São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Derivados do trigo terão reajuste de até 15%

Após subir 20% nos últimos 12 meses até março, pão deve ter aumento de mais 12%; massas e biscoitos também ficam mais caros

Para compensar a alta dos preços no mercado externo, cadeia quer mudanças nas políticas de importações e tarifárias


Vera Gonçalves - 8.mar.07/Folha Imagem
Funcionária vende pães em padaria da capital paulista; produto subiu 20% nos últimos 12 meses

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A forte alta das commodities no mercado externo faz a primeira vítima no país: a cadeia do trigo. A ausência do trigo argentino no mercado brasileiro, as travas tarifárias nas importações de países fora do Mercosul, a insuficiência brasileira na produção e os preços recordes no mercado externo espalham problemas pelas indústrias de moagem, de massas e de panificação. Na ponta final, o consumidor não fica isento -e paga mais pelo produto.
A demanda mundial por trigo cresceu, houve quebra de safras em alguns dos principais produtores mundiais e os estoques são os menores das últimas décadas. O resultado final para o país, que importa 70% do trigo que consome, é a maior crise do setor nos últimos 20 anos.
Os preços do trigo dobraram no mercado externo, o que exige o dobro do fluxo de caixa para os moinhos brasileiros obterem o mesmo volume de produto importado. Com isso, pequenos moinhos começam a paralisar suas atividades, segundo Luiz Martins, presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).
Os preços elevados da matéria-prima, que só no primeiro bimestre deste ano já superam em 53,4% os de 2007, forçaram o repasse de 23,1% na farinha e na mistura neste ano.
O consumidor não ficou imune. Nos últimos 12 meses até março, o pão francês subiu 20%; as massas, 25%; e as bolachas e biscoitos, 21%, segundo entidades do setor.
Os aumentos não terminam por aí. A partir deste mês os consumidores recebem reajustes de 12% no pão e de 10% a 15% nas massas e biscoitos.
Apesar desse cenário de dificuldades, não vai faltar trigo, porque as indústrias vão buscar o produto onde tiver, mas seguramente os consumidores vão pagar mais, afirma Martins.

Exigências
Para aliviar a situação de moinhos, indústrias processadoras e o bolso dos consumidores, a cadeia produtiva vai encaminhar uma série de sugestões ao governo.
Um dos pedidos é a liberação da TEC (Tarifa Externa Comum) para importações de 4 milhões de toneladas de trigo de países fora do Mercosul. O governo liberou apenas 1 milhão no início do ano. Essa medida representaria redução de 10% nos valores da matéria-prima importada.
O setor quer, ainda, a suspensão temporária da taxa de 25% do AFRMM (Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante), recolhida sobre o volume transportado. O setor pede, também, a inclusão dos derivados de trigo no projeto de reforma tributária, isentado-os de tarifas federais, o que poderia aliviar em 12% os preços.
Quer, ainda, mesmo que emergencialmente, a desoneração do ICMS sobre o trigo e derivados, taxa que pode representar até 36% para o consumidor final em alguns Estados.
Finalmente, a cadeia do trigo pede uma política de fomento e apoio à triticultura nacional, para reduzir a dependência do país às importações. Para Martins, "falta vontade política para resolver o problema do trigo no país".
Quanto ao último item, em entrevista à Folha na semana passada, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que o trigo será uma das prioridades do país no próximo Plano de Safra. Relegado a segundo plano há algumas décadas, o trigo terá uma política de incentivo que deve gerar avanço de 50% na produção deste ano, segundo o ministro.
Alexandre Pereira Silva, presidente da Abip (Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria), diz que essas medidas são necessárias até para garantir os esforços que o setor vem desenvolvendo nos últimos anos para elevar o consumo de derivados de trigo.
Claudio Zanão, diretor-presidente da Abima (Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias), diz que o aumento de preços preocupa porque a indústria é obrigada a repassar os custos e, com isso, pode perder consumidores. Dentro dos próximos três anos, os estoques não serão recompostos. Isso dará sustentação aos preços, embora não nos níveis recordes atuais.
Sobre a adição de outras farinhas à de trigo, o setor diz que não é contra, desde que não seja obrigatória. No setor de bolachas e biscoitos, por exemplo, as máquinas não aceitam a mistura durante o processo de produção, segundo José Reis, da Anib (Associação Nacional das Indústrias de Biscoitos).

Resguardo
Na avaliação do presidente da FecoAgro/RS, Rui Polidoro Pinto, "a TEC é um resguardo para o produtor". Ele acredita que não há necessidade de novas liberações. Primeiro, os moinhos devem trazer para dentro do país o 1 milhão já liberado, verificar quanto trigo mais vem da Argentina e consumir os estoques restantes do Paraná e do Rio Grande do Sul. Se esse trigo não for suficiente, o setor volta a se reunir e define novas cotas, afirma ele.


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