São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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Argentina lança pacote de R$ 77 bilhões em obras

"PAC Argentino" deve criar 300 mil empregos no setor de construção, prevê governo

Presidente Cristina Kirchner diz que plano é "o mais ambicioso" da história do país e que poderá evitar uma recessão em 2009


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

O governo da Argentina anunciou ontem megaplano de obras públicas de 111 bilhões de pesos (R$ 77 bilhões), o equivalente a 13% do PIB local, em nova medida para tentar evitar uma recessão em 2009.
Classificado pela presidente Cristina Kirchner como "o plano mais ambicioso" da história do país, prevê investimentos em energia, transporte e habitação. Como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) brasileiro, inclui obras já previstas no Orçamento.
Dos 57 bilhões de pesos a investir em 2009, diz o governo, 12 bilhões (21%) serão financiados pelo BNDES brasileiro, pelo banco Nación (estatal) e pela Anses, o INSS local, que absorveu US$ 30 bilhões em fundos privados de previdência, estatizados em novembro.
"O plano não é uma lista de obras nem produto de improvisação", afirmou Cristina, que prevê criação de 300 mil empregos no setor de construção com o pacote. As medidas estão divididas em obras estruturais (como gasodutos e hidrelétricas, 61% do total), programáticas (estradas, canalizações, 20%) e de ação imediata (pavimentação, moradias, 19%).
O pacote de obras se soma a outras medidas anticrise que Cristina vem anunciando a conta-gotas há um mês, como créditos baratos para consumo, financiamento de carros zero-quilômetro, perdão de dívidas para repatriação de capitais e regularização trabalhista e férias subsidiadas. São, sobretudo, acenos à classe média urbana, que se afastou do governo neste ano durante o conflito com o campo em torno de tarifas sobre exportações de grãos.
Contudo, apenas duas medidas terão impacto direto no bolso dos argentinos -um abono de Natal de R$ 140 para aposentados, e a eliminação da "tablita de Machinea", sistema criado em 2000 para que salários mais altos tivessem menos gastos dedutíveis do Imposto de Renda. O fim do sistema, que implica renúncia fiscal de 1,5 bilhão de pesos por ano, beneficiará 340 mil trabalhadores.

Ameaça de recessão
O pacote é uma tentativa do governo de sustentar um crescimento do PIB de 3% a 4% em 2009. Estimativas privadas pessimistas antecipam recessão no país no próximo ano, que seria a primeira desde a crise de 2001-2002. O PIB do país cresce a uma média anual de 8,8% desde 2003, embalado pelos altos preços de commodities que sustentaram superávits fiscal e comercial.
Isolada dos mercados financeiros internacionais desde o calote de sua dívida, em 2001, a Argentina parecia blindada ante a crise mundial. No entanto, diz Mariano Lamothe, economista-chefe da consultora Abeceb, a derrocada global reforçou problemas internos como perda de competitividade e desconfiança de investidores.
A crise mundial também abortou planos de uma "virada ortodoxa" que o governo ameaçava na condução da economia, com anúncios de pagamentos a credores e um manejo mais transparente da inflação.
O que se viu desde então foi o "plano B" de Cristina, com medidas como a estatização da previdência privada, restrições a importações e estímulos ao mercado interno.


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