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LEITE DERRAMADO
Foram transferidos recursos para Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; há dívida em Goiás
Parmalat paga fornecedor em 3 Estados
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A Parmalat transferiu ontem recursos para os bancos onde seus
fornecedores têm conta para quitar dívidas em aberto com cooperativas de leite em vários Estados.
Receberam os recursos produtores do Rio de Janeiro, Rio Grande
do Sul e Pernambuco, num total
de R$ 25,4 milhões.
Mas a empresa ainda não pagou
o que deve às empresas que pediram a falência do grupo.
Mais do que isso: ontem, a direção de suprimentos da Parmalat
informou essas companhias que
não pretende pagar o que deve
neste momento por temer um
"efeito dominó" no mercado.
Se a multinacional paga o valor
devido para aqueles que pediram
a falência, outras fornecedoras
podem correr à Justiça para tentar
receber os recursos de pagamentos em atraso também.
Na conta, mas não liberado
No Rio, o valor depositado nos
bancos das 11 cooperativas foi de
R$ 6,7 milhões. Até as 18h de ontem, no entanto, representantes
dos produtores informaram que
o dinheiro não havia sido liberado
para a conta corrente dos fornecedores. A Faerj (Federação de
Agricultura do Estado do Rio de
Janeiro) admitiu que essa demora
é normal e faz parte do procedimento bancário.
A Parmalat ainda tem uma dívida de R$ 6 milhões com produtores de leite de Goiás, que deveria
ter sido paga ontem. Segundo a
empresa, o pagamento vai depender de negociações com bancos
para reabrir linhas de crédito.
Cerca de R$ 3 milhões -de um
depósito de aproximadamente R$
13 milhões feito no Banco do Brasil pela Parmalat para pagar aos
produtores- foi retido ontem
pelo banco para quitar outros débitos da empresa.
Porém, segundo a Parmalat, os
produtores que ficaram sem receber vão ter o pagamento realizado
na segunda-feira, pois varejistas
que compram da empresa depositaram recursos ontem.
"Para mim, havia 80% de chance de a Parmalat entrar em concordata", disse o presidente da
Faerj, Rodolfo Tavares. Ele acrescentou que as cooperativas continuarão a fornecer leite à Parmalat.
As 11 cooperativas do Rio se
reúnem hoje, em Itaperuna (a 356
km do Rio), onde está localizada
uma das fábricas da Parmalat, para discutir alternativas para o setor. A principal é a compra da
unidade de processamento de leite de Itaperuna ou a construção
de uma nova fábrica, com apoio
financeiro do BNDES, o banco de
fomento do governo.
No noroeste fluminense, cerca
de 42 mil pessoas dependem direta ou indiretamente da venda da
produção leiteira à multinacional
italiana. Cerca de 80% da produção da região é vendida ao grupo.
"Efeito dominó"
A empresa pagou as cooperativas, mas, por outro lado, já informou que não pretende quitar
agora os débitos com as empresas
que pediram a falência do grupo.
A Italplast Embalagens Plásticas, por exemplo, que, como a Folha antecipou ontem, pediu a falência da Parmalat, tem a receber
R$ 14.773,50 da multinacional. A
Parmalat decidiu não pagar o débito e, com isso, retirar o título
protestado da praça, conforme
envolvidos no processo informaram à reportagem.
A Italplast vendeu embalagens
flexíveis para a empresa em novembro do ano passado, mas não
recebeu pela operação.
Da mesma forma, a Parmalat já
avisou uma outra fornecedora
chamada Orlândia S.A. -que
também pediu a falência da empresa nesta semana- que não
deve pagar a dívida neste momento. A Orlândia tem quatro fábricas e produz gordura vegetal. A
Parmalat deve a ela R$ 62 mil.
Segundo a área jurídica da Orlândia, a diretoria financeira da
Parmalat ligou ontem pela manhã
para a fornecedora e informou
que o pagamento seria feito. Mas,
à noite, a diretoria de suprimentos fez um novo contato e disse
que não quitariam a pendência.
A razão: o temor de uma disparada no volume de requerimentos
de falência contra a empresa, apurou a Folha. Se a empresa paga,
outros fornecedores podem pedir
a falência para forçarem o pagamento também.
Essas companhias nada mais
podem fazer para tentar receber
os recursos, segundo informam
advogados. A Parmalat ainda precisa ser citada (informada oficialmente) dos pedidos de falência e
então é aberto um processo de negociação.
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