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DESENVOLVIMENTO
Relatório do Bird aponta que modelo de descentralização foi desastroso economicamente
Brasil é contra-exemplo para emergente
MARCIO AITH
de Washington
O modelo de descentralização
fiscal e política do Brasil na última
década foi desastroso sob o ponto
de vista econômico, causou uma
crise macroeconômica prolongada e tornou-se, a partir de ontem,
exemplo negativo público para
governos de países emergentes.
O caso brasileiro foi estudado
pelo Bird (Banco Mundial) e exposto como um destaque negativo numa das principais publicações da instituição, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial.
O documento diz que a descentralização equivocada no Brasil
permitiu o endividamento dos
Estados e reduziu exageradamente o poder do governo federal
diante dos interesses regionais
que preponderam no Congresso.
O Bird sugere que o governo federal deixe Estados quebrarem
sem socorrê-los e que a Constituição seja alterada para aumentar o
quórum exigido para o Congresso derrubar vetos do presidente.
"O governo federal precisa demonstrar seu compromisso (de
controle fiscal) permitindo que
um Estado entre em inadimplência e deixando-o negociar um
acordo com os credores. Uma vez
que os credores privados perceberem que os Estados carregam
esse risco, eles irão restringir os
empréstimos, apesar dos apelos
dos governadores."
O tratamento dado pelo governo federal brasileiro à moratória
do Estado de Minas Gerais, decretada pelo governador Itamar
Franco, foi visto pelo Bird como
um sinal positivo. "Em 99, o governo brasileiro respondeu à moratória da dívida de um dos Estados exercendo seu poder de deduzir o valor dos juros não pagos
das transferências (de impostos)
da União para esse Estado. Foi
uma medida positiva."
Globalização
Descrevendo a globalização e a
descentralização como forças paralelas que definirão o futuro da
economia mundial, o relatório divulgado ontem sustenta que os
dois processos podem trazer tanto o progresso quanto o caos. E
que o Brasil faz parte da segunda
alternativa. Os dois processos não
são vistos como fatores certos de
aumento ou de redução de pobreza, mas como um instrumento
que pode produzir os dois efeitos
dependendo de como for usado.
"A globalização é como uma onda gigante que pode engolir nações como empurrá-las para a
frente", disse o economista-chefe
e vice-presidente do Bird, Joseph
Stiglitz. "A descentralização é
uma benção contraditória. Quando funciona, pode produzir governos locais mais eficientes e que
melhor respondem à população.
Mas pode ameaçar a estabilidade
macroeconômica e, consequentemente, o crescimento econômico,
se os governos locais gastarem demais e se endividarem, precisando ser socorridos pelos governos
nacionais", sustenta ele.
O relatório dedica quatro páginas ao caso brasileiro. "A experiência brasileira com a descentralização, que resultou numa série de crises fiscais, enfatiza a dificuldade de conduzir os aspectos
políticos de uma descentralização
fiscal num período de transição
econômica e democrática."
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