São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMBUSTÍVEL

Litro cai de R$ 1,108 em 2003 para até R$ 0,35 na semana passada; valor não cobre nem o custo de produção

Preços do álcool têm forte queda em SP

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os preços do álcool combustível pagos aos produtores despencaram nas últimas semanas e registraram os menores valores dos últimos quatro anos. O mercado vive uma guerra de preços.
O cenário deste ano é completamente diferente do de 2003, quando o próprio setor sucroalcooleiro estudava meios para evitar uma possível quebra no fornecimento do produto. Assim, em 2003 foi acertada a antecipação da colheita, o que melhorou a oferta.
As preocupações mudaram de lado neste ano. No início de 2003, o usuário de carro a álcool pagava caro pelo combustível e temia uma possível quebra no fornecimento. Neste ano, há excesso de oferta e os produtores, pelo menos nesta reta final de safra, recebem valores inferiores aos custos de produção.
Os números ilustram bem esse cenário. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo), faz um acompanhamento semanal dos preços do álcool nas usinas paulistas.
Em fevereiro do ano passado, o litro de álcool anidro era comercializado a R$ 1,108 na porta da usina (preço à vista, sem impostos). Na semana passada, o preço caiu para R$ 0,427.
Esse preço representa a média da semana. Segundo a Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), após iniciar a semana em R$ 0,50, o litro foi negociado, em média, a R$ 0,38 na sexta-feira. Alguns negócios, no entanto, foram feitos por R$ 0,35.
Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, diz que esses valores não pagam nem os custos da produção da tonelada de cana na roça. Uma tonelada de cana rende 90 litros de álcool que, a R$ 0,35, somam R$ 31,50. O custo de produção é de R$ 40 por tonelada, acrescenta Rodrigues.
O início do ano passado foi um período atípico, de preços altos. Por isso, a queda dos preços é tão forte quando é feita a comparação entre um ano e outro. Mas, mesmo comparados com fevereiro de 2001 (R$ 0,70) e de 2002 (R$ 0,62), os preços mostram forte queda.
Mirian Bacchi, professora da USP, diz que esses são os mais baixos valores do período desde que o Cepea iniciou o acompanhamento do setor, em julho de 2000. "Os preços caíram tanto que já se aproximam dos de 1999."

Estoques de passagem
A queda de preços tem vários motivos, puxados por um só: os estoques de passagem. No final de abril, quando termina a safra, as usinas ainda deverão ter 1,3 bilhão de litros de álcool. Esse estoque fica pouco acima do consumo de um mês, que é de 1 bilhão de litros. Mas esse volume de álcool vai se somar aos da nova safra, que será boa e terá início nos próximos meses.
Os estoques estão elevados porque houve uma safra nacional recorde, de 14 bilhões de litros, e uma redução no ritmo de consumo dos combustíveis devido à desaceleração da economia e à perda de renda dos consumidores.
A política de compra das distribuidoras, diante desses estoques elevados, ajuda a derrubar ainda mais os preços, segundo os usineiros. Com forte poder de fogo, já que apenas seis delas são responsáveis por 70% das compras do mercado, as distribuidoras adotaram a tática da "mão para a boca". Compram sempre em pequenas quantidades e adiam ao máximo as novas compras, à espera de que os preços caiam mais.
Os desacertos ocorreram também entre os produtores. Capitalizados, devido aos bons preços dos últimos anos, queriam manter certa regularidade na desova dos estoques. A antecipação de vendas das usinas independentes (não ligadas a grandes grupos), no entanto, forçou os grandes grupos a desovar volumes maiores nesta reta final de safra. Resultado: os preços desabaram.
Para alguns, essa queda pode significar um acerto de preços no segundo semestre deste ano, já que esses estoques elevados serão queimados agora.
Para o consumidor, essas quedas bruscas não são interessantes porque a redução de preços na usina é incorporada em ritmo bem mais lento nas bombas, o que não acontece na alta, quando o ritmo de acerto é rápido.


Texto Anterior: Mercado financeiro: Medo de CPI e votação fazem Bovespa cair
Próximo Texto: Suínos: Suinocultores fazem dejetos dos porcos virarem fonte energética
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.