São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Bancos foram forçados a aceitar estatização

DO ENVIADO A WASHINGTON

Parte do mercado bancário norte-americano entrou em atrito com o governo dos EUA diante da imposição do Tesouro de obrigá-los a emitir ações que o Estado vai adquirir.
O plano prevê a compra pelo Tesouro de US$ 125 bilhões de ações com remuneração mínima de 5% ao ano (nos próximos cinco anos) dos grandes bancos, e de outros US$ 125 bilhões em papéis de bancos menores, principalmente do regionais.
Parte do sistema diz não querer o dinheiro do resgate ou a intromissão estatal. Também reclama que concorrentes que adotaram prática contábeis condenáveis agora estão sendo "premiados" com a ajuda bilionária do Tesouro.
Na visão desses bancos, isso torna a competição do sistema como um todo "distorcida".
Em entrevista à Folha, Peter Garuccio, representante da ABA (Associação Americana de Bancos, na sigla em inglês), afirmou que os bancos "não pediram por esse dinheiro".
Embora a ABA (a Febraban dos EUA) afirme estar "trabalhando em cooperação com o governo", a entidade diz que muitos bancos não querem ser parcialmente estatizados.
Os relatos a respeito da reunião de segunda-feira na sede do Tesouro entre o secretário norte-americano Henry Paulson e a cúpula de nove grandes bancos dos EUA revelam que eles não tiveram opção. Na prática, foram obrigados a aceitar a estatização.

Encontro
Paulson teria telefonado pessoalmente para cada um dos executivos chamando para o encontro, em Washington. Questionado, não deu detalhes sobre o assunto. Apenas disse que era "notícia boa".
Os convidados entraram juntos na sala de Paulson por volta das 15h (16h em Brasília) e receberam o informe sobre a estatização parcial. Naquele momento, foram apresentados também os valores que seriam injetados em cada uma das instituições.
Ao ser confrontado com reações negativas de alguns dos participantes, Paulson afirmou que o público norte-americano havia "perdido a confiança" no sistema bancário e que a ação do Tesouro tinha o objetivo de restaurá-la.
Em um momento mais acalorado das discussões, o presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, presente ao encontro, interveio e disse que a situação era a mais grave desde a Grande Depressão, em 1929, e que o governo estava fazendo o que era "o melhor" para o país.
Bernanke também fez um relato sombrio de como via os rumos econômicos futuros caso a confiança no setor financeiro continuasse a se deteriorar como vinha acontecendo.
Pouco antes das 17h, Paulson pediu aos banqueiros que ligassem para os conselhos de administração de seus respectivos bancos e que os informassem da decisão. Pediu que voltassem à mesma sala às 18h30.
Quando os banqueiros retornaram, depois de falar pelos corredores do Tesouro com suas matrizes, os documentos onde se comprometeriam a vender as ações ao Tesouro já estavam sobre a mesa. Todos tiveram de assiná-los antes de deixar a sala. (FERNANDO CANZIAN)



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