São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Dólar faz mercado ver juro menor

Nova queda da moeda faz juro futuro recuar; taxa alta ajuda a atrair capital externo e valoriza real

Otimismo com avaliação melhor da dívida brasileira gera recorde na Bolsa e no risco-país, dificultando ação do BC para segurar dólar

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o dólar comercial romper a barreira de R$ 2,00, o Banco Central apareceu duas vezes no mercado de câmbio ontem, mas não conseguiu impedir que a moeda dos EUA recuasse mais 1,46% e fechasse o dia a R$ 1,954, o menor valor desde 16 de janeiro de 2001.
A ação do BC foi dificultada por uma notícia boa para a economia, que atrai mais dólares ao país: a melhora na avaliação da dívida brasileira, feita pela agência dos EUA Standard & Poor"s. O resultado foi uma queda do risco-país para 148 pontos, o menor da história, e novo recorde na Bovespa, que subiu 2,41%.
A expectativa é que o dólar recue ainda mais nos próximos dias até encontrar um novo ponto de equilíbrio, entre R$ 1,90 e R$ 2,00.
Criticado na véspera por ter abandonado o câmbio, o BC voltou a intervir no mercado oferendo, às 12h24, US$ 1 bilhão em títulos públicos que trocam o rendimento cambial por juros. A sede toi tamanha que em meia hora vendeu todos os contratos e até conseguiu levar a cotação do dólar, de R$ 1,95 para R$ 1,97.
O efeito durou pouco mais de duas horas. Às 15h07, a agência de classificação de riscos Standard & Poor's informou que havia elevado a avaliação de risco da dívida brasileira, provocando venda do dólar.
Às 15h32, o BC anunciou a compra no mercado à vista de dólares a R$ 1,9542, mas o efeito foi nulo. Minutos depois já eram vendidos a R$ 1,953, valor ainda menor do que o comprado pelo BC. "O BC perdeu uma oportunidade de não torrar dinheiro. Poderia ter deixado para outro dia", disse Alex Agostini, da Austin Ratings.
Para Alvaro Bandeira, da corretora Ágora, a atuação do BC teria obtido melhor efeito sem o "upgrade" da dívida pela Standard & Poor"s: "O que tem de ser feito é utilizar os benefícios do câmbio favorável para importar máquinas e melhorar a infra-estrutura do país".
Diante da impotência do BC em segurar a derrocada do dólar, aumentou o coro dos que defendem uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, os juros básicos da economia, que hoje estão em 12,5%.
"Uma "decisão de choque" fará um bem maior para a economia brasileira e para os próprios cofres públicos, que vêm sendo onerados com as estratégias utilizadas até agora. Certamente colocaria o preço do dólar, ainda que bastante baixo, em linha com a realidade", disse Sidnei Moura, da corretora NGO.
"A única forma de impedir uma queda ainda maior do dólar é cortar os juros. O corte vai acabar com a farra de especulação com o câmbio", diz Francisco Gimenez Neto, diretor de operações da corretora NGO.
Operadores dizem que a recente queda do dólar proporciona um ganho para o investidor, sobretudo o estrangeiro ou que tenha feito a conversão de moedas. Quem entrou no real com o dólar a R$ 2,05, no dia 2 de abril, e saiu ontem, a R$ 1,95 teria ganhado 5,12% apenas com a diferença cambial -e a isso se soma o ganho com os juros ou ações do período.
Na BM&F, os contratos de juros DI já embutem uma queda maior nas taxas -para janeiro, os juros recuaram de 11,43% para 11,34%, uma baixa significativa frente aos ajustes decimais no mercado futuro.
Mesmo assim, dúvidas em relação ao aquecimento das vendas no varejo levam os mais conservadores a preverem um corte de só 0,25 ponto nos juros, como Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, hoje no ABN Amro: "A inflação está abaixo do centro da meta, mas mantemos a previsão de corte de 0,25 ponto" na reunião do BC no início de junho.
Alguns operadores do mercado afirmam que o interesse da instituição agora seria impedir uma completa derrocada da taxa de câmbio. A atuação pontual do BC teria por objetivo apenas evitar um tranco e preparar os agentes para taxas em torno de R$ 1,90. "O BC precisa atuar para evitar que a queda não seja acentuada e brusca, o que causa prejuízos ao mercado e tira a previsibilidade para os exportadores", disse Mirian Tavares, da corretora AGK.


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