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Álcool provoca impasse entre Brasil e Venezuela
Brasileiros tentam impedir críticas a biocombustível em documento final de cúpula
Governo Chávez pressiona por texto em que países classificam expansão do álcool como uma ameaça
à "segurança alimentar"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À ISLA DE
MARGARITA
As divergências entre o Brasil e a Venezuela em torno dos
biocombustíveis durante a Primeira Cúpula Energética da
Comunidade Sul-Americana
de Nações provocaram um
imenso impasse na elaboração
do documento final do encontro, segundo fontes diplomáticas. O texto, que deveria estar
pronto ontem de manhã, continuava sendo discutido durante
a noite pelos ministros de
Energia e não estava fechado
até o fechamento desta edição.
Ontem à noite, todos os demais países haviam aceitado
uma versão intermediária sobre biocombustíveis, com a exceção de Brasil e Venezuela, segundo apurou a Folha. A Venezuela, do presidente Hugo Chávez, propôs que o documento
afirmasse que se trata de ameaça potencial à "segurança alimentar" e à agricultura.
O Brasil discordou dessa formulação e disse que seria admitir uma visão errada sobre o
álcool. Para o governo Lula, é
possível, por exemplo, aumentar a produção de álcool com
áreas de pastagens de gado
atualmente subutilizadas.
De acordo com um membro
da comitiva brasileira, o atraso
também se deve ao fato de que
a Venezuela e a Bolívia quiseram introduzir na última hora
novos parágrafos no texto preliminar, elaborado em duas
reuniões preparatórias e que já
estava pré-aprovado por todos
os demais países anteontem.
A reunião entre os ministros
de Energia foi interrompida às
21h locais para novas consultas
e seria retomada mais tarde. A
expectativa era que as discussões prosseguissem madrugada adentro. De acordo com
uma fonte do governo brasileiro, havia até o risco de a cúpula
sul-americana terminar sem
um documento final.
Para um membro da comitiva do governo boliviano, que de
início apoiou a proposta venezuelana, esta é a cúpula mais
difícil das que o presidente Evo
Morales participou desde que
tomou posse, em janeiro do
ano passado.
À tarde, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio
Garcia, disse que o Brasil havia
bloqueado a proposta de "alguns países" para incluir no documento final a afirmação de
que os biocombustíveis ameaçam a produção de alimentos.
Segundo Garcia, o documento
final faria "menção a todos os
combustíveis, porque petróleo
de preço alto compromete a
produção de alimentos".
O uso do álcool tem sofrido
críticas de Chávez depois da visita do presidente americano,
George W. Bush, à América Latina. Na semana passada, Chávez prometeu "derrotar" o álcool na região.
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