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COMBUSTÍVEL
Litro cai de R$ 1,108 em 2003 para até R$ 0,35 na semana passada; valor não cobre nem o custo de produção
Preços do álcool têm forte queda em SP
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os preços do álcool combustível
pagos aos produtores despencaram nas últimas semanas e registraram os menores valores dos últimos quatro anos. O mercado vive uma guerra de preços.
O cenário deste ano é completamente diferente do de 2003, quando o próprio setor sucroalcooleiro estudava meios para evitar
uma possível quebra no fornecimento do produto. Assim, em
2003 foi acertada a antecipação da
colheita, o que melhorou a oferta.
As preocupações mudaram de
lado neste ano. No início de 2003,
o usuário de carro a álcool pagava
caro pelo combustível e temia
uma possível quebra no fornecimento. Neste ano, há excesso de
oferta e os produtores, pelo menos nesta reta final de safra, recebem valores inferiores aos custos
de produção.
Os números ilustram bem esse
cenário. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada) da Esalq-USP (Escola
Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, da Universidade de São
Paulo), faz um acompanhamento
semanal dos preços do álcool nas
usinas paulistas.
Em fevereiro do ano passado, o
litro de álcool anidro era comercializado a R$ 1,108 na porta da
usina (preço à vista, sem impostos). Na semana passada, o preço
caiu para R$ 0,427.
Esse preço representa a média
da semana. Segundo a Unica
(União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), após iniciar a
semana em R$ 0,50, o litro foi negociado, em média, a R$ 0,38 na
sexta-feira. Alguns negócios, no
entanto, foram feitos por R$ 0,35.
Antônio de Pádua Rodrigues,
diretor técnico da Unica, diz que
esses valores não pagam nem os
custos da produção da tonelada
de cana na roça. Uma tonelada de
cana rende 90 litros de álcool que,
a R$ 0,35, somam R$ 31,50. O custo de produção é de R$ 40 por tonelada, acrescenta Rodrigues.
O início do ano passado foi um
período atípico, de preços altos.
Por isso, a queda dos preços é tão
forte quando é feita a comparação
entre um ano e outro. Mas, mesmo comparados com fevereiro de
2001 (R$ 0,70) e de 2002 (R$ 0,62),
os preços mostram forte queda.
Mirian Bacchi, professora da
USP, diz que esses são os mais
baixos valores do período desde
que o Cepea iniciou o acompanhamento do setor, em julho de
2000. "Os preços caíram tanto que
já se aproximam dos de 1999."
Estoques de passagem
A queda de preços tem vários
motivos, puxados por um só: os
estoques de passagem. No final de
abril, quando termina a safra, as
usinas ainda deverão ter 1,3 bilhão de litros de álcool. Esse estoque fica pouco acima do consumo
de um mês, que é de 1 bilhão de litros. Mas esse volume de álcool
vai se somar aos da nova safra,
que será boa e terá início nos próximos meses.
Os estoques estão elevados porque houve uma safra nacional recorde, de 14 bilhões de litros, e
uma redução no ritmo de consumo dos combustíveis devido à desaceleração da economia e à perda de renda dos consumidores.
A política de compra das distribuidoras, diante desses estoques
elevados, ajuda a derrubar ainda
mais os preços, segundo os usineiros. Com forte poder de fogo,
já que apenas seis delas são responsáveis por 70% das compras
do mercado, as distribuidoras
adotaram a tática da "mão para a
boca". Compram sempre em pequenas quantidades e adiam ao
máximo as novas compras, à espera de que os preços caiam mais.
Os desacertos ocorreram também entre os produtores. Capitalizados, devido aos bons preços
dos últimos anos, queriam manter certa regularidade na desova
dos estoques. A antecipação de
vendas das usinas independentes
(não ligadas a grandes grupos),
no entanto, forçou os grandes
grupos a desovar volumes maiores nesta reta final de safra. Resultado: os preços desabaram.
Para alguns, essa queda pode
significar um acerto de preços no
segundo semestre deste ano, já
que esses estoques elevados serão
queimados agora.
Para o consumidor, essas quedas bruscas não são interessantes
porque a redução de preços na
usina é incorporada em ritmo
bem mais lento nas bombas, o
que não acontece na alta, quando
o ritmo de acerto é rápido.
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