São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

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Álcool provoca impasse entre Brasil e Venezuela

Brasileiros tentam impedir críticas a biocombustível em documento final de cúpula

Governo Chávez pressiona por texto em que países classificam expansão do álcool como uma ameaça à "segurança alimentar"

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À ISLA DE MARGARITA

As divergências entre o Brasil e a Venezuela em torno dos biocombustíveis durante a Primeira Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações provocaram um imenso impasse na elaboração do documento final do encontro, segundo fontes diplomáticas. O texto, que deveria estar pronto ontem de manhã, continuava sendo discutido durante a noite pelos ministros de Energia e não estava fechado até o fechamento desta edição.
Ontem à noite, todos os demais países haviam aceitado uma versão intermediária sobre biocombustíveis, com a exceção de Brasil e Venezuela, segundo apurou a Folha. A Venezuela, do presidente Hugo Chávez, propôs que o documento afirmasse que se trata de ameaça potencial à "segurança alimentar" e à agricultura.
O Brasil discordou dessa formulação e disse que seria admitir uma visão errada sobre o álcool. Para o governo Lula, é possível, por exemplo, aumentar a produção de álcool com áreas de pastagens de gado atualmente subutilizadas.
De acordo com um membro da comitiva brasileira, o atraso também se deve ao fato de que a Venezuela e a Bolívia quiseram introduzir na última hora novos parágrafos no texto preliminar, elaborado em duas reuniões preparatórias e que já estava pré-aprovado por todos os demais países anteontem.
A reunião entre os ministros de Energia foi interrompida às 21h locais para novas consultas e seria retomada mais tarde. A expectativa era que as discussões prosseguissem madrugada adentro. De acordo com uma fonte do governo brasileiro, havia até o risco de a cúpula sul-americana terminar sem um documento final.
Para um membro da comitiva do governo boliviano, que de início apoiou a proposta venezuelana, esta é a cúpula mais difícil das que o presidente Evo Morales participou desde que tomou posse, em janeiro do ano passado.
À tarde, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que o Brasil havia bloqueado a proposta de "alguns países" para incluir no documento final a afirmação de que os biocombustíveis ameaçam a produção de alimentos. Segundo Garcia, o documento final faria "menção a todos os combustíveis, porque petróleo de preço alto compromete a produção de alimentos".
O uso do álcool tem sofrido críticas de Chávez depois da visita do presidente americano, George W. Bush, à América Latina. Na semana passada, Chávez prometeu "derrotar" o álcool na região.


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