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Turbulência já faz cliente
renegociar compra de imóvel
Incorporadoras facilitam pagamento de prestações
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Consumidores que adquiriram imóveis de alto padrão na
planta e dependiam principalmente de investimentos na
Bolsa ou da rentabilidade de
seus negócios para quitar as
prestações começam a procurar construtoras para revender,
trocar ou devolver os bens.
Essa situação não é generalizada, é pontual, mas revela a
preocupação de quem comprou uma casa ou um apartamento financiado de não conseguir arcar com o valor das
prestações daqui para a frente.
Para evitar que esse temor se
alastre e atinja também quem
adquiriu imóveis de padrão
mais popular, incorporadoras e
construtoras estão tomando algumas medidas com o objetivo
de tranqüilizar o consumidor, o
que significa até deixar de reajustar o imóvel pelo INCC (Índice Nacional da Construção
Civil) enquanto o empreendimento estiver em construção.
A Folha apurou com imobiliárias e construtoras que
quem quer renegociar imóveis
neste momento são principalmente profissionais liberais e
pequenos e médios empresários que adquiriram casa ou
apartamento na faixa de R$ 1
milhão a R$ 2 milhões.
"Quem apostou no mercado
de ações e viu a Bolsa desabar
ficou com medo de assumir altas prestações. A mesma situação ocorre com pequenos e
médios empresários que prevêem queda na rentabilidade
de suas companhias. Essas pessoas começam a rever a compra de imóveis, mas não é algo
generalizado", afirma Emir
Martins, consultor que trabalha com imóveis de alto padrão.
A Tecnisa, incorporadora e
construtora, que comercializa
imóveis de R$ 250 mil a R$ 1
milhão, relata que alguns clientes procuraram a empresa para
renegociar os imóveis adquiridos na planta.
"As pessoas estão com medo
de perder o emprego e de não
poder pagar a prestação do
imóvel. Mas são cerca de cinco
casos até agora na nossa empresa em uma carteira de cerca
de 4.000 clientes. Estamos estudando medidas para que o
cliente não desista da compra",
diz Fábio Villas Boas, diretor
de engenharia da Tecnisa. Entre essas medidas, consta a possibilidade de o cliente ter um
seguro e, em caso de perda de
emprego, poder postergar o pagamento das prestações.
Há cerca de um mês a Goldfarb optou pela venda sem correção do INCC nas parcelas
mensais no período de construção de suas obras, que duram, em média, dois anos.
As parcelas anuais já serão
corrigidas. A empresa também
se compromete a devolver
100% do valor pago do imóvel
(hoje geralmente o consumidor recebe 75% do valor), caso
o cliente comprove que não terá mais condição de pagar a
propriedade.
Haruo Ishikawa, vice-presidente do SindusCon-SP, diz
que quem está revendo a compra de imóveis são os clientes
que adquiriram apartamentos
na faixa de R$ 1 milhão.
"Esse consumidor pagou R$
200 mil de entrada do apartamento só que agora tem de pagar cerca de 20 parcelas de R$
40 mil por mês. Se era investidor da Bolsa, por exemplo, tem
agora que repensar essa compra. O fato é que, por causa da
crise, vai haver um ajuste no
mercado da construção civil."
Os lançamentos de empreendimentos deverão ser revistos para o ano que vem,
principalmente devido à restrição ao crédito e ao aumento
dos juros. "Os lançamentos de
novos empreendimentos na
faixa de alto padrão serão segurados por pelo menos dois meses", afirma Eduardo Zaidan,
diretor do SindusCon-SP.
A Embraesp, empresa de
consultoria especializada no
setor imobiliário, estima que
neste ano serão lançados 560
empreendimentos com cerca
de 60 mil unidades na região
metropolitana de São Paulo.
"Esse número será menor em
2009", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.
Na sua avaliação, os imóveis
na faixa de R$ 600 mil a R$ 1,5
milhão serão os mais afetados
neste momento, já que foram
adquiridos por consumidores
que se aventuraram nos investimentos e agora sofrem conseqüências imprevistas.
Os imóveis na faixa de R$
300 mil a R$ 600 mil, na sua
avaliação, poderão ser afetados
na medida em que o crédito fique mais restrito. Os imóveis
de até R$ 300 mil já estão mais
garantidos, já que, segundo
Pompéia, a demanda é maior
do que a oferta e existe financiamento da Caixa Econômica
Federal e de bancos de até R$
150 mil. "Esse segmento da
construção deve sustentar o
mercado imobiliário até que
ele se recupere do baque novamente", afirma Pompéia.
A Haruo Ishikawa Engenharia e Construções, que trabalha
com imóveis de até R$ 500 mil,
diz que não houve ainda procura de clientes para renegociar
imóveis. "Isso acontece quando há desemprego no meio do
caminho", diz Ishikawa.
Ao mesmo tempo em que alguns clientes revêem a compra
de imóveis por conta da crise,
outros estão atrás deles como
forma de investimento, segundo o consultor Martins. "O que
vemos é que muitas pessoas
compraram imóveis de alto padrão sem solidez financeira. O
que deve ocorrer agora é que as
vendas terão mais qualidade e
pode voltar para esse mercado
o investidor que deseja proteger o investimento", diz.
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