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COMÉRCIO EXTERIOR
Produção brasileira não é orientada para o mercado externo, segundo o governo e o setor privado
Exportação não reage com desvalorização
DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília
Depois da frustração nos resultados dos embarques brasileiros de
99, o governo concluiu que a apreciação da moeda nos últimos quatro anos não era o pior entrave ao
crescimento das exportações.
Maior estorvo, assegura agora a
Camex (Câmara de Comércio Exterior), está no fato de que nem o
governo nem o setor privado se
preocuparam algum dia com a
produção orientada para outros
países. Na linguagem oficial: nunca houve política de exportação no
país.
"O Brasil não tem oferta exportável. Exportar nunca foi uma política do país", afirmou à Folha o embaixador José Botafogo Gonçalves,
secretário-executivo da Camex.
"Exportar é uma tarefa que exige
ações de maior profundidade que
o ajuste no câmbio."
Na avaliação de Botafogo, "o setor privado tem uma falsa dimensão do que é exportar".
O governo, por sua vez, ainda
não conseguiu impor os embarques de bens como política prioritária. Tampouco promoveu uma
"articulação mais profunda entre
os vários ministérios envolvidos
com o comércio exterior".
Sobras
"O Brasil não tem oferta exportável. Os produtores se habituaram a
embarcar apenas seus excedentes", afirmou o embaixador, que
chefia o organismo responsável
por coordenar a política de comércio exterior, mas que não tem nenhuma função executiva.
A tese da Camex é reforçada pela
AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
A entidade admite que, por razão
de segurança, as empresas do país
tendem a programar sua produção
exclusivamente para o mercado
interno.
"Para atuar no exterior, o empresário tem de trabalhar com prazos
mais longos de produção e de crédito e deve contar com maior previsibilidade. Portanto, precisa haver regras claras para o comércio
exterior", disse José Augusto de
Castro, diretor da AEB.
Ele observa que o comportamento do vendedor e do comprador de
bens brasileiros é o oposto da atitude que esses mesmos agentes
adotam em relação a mercadorias
de outros países.
O comprador acaba se adaptando ao produto brasileiro oferecido
-à qualidade, ao preço, ao desenho, à quantidade etc. Senão, procura o similar de outra origem.
Em países que priorizam as exportações, o vendedor fabrica as
mercadorias conforme as exigências do comprador final.
Essa "adaptação" do consumidor, no exterior, às condições do
produto brasileiro lembra a época
anterior à abertura de mercado no
Brasil.
Até o começo dos anos 90, o consumidor brasileiro, no mercado
interno, tinha também de se contentar com o que havia na prateleira dos supermercados.
Embora não seja tese nova dentro do governo, a "absolvição" do
real sobrevalorizado pela Camex
se deve à observação do desastre
nos embarques brasileiros a partir
de meados de janeiro, quando a
política cambial mudou.
Botafogo argumenta que a desvalorização do real -histórica reivindicação dos exportadores ao
governo- provocou um "efeito
diametralmente oposto" ao esperado pelo setor.
Em vez de estimular os setores
exportadores, ao baratear o produto brasileiro no exterior, os embarques paralisaram.
De olho no ganho adicional dos
exportadores, parte dos importadores queria abocanhar uma fatia
desse lucro.
A outra parte decidiu suspender
os contratos à espera do equilíbrio
na taxa de câmbio.
Queda contínua
Em janeiro, os embarques despencaram 24,7% em relação ao
mesmo mês do ano passado. Em
fevereiro, caíram 12,0%. Em março, 10,4%. Em abril, 19,0%.
Como resultado, nos quatro meses do ano as exportações brasileiras somaram apenas US$ 13,747
bilhões.
A cifra é 16,5% menor que a registrada no mesmo período de 98 e
aponta o pior resultado do primeiro quadrimestre nos últimos três
anos.
Por conta desse desempenho, o
saldo da balança comercial foi deficitário em US$ 779 milhões no
período.
O resultado nos 12 meses terminados em abril, um indicador do
saldo do ano, ficou negativo em
US$ 5,47 bilhões.
A Camex reconhece que a restrição ao crédito pesou no desempenho das exportações. Mas acrescenta que, em condições normais,
os exportadores não sabem como
dispor das linhas de financiamento ofertadas simplesmente porque
a produção para o exterior "não
faz parte do cotidiano das empresas".
De acordo com a AEB, as linhas
disponíveis no final de fevereiro
somavam entre US$ 21 bilhões e
US$ 22 bilhões e impunham custo
considerado altíssimo para o exportador.
Antes da crise da Rússia arrastar
o mercado mundial, em agosto do
ano passado, as linhas chegavam a
US$ 40 bilhões, com custos bem
mais baixos.
Da mesma forma, a Camex reconhece que o fracasso das exportações também se deve a fatores sobre o qual o governo e o setor privado não têm nenhuma influência.
Um deles é a queda da demanda
mundial -principalmente da
América Latina pelos manufaturados "made in Brazil".
O outro é a redução do preço dos
produtos agrícolas e minérios no
mercado internacional.
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