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Bancos foram forçados a aceitar estatização
DO ENVIADO A WASHINGTON
Parte do mercado bancário
norte-americano entrou em
atrito com o governo dos EUA
diante da imposição do Tesouro de obrigá-los a emitir ações
que o Estado vai adquirir.
O plano prevê a compra pelo
Tesouro de US$ 125 bilhões de
ações com remuneração mínima de 5% ao ano (nos próximos
cinco anos) dos grandes bancos, e de outros US$ 125 bilhões
em papéis de bancos menores,
principalmente do regionais.
Parte do sistema diz não querer o dinheiro do resgate ou a
intromissão estatal. Também
reclama que concorrentes que
adotaram prática contábeis
condenáveis agora estão sendo
"premiados" com a ajuda bilionária do Tesouro.
Na visão desses bancos, isso
torna a competição do sistema
como um todo "distorcida".
Em entrevista à Folha, Peter
Garuccio, representante da
ABA (Associação Americana de
Bancos, na sigla em inglês),
afirmou que os bancos "não pediram por esse dinheiro".
Embora a ABA (a Febraban
dos EUA) afirme estar "trabalhando em cooperação com o
governo", a entidade diz que
muitos bancos não querem ser
parcialmente estatizados.
Os relatos a respeito da reunião de segunda-feira na sede
do Tesouro entre o secretário
norte-americano Henry Paulson e a cúpula de nove grandes
bancos dos EUA revelam que
eles não tiveram opção. Na prática, foram obrigados a aceitar
a estatização.
Encontro
Paulson teria telefonado pessoalmente para cada um dos
executivos chamando para o
encontro, em Washington.
Questionado, não deu detalhes
sobre o assunto. Apenas disse
que era "notícia boa".
Os convidados entraram juntos na sala de Paulson por volta
das 15h (16h em Brasília) e receberam o informe sobre a estatização parcial. Naquele momento, foram apresentados
também os valores que seriam
injetados em cada uma das instituições.
Ao ser confrontado com reações negativas de alguns dos
participantes, Paulson afirmou
que o público norte-americano
havia "perdido a confiança" no
sistema bancário e que a ação
do Tesouro tinha o objetivo de
restaurá-la.
Em um momento mais acalorado das discussões, o presidente do Fed (o banco central
dos EUA), Ben Bernanke, presente ao encontro, interveio e
disse que a situação era a mais
grave desde a Grande Depressão, em 1929, e que o governo
estava fazendo o que era "o melhor" para o país.
Bernanke também fez um relato sombrio de como via os rumos econômicos futuros caso a
confiança no setor financeiro
continuasse a se deteriorar como vinha acontecendo.
Pouco antes das 17h, Paulson
pediu aos banqueiros que ligassem para os conselhos de administração de seus respectivos
bancos e que os informassem
da decisão. Pediu que voltassem à mesma sala às 18h30.
Quando os banqueiros retornaram, depois de falar pelos
corredores do Tesouro com
suas matrizes, os documentos
onde se comprometeriam a
vender as ações ao Tesouro já
estavam sobre a mesa. Todos tiveram de assiná-los antes de
deixar a sala.
(FERNANDO CANZIAN)
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