São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Foram transferidos recursos para Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; há dívida em Goiás

Parmalat paga fornecedor em 3 Estados

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A Parmalat transferiu ontem recursos para os bancos onde seus fornecedores têm conta para quitar dívidas em aberto com cooperativas de leite em vários Estados. Receberam os recursos produtores do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco, num total de R$ 25,4 milhões.
Mas a empresa ainda não pagou o que deve às empresas que pediram a falência do grupo.
Mais do que isso: ontem, a direção de suprimentos da Parmalat informou essas companhias que não pretende pagar o que deve neste momento por temer um "efeito dominó" no mercado.
Se a multinacional paga o valor devido para aqueles que pediram a falência, outras fornecedoras podem correr à Justiça para tentar receber os recursos de pagamentos em atraso também.

Na conta, mas não liberado
No Rio, o valor depositado nos bancos das 11 cooperativas foi de R$ 6,7 milhões. Até as 18h de ontem, no entanto, representantes dos produtores informaram que o dinheiro não havia sido liberado para a conta corrente dos fornecedores. A Faerj (Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro) admitiu que essa demora é normal e faz parte do procedimento bancário.
A Parmalat ainda tem uma dívida de R$ 6 milhões com produtores de leite de Goiás, que deveria ter sido paga ontem. Segundo a empresa, o pagamento vai depender de negociações com bancos para reabrir linhas de crédito.
Cerca de R$ 3 milhões -de um depósito de aproximadamente R$ 13 milhões feito no Banco do Brasil pela Parmalat para pagar aos produtores- foi retido ontem pelo banco para quitar outros débitos da empresa.
Porém, segundo a Parmalat, os produtores que ficaram sem receber vão ter o pagamento realizado na segunda-feira, pois varejistas que compram da empresa depositaram recursos ontem.
"Para mim, havia 80% de chance de a Parmalat entrar em concordata", disse o presidente da Faerj, Rodolfo Tavares. Ele acrescentou que as cooperativas continuarão a fornecer leite à Parmalat.
As 11 cooperativas do Rio se reúnem hoje, em Itaperuna (a 356 km do Rio), onde está localizada uma das fábricas da Parmalat, para discutir alternativas para o setor. A principal é a compra da unidade de processamento de leite de Itaperuna ou a construção de uma nova fábrica, com apoio financeiro do BNDES, o banco de fomento do governo.
No noroeste fluminense, cerca de 42 mil pessoas dependem direta ou indiretamente da venda da produção leiteira à multinacional italiana. Cerca de 80% da produção da região é vendida ao grupo.

"Efeito dominó"
A empresa pagou as cooperativas, mas, por outro lado, já informou que não pretende quitar agora os débitos com as empresas que pediram a falência do grupo.
A Italplast Embalagens Plásticas, por exemplo, que, como a Folha antecipou ontem, pediu a falência da Parmalat, tem a receber R$ 14.773,50 da multinacional. A Parmalat decidiu não pagar o débito e, com isso, retirar o título protestado da praça, conforme envolvidos no processo informaram à reportagem.
A Italplast vendeu embalagens flexíveis para a empresa em novembro do ano passado, mas não recebeu pela operação.
Da mesma forma, a Parmalat já avisou uma outra fornecedora chamada Orlândia S.A. -que também pediu a falência da empresa nesta semana- que não deve pagar a dívida neste momento. A Orlândia tem quatro fábricas e produz gordura vegetal. A Parmalat deve a ela R$ 62 mil.
Segundo a área jurídica da Orlândia, a diretoria financeira da Parmalat ligou ontem pela manhã para a fornecedora e informou que o pagamento seria feito. Mas, à noite, a diretoria de suprimentos fez um novo contato e disse que não quitariam a pendência.
A razão: o temor de uma disparada no volume de requerimentos de falência contra a empresa, apurou a Folha. Se a empresa paga, outros fornecedores podem pedir a falência para forçarem o pagamento também.
Essas companhias nada mais podem fazer para tentar receber os recursos, segundo informam advogados. A Parmalat ainda precisa ser citada (informada oficialmente) dos pedidos de falência e então é aberto um processo de negociação.


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