São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

A "conta petróleo", versão 2008


Produção de gás cresce, mas Petrobras ainda está longe da meta para petróleo deste ano, o que piora a balança

UMA DÚVIDA GRANDE a respeito do tamanho do saldo comercial brasileiro deste ano deriva das incertezas a respeito de produção e preços de petróleo e combustíveis, além do ritmo do consumo de derivados de uso industrial.
Segundo os dados agregados pela Funcex, o déficit da balança de combustíveis subiu de US$ 3,168 bilhões em 2006 para US$ 5,69 bilhões em 2007. Nos 12 meses corridos até março deste ano, o déficit foi a US$ 7,5 bilhões. O déficit extra nos combustíveis equivale a quase um terço da redução do superávit total do país entre o final de 2006 e março deste ano (no acumulado em 12 meses).
O valor da exportação de combustíveis subiu razoáveis 21%, mas a importação cresceu 33% em 2007. Nem dá para dizer que houve uma deterioração geral dos termos de troca em petróleo e combustíveis -isto é, que o preço dos produtos exportados tenha caído, e o dos importados subido. No caso de óleo bruto, o grosso da importação nessa área, a vantagem de preço foi para o produto brasileiro, segundo estatísticas do Ministério do Desenvolvimento sobre preços médios. No caso de óleos combustíveis, os importados ficaram algo mais caros que os exportados (23% contra 18%). Enfim, o "déficit Petrobras" (afora BR) em 2007 foi o maior em quatro anos.
A produção doméstica de gás e petróleo da estatal caiu 0,5% de 2006 para 2007. A média do primeiro trimestre de 2008 melhorou um pouco, mas basicamente pelo bom resultado no gás (alta de 11,5% em relação à média do ano passado).
Ontem, a Petrobras anunciou resultados ainda claudicantes na produção de petróleo em março. Para este ano, o plano da estatal é produzir 2 milhões de barris de petróleo por dia, no Brasil, mas a média de 2008 ainda está em 1,815 milhão. A empresa diz que continuam seus problemas com plataformas. Quatro novas plataformas no mar do Rio e uma no Espírito Santo podem agregar mais 500 mil barris diários à produção, mas nem tudo neste ano.
O problema da balança não está, claro, apenas em óleos brutos e combustíveis, mas em derivados que são insumos industriais (nafta), para não falar de fertilizantes, cujo preço depende muito de petróleo. Nesses dois últimos casos, a escassa capacidade produtiva nacional (ou mesmo sua inexistência), a maturação lenta de novos projetos e os impostos que prejudicam investimentos no setor não auguram boas perspectivas comerciais, caso o país ainda cresça.
Outro grande fator do aumento de importações é o grupo "máquinas e equipamentos", o que é em geral positivo e em parte inevitável, quando não desejável. Não vai se remediar a coisa por esse lado. Dadas as boas possibilidades do país na área de petróleo, o contrapeso comercial deveria vir daí. Porém, o que nos anos 1970 e 1980 se chamava com pesar de "conta petróleo" voltou a pesar.
Desde 1993, as compras de combustíveis não chegavam a 17% do total de importações, como agora.
A "Economist Intelligence Unit" previa ontem que o preço do petróleo em 2008 será em média 25% maior que em 2007. As variações relativas nos demais subprodutos são dificílimas de estimar. Mas um esforço na área de petróleo "nu e cru" e combustíveis poderia ajudar a remendar a balança deste ano.

vinit@uol.com.br


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