São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Turbulência já faz cliente renegociar compra de imóvel

Incorporadoras facilitam pagamento de prestações

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Consumidores que adquiriram imóveis de alto padrão na planta e dependiam principalmente de investimentos na Bolsa ou da rentabilidade de seus negócios para quitar as prestações começam a procurar construtoras para revender, trocar ou devolver os bens.
Essa situação não é generalizada, é pontual, mas revela a preocupação de quem comprou uma casa ou um apartamento financiado de não conseguir arcar com o valor das prestações daqui para a frente.
Para evitar que esse temor se alastre e atinja também quem adquiriu imóveis de padrão mais popular, incorporadoras e construtoras estão tomando algumas medidas com o objetivo de tranqüilizar o consumidor, o que significa até deixar de reajustar o imóvel pelo INCC (Índice Nacional da Construção Civil) enquanto o empreendimento estiver em construção.
A Folha apurou com imobiliárias e construtoras que quem quer renegociar imóveis neste momento são principalmente profissionais liberais e pequenos e médios empresários que adquiriram casa ou apartamento na faixa de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões.
"Quem apostou no mercado de ações e viu a Bolsa desabar ficou com medo de assumir altas prestações. A mesma situação ocorre com pequenos e médios empresários que prevêem queda na rentabilidade de suas companhias. Essas pessoas começam a rever a compra de imóveis, mas não é algo generalizado", afirma Emir Martins, consultor que trabalha com imóveis de alto padrão.
A Tecnisa, incorporadora e construtora, que comercializa imóveis de R$ 250 mil a R$ 1 milhão, relata que alguns clientes procuraram a empresa para renegociar os imóveis adquiridos na planta.
"As pessoas estão com medo de perder o emprego e de não poder pagar a prestação do imóvel. Mas são cerca de cinco casos até agora na nossa empresa em uma carteira de cerca de 4.000 clientes. Estamos estudando medidas para que o cliente não desista da compra", diz Fábio Villas Boas, diretor de engenharia da Tecnisa. Entre essas medidas, consta a possibilidade de o cliente ter um seguro e, em caso de perda de emprego, poder postergar o pagamento das prestações.
Há cerca de um mês a Goldfarb optou pela venda sem correção do INCC nas parcelas mensais no período de construção de suas obras, que duram, em média, dois anos.
As parcelas anuais já serão corrigidas. A empresa também se compromete a devolver 100% do valor pago do imóvel (hoje geralmente o consumidor recebe 75% do valor), caso o cliente comprove que não terá mais condição de pagar a propriedade.
Haruo Ishikawa, vice-presidente do SindusCon-SP, diz que quem está revendo a compra de imóveis são os clientes que adquiriram apartamentos na faixa de R$ 1 milhão.
"Esse consumidor pagou R$ 200 mil de entrada do apartamento só que agora tem de pagar cerca de 20 parcelas de R$ 40 mil por mês. Se era investidor da Bolsa, por exemplo, tem agora que repensar essa compra. O fato é que, por causa da crise, vai haver um ajuste no mercado da construção civil."
Os lançamentos de empreendimentos deverão ser revistos para o ano que vem, principalmente devido à restrição ao crédito e ao aumento dos juros. "Os lançamentos de novos empreendimentos na faixa de alto padrão serão segurados por pelo menos dois meses", afirma Eduardo Zaidan, diretor do SindusCon-SP.
A Embraesp, empresa de consultoria especializada no setor imobiliário, estima que neste ano serão lançados 560 empreendimentos com cerca de 60 mil unidades na região metropolitana de São Paulo. "Esse número será menor em 2009", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.
Na sua avaliação, os imóveis na faixa de R$ 600 mil a R$ 1,5 milhão serão os mais afetados neste momento, já que foram adquiridos por consumidores que se aventuraram nos investimentos e agora sofrem conseqüências imprevistas.
Os imóveis na faixa de R$ 300 mil a R$ 600 mil, na sua avaliação, poderão ser afetados na medida em que o crédito fique mais restrito. Os imóveis de até R$ 300 mil já estão mais garantidos, já que, segundo Pompéia, a demanda é maior do que a oferta e existe financiamento da Caixa Econômica Federal e de bancos de até R$ 150 mil. "Esse segmento da construção deve sustentar o mercado imobiliário até que ele se recupere do baque novamente", afirma Pompéia.
A Haruo Ishikawa Engenharia e Construções, que trabalha com imóveis de até R$ 500 mil, diz que não houve ainda procura de clientes para renegociar imóveis. "Isso acontece quando há desemprego no meio do caminho", diz Ishikawa.
Ao mesmo tempo em que alguns clientes revêem a compra de imóveis por conta da crise, outros estão atrás deles como forma de investimento, segundo o consultor Martins. "O que vemos é que muitas pessoas compraram imóveis de alto padrão sem solidez financeira. O que deve ocorrer agora é que as vendas terão mais qualidade e pode voltar para esse mercado o investidor que deseja proteger o investimento", diz.


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