São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2001

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FREADA

Indústria foi o setor mais prejudicado, afirma IBGE; economia cresceu apenas 2,49% no primeiro semestre

Juros, dólar e racionamento desaceleram PIB

DA SUCURSAL DO RIO

Soma de todas as riquezas produzidas por todos os setores de atividade de um país em determinado período -além da incidência de impostos-, o PIB avançou 2,49% no semestre. No acumulado dos quatro últimos trimestres, que mostra como seria a taxa se o ano acabasse agora, o indicador subiu 3,55%.
"Os juros subiram. E a turbulência no câmbio cresceu. Além disso, acrescenta-se ao cenário negativo a questão do racionamento de energia. Esses fatores todos explicam a desaceleração. Mas temos de ver se a tendência negativa vai continuar", disse Roberto Olinto, gerente de contas nacionais do IBGE.
Para ele, desde o início do ano a indústria dá sinais de enfraquecimento. Isso prova que não foi só o racionamento de energia -iniciado em junho- que afetou o setor.
Entre os ramos industriais mais atingidos, estão o automotivo e o eletroeletrônico, ambos sensíveis à alta dos juros por dependerem de vendas a prazo. Mas o racionamento também teve sua cota: afetou siderurgia, alumínio e laminados de aço, todos setores que dependem de grande quantidade de energia.
"Sabíamos que a produção industrial vinha retrocedendo. Mas ninguém esperava uma retração tão expressiva", afirma o economista do Lloyds TSB, Wilson Ramião. O banco previa crescimento do PIB de 3,5% no trimestre. Para Ramião, o fato determinante da desaceleração econômica é a crise energética, pois corta linearmente a produção da indústria.
Roberto Olinto, do IBGE, destaca ainda que a retração de alguns produtos agrícolas também ajudaram a desacelerar o crescimento da economia, como fumo, laranja e banana.
Eustáquio Reis, diretor do Ipea, se disse surpreso com o pequeno crescimento da agropecuária, pois o órgão vinha trabalhando com previsão de crescimento expressivo da safra neste ano.
Reis disse ainda que a grande variação cambial fez subir o preço de alguns produtos levados em conta no cálculo do PIB.
O economista do BBV Banco, Luiz Afonso Lima, que previa crescimento de 3,3%, apontou a disparada do dólar como principal responsável pela desaceleração da economia. "Foi a grande surpresa do trimestre."
Para ele, a taxa de câmbio elevada aumenta os custos das empresas que têm insumos importados. Com isso, afirma, o empresário corta a produção, pois o rendimento do trabalhador está há meses estável e ele não consegue repassar os custos para os preços. "Quando mais ele [empresário" vende, mais ele perde."
Camila Lima, economista do Santander, no entanto, afirma que "não dá para colocar a culpa" em um só problema. Para ela, a conjugação de todos esses fatores levou à retração. A instituição previa expansão de 2,5% a 3% do PIB trimestral.

Impostos
A cobrança de impostos, que vinha elevando o PIB (Produto Interno Bruto), contribuiu para a queda da taxa no segundo trimestre deste ano. Se não tivesse sido levado em conta o recolhimento de tributos, o PIB teria crescido 1,21% no período.
Com a queda de 2,64% na arrecadação de impostos que incidem sobre produtos, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o PIB ficou 0,42 ponto percentual menor -em 0,79%.
Essa contribuição negativa dos tributos somados aos preços dos produtos calculados pelo PIB é novidade. Nos três trimestre anteriores, os impostos subiram 7,79%, 9,86% e 9,89%, respectivamente.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB sem impostos cresceu 3,86%. Com os tributos, a taxa subiu para 4,28%.
(PEDRO SOARES)


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