São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2001

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Mercado já fala em crescimento de 0,8% em 2001

DA SUCURSAL DO RIO


Surpreendido pelo PIB do segundo trimestre, o mercado financeiro se prepara para rever suas projeções para este ano. O BBV Banco estima que, se mantidas as atuais condições, o crescimento da economia em 2001 será de apenas 0,8%.
Para o economista do banco Luiz Afonso Lima, se os efeitos do racionamento, da crise argentina e das altas do dólar e dos juros castigarem a economia na mesma intensidade mostrada no terceiro trimestre, a taxa ficará nesse patamar.
Entretanto ele ressalva que o banco ainda precisa de mais informações sobre indústria e agropecuária para revisar, com mais segurança, a estimativa do PIB anual, que era de um incremento de 2,6%.
A mesma postura foi repetida por economistas de outras instituições. Wilson Ramião, do Lloyds TSB, disse que "certamente a taxa será revisada para baixo", após o crescimento menor do segundo trimestre -de 0,79%. O banco previa expansão de 2,5% neste ano.
O Ipea, que previa crescimento de 2,7% em 2001, também vai rever sua projeção.
Camila Lima, do Santander, diz que, com o resultado trimestral o Banco Central, deve mudar a sua política de aumento de juros. "Do ponto de vista de conter a inflação, nesse cenário não vale a pena o BC continuar elevando juros." Ela disse que a previsão de crescimento para o PIB no ano, de 2,5% a 3%, também será revisada.
O BC, para evitar a alta da inflação, vem elevando a taxa básica de juros desde março.

Boa notícia
O economista e professor William Eide Jr., da Fundação Getúlio Vargas, considerou o resultado do PIB para o segundo trimestre deste ano, "sob o ponto de vista da política econômica do governo", uma boa notícia.
Eide explica que a intenção do governo ao aumentar a taxa de juros é reduzir a atividade econômica para controlar a inflação.
"Temos que pensar em termos de curto, médio e longo prazos", afirma Eide. "E o que interessa ao governo no curto e no médio prazos é controlar a inflação."
Quando há crescimento econômico, as pessoas compram mais produtos e dão mais margem para os fabricantes elevarem os preços. Isso cria uma pressão inflacionária sobre a economia, que pode ser evitada com uma retração. De acordo com Eide, é essa a intenção do governo ao elevar os juros.

Hot-dog
Por outro lado, o desemprego e o número de falências aumenta. "Mas não dá pra cozinhar salsicha sem água quente", afirmou Eide. "Tem que queimar alguém."
Para o economista, com a queda do PIB, devem parar os aumentos na taxa de juros, porque o governo já atingiu o seu objetivo. "Se subirem os juros de novo, o empresário que está com a corda no pescoço vai quebrar. Mais uma alta de juros seria o último puxão na corda", declarou Eide.
Se a inflação não fosse contida neste ano, Eide calcula que o Brasil voltaria a ter problemas daqui a dois ou três anos. Com a retração da atividade econômica, o país poderia entrar nos próximos anos com a situação controlada.


Colaborou Diego Viana, da Redação

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