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FREADA
Indústria foi o setor mais prejudicado, afirma IBGE; economia cresceu apenas 2,49% no primeiro semestre
Juros, dólar e racionamento desaceleram PIB
DA SUCURSAL DO RIO
Soma de todas as riquezas produzidas por todos os setores de
atividade de um país em determinado período -além da incidência de impostos-, o PIB avançou
2,49% no semestre. No acumulado dos quatro últimos trimestres,
que mostra como seria a taxa se o
ano acabasse agora, o indicador
subiu 3,55%.
"Os juros subiram. E a turbulência no câmbio cresceu. Além
disso, acrescenta-se ao cenário
negativo a questão do racionamento de energia. Esses fatores
todos explicam a desaceleração.
Mas temos de ver se a tendência
negativa vai continuar", disse Roberto Olinto, gerente de contas
nacionais do IBGE.
Para ele, desde o início do ano a
indústria dá sinais de enfraquecimento. Isso prova que não foi só o
racionamento de energia -iniciado em junho- que afetou o
setor.
Entre os ramos industriais mais
atingidos, estão o automotivo e o
eletroeletrônico, ambos sensíveis
à alta dos juros por dependerem
de vendas a prazo. Mas o racionamento também teve sua cota: afetou siderurgia, alumínio e laminados de aço, todos setores que
dependem de grande quantidade
de energia.
"Sabíamos que a produção industrial vinha retrocedendo. Mas
ninguém esperava uma retração
tão expressiva", afirma o economista do Lloyds TSB, Wilson Ramião. O banco previa crescimento do PIB de 3,5% no trimestre.
Para Ramião, o fato determinante
da desaceleração econômica é a
crise energética, pois corta linearmente a produção da indústria.
Roberto Olinto, do IBGE, destaca ainda que a retração de alguns
produtos agrícolas também ajudaram a desacelerar o crescimento da economia, como fumo, laranja e banana.
Eustáquio Reis, diretor do Ipea,
se disse surpreso com o pequeno
crescimento da agropecuária,
pois o órgão vinha trabalhando
com previsão de crescimento expressivo da safra neste ano.
Reis disse ainda que a grande
variação cambial fez subir o preço
de alguns produtos levados em
conta no cálculo do PIB.
O economista do BBV Banco,
Luiz Afonso Lima, que previa
crescimento de 3,3%, apontou a
disparada do dólar como principal responsável pela desaceleração da economia. "Foi a grande
surpresa do trimestre."
Para ele, a taxa de câmbio elevada aumenta os custos das empresas que têm insumos importados.
Com isso, afirma, o empresário
corta a produção, pois o rendimento do trabalhador está há meses estável e ele não consegue repassar os custos para os preços.
"Quando mais ele [empresário"
vende, mais ele perde."
Camila Lima, economista do
Santander, no entanto, afirma
que "não dá para colocar a culpa"
em um só problema. Para ela, a
conjugação de todos esses fatores
levou à retração. A instituição
previa expansão de 2,5% a 3% do
PIB trimestral.
Impostos
A cobrança de impostos, que vinha elevando o PIB (Produto Interno Bruto), contribuiu para a
queda da taxa no segundo trimestre deste ano. Se não tivesse sido
levado em conta o recolhimento
de tributos, o PIB teria crescido
1,21% no período.
Com a queda de 2,64% na arrecadação de impostos que incidem
sobre produtos, como o ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o PIB ficou 0,42 ponto
percentual menor -em 0,79%.
Essa contribuição negativa dos
tributos somados aos preços dos
produtos calculados pelo PIB é
novidade. Nos três trimestre anteriores, os impostos subiram
7,79%, 9,86% e 9,89%, respectivamente.
No primeiro trimestre deste
ano, o PIB sem impostos cresceu
3,86%. Com os tributos, a taxa subiu para 4,28%.
(PEDRO SOARES)
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