São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recuperação econômica demora mais para a classe média

Entre as famílias com renda superior a cinco salários mínimos, os últimos 17 meses trouxeram pequena diminuição do tamanho da classe A/B

DA REPORTAGEM LOCAL

A melhoria das condições econômicas do país ainda não teve reflexos importantes para as famílias mais ricas.
Entre as unidades familiares com renda superior a cinco salários mínimos (mais de R$ 1.900), os últimos 17 meses trouxeram, ao contrário, pequena diminuição do tamanho da classe A/B e leve expansão da C (nessa faixa de renda, o tamanho da D/E é irrelevante).
Entre as famílias com rendimentos mais altos, foi de quatro pontos percentuais, desde meados de 2006, a redução dos participantes da classe A/B.
"A economia está crescendo mais depressa para quem está nas classes D e E, pois a política econômica está focada na redução das desigualdades", diz o economista Antonio Delfim Netto. "Com o crescimento mais robusto que vivenciamos e o controle da inflação, esse processo deve continuar."
O "espalhamento" do crescimento demonstrado pelo PIB, contudo, também pode iniciar processo de recuperação entre a parcela que mais sofreu nos últimos anos: a classe média.
Entre 2000 e 2006, a faixa dos que recebiam mais de três mínimos (R$ 1.140 hoje) perdeu 2 milhões de vagas formais. Já a renda de quem entrou no mercado naquele período ganhando mais de três mínimos caiu 46% ante o que era pago aos que foram demitidos.
Ou seja, houve seis anos de achatamento salarial entre os mais bem remunerados no Brasil. A reversão dessa tendência pode estar a caminho.
"O mais provável é que, persistindo o atual ritmo de expansão da economia, haja um crescente aumento da procura por mão-de-obra mais qualificada e mais bem remunerada. Isso já está acontecendo", afirma o economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que "agora é a vez de a classe média começar a se recuperar".
"Esse processo poderá dar novo ímpeto para a economia, já que os membros da classe média têm poder de compra maior. Aliados à demanda das parcelas mais pobres, o consumo e a produção tendem a ganhar ritmo mais elevado."
Apesar do achatamento recente da classe média e da melhora da situação dos que ganham menos, os dados do Datafolha mostram que as disparidades entre pobres e ricos no Brasil continuam gigantescas.
Entre as famílias que ganham mais de dez mínimos (R$ 3.800), 84% continuam na classe A/B, 13% na C e 2% na D/E. Já entre as que recebem até dois mínimos (R$ 760), só 4% têm bens e consomem produtos que as enquadram na classe A/B. A maior parcela (49%) ainda permanece na classe D/E e outro pedaço grande (45%) está na C. (FERNANDO CANZIAN)


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Quem liga para a dívida?
Próximo Texto: Luiz Gonzaga Belluzzo: O dilema dos bancos centrais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.