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"Gargalos" podem custar até meio ponto percentual do PIB
MAELI PRADO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Eventuais gargalos em energia e principalmente transportes podem custar ao Brasil um
crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) 0,5 ponto percentual menor já no final desta
década, segundo um trabalho
apresentado pelo consultor
Claudio Frischtak ontem no
19º Fórum Nacional, no Rio.
Para chegar a essa estimativa, ele calculou o impacto de
deficiências em infra-estrutura
sobre a produção e taxa de investimento nesses segmentos.
"Caso a implementação do
PAC [Programa de Aceleração
do Crescimento] seja realizada
como está se pensando, esse arresto de 0,5 ponto percentual
não ocorre", afirma. "Mas, se
for uma implementação limitada e surgirem outros gargalos,
como mão-de-obra especializada, a situação pode ser até
pior", afirma ele, que trabalhou
e foi consultor do Banco Mundial em indústria e energia por
12 anos e hoje preside a consultoria Inter.B, especializada em
negócios internacionais.
O investimento em transportes, apesar de ter crescido no
ano passado, não chega a 0,2%
do PIB (em 2006 foi de 0,18%),
apesar de o ideal, segundo o
consultor, ser 1%, especialmente com alta da produção e exportações de commodities,
bens intermediários (insumos
industriais) e duráveis (como
carros e eletrodomésticos).
No caso de energia, o risco de
racionamento a partir de 2010
no Sudeste seria entre 15% e
20%, e entre 20% e 25% a partir
de 2011, segundo o trabalho.
"Certamente a infra-estrutura é crítica para o crescimento",
avalia Paulo Levy, diretor do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada). "Mas enfatizando: se nada for feito. Nada vai ser feito? Eu acho que
não, o PAC foi feito para se antecipar ao surgimento desses
gargalos", completa, fazendo a
ressalva de que ambiente de regras não claras para investidores pode dificultar o cenário.
Apesar de a avaliação do consultor ser de que o PAC representa um avanço considerável
em alguns casos, o programa
não resolverá problemas centrais do setor, como a fragilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes), que, segundo ele,
enfrenta "ausência de quadros
experientes e projetos técnica e
juridicamente consistentes".
Ele indica também o ambiente
regulatório deficiente para licitações de concessões rodoviárias como barreira ao setor.
Três quartos das rodovias do
país, diz o consultor, continuam em estado regular, ruim
ou péssimo. E, apesar disso,
elas continuam aumentando
sua participação no transporte
de cargas: representavam
56,3% em 1990, percentual que
passou para 59,3% em 2004.
Quando fala em energia,
além de citar a probabilidade
de um racionamento de até
25% em 2011 -conseqüência
de uma demanda estimulada
pelo crescimento previsto para
a economia e possibilidade de
atraso de obras- o consultor
afirma que os preços da energia
serão pressionados. "Teremos
um custo crescente da energia", afirmou.
"O risco de apagão não existe.
Com o aumento de demanda, o
que pode acontecer é o racionamento, de forma pontual", analisa Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica), da UFRJ.
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