|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agrofolha
Crise ainda afeta pouco o agronegócio
Saída dos fundos de investimento do mercado derrubou os preços, mas estoque ainda é pequeno e demanda continua
Retomada da valorização
do dólar no Brasil eleva a rentabilidade no campo
e recoloca as fronteiras agrícolas na produção
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A crise financeira que abala o
mercado norte-americano terá
pouca influência sobre o agronegócio brasileiro. É o que
acreditam alguns analistas. Outros afirmam que é cedo para
uma análise das conseqüências.
Em uma coisa analistas e
produtores concordam: a alta
do dólar em relação ao real dará
novo fôlego ao agronegócio,
principalmente porque esse setor depende das exportações.
"Essa crise internacional vai
passar ao largo da agroindústria brasileira, comparada a outros setores." A afirmação é de
Victor Abou Nehmi Filho, gerente da Sparta, administradora de fundos de investimento.
"A maré vai continuar favorável às commodities, embora
ainda não seja possível fazer
muita festa", afirma.
A análise de Nehmi se baseia
em duas pontas. No que se refere aos grãos, os estoques continuam baixos e a demanda dos
países emergentes vai continuar. Portanto, mesmo com a
recente saída dos fundos de investimento do mercado -o que
derrubou os preços das commodities-, ele acredita em
uma parcial recuperação.
Os preços não voltam aos picos atingidos, mas ficam em patamares intermediários: US$ 6
por bushel de milho (25,4 quilos) e US$ 12,50 por bushel de
soja (27,2 quilos).
Já as commodities de consumo de países ricos, como suco
de laranja, café e açúcar, podem
sofrer maior influência dessa
crise financeira, principalmente se ela gerar queda de renda.
O Brasil lidera as exportações
desses produtos.
Preocupado
Já Fernando Muraro, da
Agência Rural, de Curitiba, está
preocupado. Dos três itens que
seguravam os preços elevados
no primeiro semestre, um já
deixou de dar esse suporte: os
fundos de investimento.
Os estoques se mantêm baixos, mas ainda há dúvidas sobre
o que vai acontecer com a renda. O agronegócio brasileiro
precisa ficar de olho na economia asiática, diz Muraro.
O comércio mundial, que girava com taxa de alta de 15% ao
ano, já está em 12%. "É preciso
toda a atenção, também, ao
consumo dos países ricos." Se a
demanda cai nos EUA, afeta o
crescimento da Ásia e reduz a
renda por lá, diminuindo a procura por commodities.
A crise internacional está
provocando uma elevação interna do dólar e uma queda nos
preços internacionais do petróleo. Haroldo Galassini, presidente da Coamo Agroindustrial
Cooperativa, diz que, se concretizada, essa tendência pode
trazer alívio a médio prazo para
os produtores.
Já a alta externa do dólar, que
eleva os preços mundiais das
commodities, pode ter um efeito limitado. Galassini lembra
que grande parte das transações com a Europa é feita em
euro, que está em queda em relação ao dólar.
Nehmi concorda com Galassini e diz que, quanto maior a
subida do dólar no mercado interno, maior é a remuneração
do produtor. "Os custos dos
produtores são em reais e o faturamento, em dólar." A questão é até quando o governo vai
deixar o dólar subir, diz Nehmi.
Para segurar os custos de inflação, ele acredita que o governo
colocará R$ 2,10 como limite.
Muraro diz que agricultura é
câmbio e foi a valorização do
real que provocou a crise agrícola. Agora, a valorização da
moeda dos EUA, se concretizada, elevará a renda no campo.
Estudos da AgRural, da qual é
analista, indicam que, com o
dólar a R$ 1,60, a rentabilidade
dos produtores de soja seria de
6% na safra 2008/9 em Mato
Grosso. Com o dólar a R$ 1,80, a
rentabilidade sobe para 25%.
No Paraná, o dólar a R$ 1,60
gera rentabilidade de 40%. A
R$ 1,80, o ganho vai a 59%.
Um dos efeitos da queda do
real será a recolocação das
fronteiras agrícolas no processo produtivo. A rentabilidade
maior na produção compensará os altos custos de logística.
Texto Anterior: Aquisição: Dona de Assolan e Monange compra Niasi por R$ 366 mi Próximo Texto: Usinas aceitam parar corte de cana se calor atingir 37C Índice
|