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BENJAMIN STEINBRUCH
Marketing de fora pra dentro
No exterior, o Brasil parece ser, neste momento,
mais bem avaliado do que o é internamente
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FOLHEIO O caderno "Fim de Semana" do "Financial Times"
de 7 deste mês. Lá está um
longo relato de uma conversa do editor de economia do jornal, Chris Giles, com o professor Jeffrey Sachs, da Universidade Columbia.
O tema da conversa com o famoso
economista é a economia mundial.
Mas Sachs prefere começar falando
da América Latina e do Brasil. Vale a
pena transcrever o que ele disse: "A
América Latina está fazendo muito
mais do que se poderia imaginar. Eu
sou otimista sobre o Brasil. E se você
olha o mapa, sendo otimista com o
Brasil isso já é meio caminho para
ser otimista com toda a América Latina. Não perco muito sono com a
América Latina -é pacífica, não sofre com o terrorismo, é democrática
e tem feito grandes avanços na área
do desenvolvimento humano. Aquilo que foi extremamente iníquo e
uma sociedade dividida está se tornando lentamente mais igualitário.
Mesmo a profunda divisão étnica e
racial está sendo melhorada por
meio de políticas democráticas".
Talvez Sachs esteja exagerando ao
mencionar a influência do Brasil no
cenário latino-americano. Talvez
esteja se fixando muito numa visão
geográfica, olhando o mapa e o tamanho do território brasileiro, sem
dar a importância devida ao avanço
do populismo nos países vizinhos.
Mas, seguramente, não é só isso.
Lá fora, o Brasil parece ser, neste
momento, mais bem avaliado do
que o é internamente. Na semana
passada, o diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional),
Rodrigo Rato, previu que o Brasil
deve ser elevado à categoria de "grau
de investimento" em breve. Isso não
é pouco. Significa que o país, aos
olhos do mercado, atingiu um nível
em que praticamente não oferece
mais riscos aos investidores internacionais. Está livre, finalmente, da
pecha de caloteiro que o acompanha
desde a desastrada moratória dos
anos 1980.
Na "The Economist" desta semana, há o que a publicação chama de
"Survey", uma ampla e longa reportagem de avaliação sobre o Brasil. A
revista não é complacente. Faz críticas à deficiente infra-estrutura que
obriga 80% das cargas a chegar aos
portos de caminhão; à insegurança
geral da população, aterrorizada por
bandidos que dão instruções de dentro dos presídios; à educação deficiente, que privilegia a quantidade
de estudantes -e não a qualidade do
ensino; e à legislação trabalhista antiquada, copiada da Itália fascista de
Mussolini.
Apesar dessas críticas, a revista
sustenta que o Brasil de Fernando
Henrique Cardoso e de Luiz Inácio
Lula da Silva forjou um "milagre
econômico diferente": inflação baixa; superávit comercial elevado, na
casa de US$ 45 bilhões por ano; reservas acima de US$ 110 bilhões, que
tornaram o governo credor internacional; melhor distribuição de renda
dos últimos 25 anos; e democracia
real, a mais sólida entre os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).
Às qualidades econômico-sociais
soma-se agora o novo atributo brasileiro: a liderança mundial em combustíveis alternativos, como etanol e biodiesel, que ajudam a compor a
imagem de país credor em matéria
ambiental. A floresta amazônica,
outro atributo, adquiriu potencial
de valor estimável -talvez em dezenas de trilhões de dólares- depois
que o mundo acordou para os riscos
do aquecimento global. Um terceiro
atributo diz respeito à paz mundial:
o Brasil é o único entre os Bric que
não tem bomba nuclear.
Internamente, talvez pela vergonha de ufanismos do passado recente, não há uma percepção muito clara das oportunidades que se apresentam para o país no atual cenário
mundial. O marketing brasileiro está sendo feito mais de fora pra dentro do que de dentro pra fora.
Temos a obrigação de combater
políticas equivocadas que, a despeito de todas as condições atuais favoráveis, mantêm o baixo crescimento da produção, ameaçam a continuidade dos superávits nas contas externas e impedem o país de se alinhar com os demais emergentes em
matéria de expansão econômica.
Não podemos aceitar, por exemplo,
a absurda carga tributária que inviabiliza negócios enquanto o setor público gasta descontroladamente.
Mas daí a olhar o próprio país com
desesperança vai uma grande distância. Principalmente quando, lá
de fora, às vésperas dos 507 anos do
Descobrimento, ele é visto com tanta curiosidade e cobiça. Independentemente de escolhas políticas ou
ideológicas, é preciso dar valor ao
que tem valor.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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