São Paulo, Domingo, 16 de Maio de 1999
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Empresários criticam falta de ação do governo para retomada

da Reportagem Local

O diagnóstico que os empresários fazem sobre a falta de recuperação das exportações brasileiras é, em geral, diferente da avaliação do governo. Para alguns industriais, falta ação do governo para reativar as vendas externas.
"Não existe vontade política do governo, com efeitos concretos para tornar a exportação prioritária", diz Bóris Tabacof, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Papel e Celulose.
Para Tabacof, um sinal da falta de prioridade para as exportações foi a suspensão, entre abril e dezembro deste ano, do abatimento do PIS e da Cofins que os exportadores tinham direito e representavam cerca de 5% de redução nos custos de produção.
"Houve um conjunto de desacertos do governo, inclusive em manter o câmbio sobrevalorizado, a estrutura de impostos e a falta de crédito para as exportações", diz Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Associação dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos.
Para o empresário Roberto Gianetti da Fonseca, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, um dos principais problemas é a falta de crédito para financiar a produção voltada para a exportação. Sem crédito, muitas empresas perdem o fôlego para aumentar a produção e vender no exterior.
"Vários setores têm capacidade ociosa que pode ser aproveitada para as exportações, mas falta crédito para as empresas. Não podemos nos acomodar com a mudança cambial e achar que está tudo resolvido", diz Gianetti.
A maioria dos empresários também acha que é cedo para avaliar o impacto da desvalorização sobre as exportações. "Ainda não deu tempo de as exportações refletirem a desvalorização porque é preciso negociar contratos, mudar a linha de produção, embarcar as mercadorias, e tudo isso leva tempo", diz Joseph Tutudijan, vice-presidente da Cotia Trading.
Além disso, diz Tutudijan, o ambiente externo não está favorável. Os países asiáticos que sofreram crises cambiais estão sendo agressivos no comércio externo e a demanda mundial está crescendo menos do que nos últimos anos.
A expectativa de que as exportações cresceriam muito rapidamente também se baseava no fato de que seria muito difícil vender os produtos no mercado interno devido à recessão. Mas a economia brasileira está se recuperando mais rápido do que se imaginava.
"A má notícia é que se a economia se recuperar rápido, as importações vão crescer e as exportações crescerão menos porque a prioridade será o mercado interno", diz Roberto Teixeira da Costa, presidente do Conselho de Empresários da América Latina.
Entre os fabricantes de produtos químicos, que produziram déficit comercial superior a US$ 6 bilhões no ano passado, a desvalorização pode até gerar resultado oposto ao esperado num primeiro momento.
"Muitas empresas estão substituindo os importados por produtos nacionais. As empresas exportadoras ficarão, neste momento, com menos excedentes para vender no exterior e é possível que as exportações até caiam", diz Guilherme Duque Estrada de Moraes, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Produtos Químicos.
(RICARDO GRINBAUM)

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