
Em particular, uma alta dos juros
norte-americanos torna menos
vantajosa a formação de estoques
de mercadorias e matérias-primas,
por duas razões. Primeiro, porque
sobe o custo financeiro de carregar
estoques. Segundo, porque ao esfriar a economia norte-americana
e, como consequência, as outras
principais economias do mundo, a
alta de juros deprime o consumo.
O efeito combinado da tendência
a liquidar estoques (aumento de
oferta) e da redução no consumo
(queda na demanda) é uma inevitável pressão deflacionária.
É um clássico dos manuais de
economia: a elevação nos juros internacionais tende, por exemplo, a
deprimir os preços do petróleo. Isso alivia a pressão inflacionária
nos EUA e, assim, reduz o temor de
perdas entre os detentores de títulos de longo prazo.
Ao mesmo tempo, a alta de juros
nos EUA tende a fortalecer o dólar.
Os investidores optam por colocar
suas economias nos bancos do país
hegemônico cujos juros sobem.
Dólar forte significa importações
baratas. Mais uma razão para que
os custos de produção fiquem sob
controle e os endividados consumidores norte-americanos sejam
beneficiados.
A operação conjunta e simultânea desses vários mecanismos de
transmissão da alta de juros por
vários mercados, países e setores
pode ser a chave para evitar o declínio da economia dos EUA.
Ela passaria a crescer menos,
com juros mais altos, mas os benefícios pelo lado de custos de importação e de estabilidade de preços no longo prazo seriam compensadores. A confiança na liderança da economia norte-americana seria reafirmada.
O risco desse cenário não se realizar, ou seja, de ocorrer um colapso de Wall Street e um pânico global, não parece portanto decorrer
da política de juros.
Há razões de sobra para acreditar
na força do banco central dos EUA
sobre o resto do mundo.
Entretanto, o comportamento,
os humores e as expectativas do investidor norte-americano certamente contém, como alertou Alan
Greenspan, uma boa dose de incontrolável irracionalidade. Nada
impede que os milhões de investidores nos EUA produzam uma fuga alucinada de capitais.
Em outras palavras, na era da
globalização financeira máxima, a
estabilidade econômica planetária
parece depender mais do que nunca de decisões das viúvas do Kentucky, dos gestores de fundos de
Oklahoma ou dos yuppies internéticos de Nova York.
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