São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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"Gargalos" podem custar até meio ponto percentual do PIB

MAELI PRADO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Eventuais gargalos em energia e principalmente transportes podem custar ao Brasil um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) 0,5 ponto percentual menor já no final desta década, segundo um trabalho apresentado pelo consultor Claudio Frischtak ontem no 19º Fórum Nacional, no Rio.
Para chegar a essa estimativa, ele calculou o impacto de deficiências em infra-estrutura sobre a produção e taxa de investimento nesses segmentos.
"Caso a implementação do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] seja realizada como está se pensando, esse arresto de 0,5 ponto percentual não ocorre", afirma. "Mas, se for uma implementação limitada e surgirem outros gargalos, como mão-de-obra especializada, a situação pode ser até pior", afirma ele, que trabalhou e foi consultor do Banco Mundial em indústria e energia por 12 anos e hoje preside a consultoria Inter.B, especializada em negócios internacionais.
O investimento em transportes, apesar de ter crescido no ano passado, não chega a 0,2% do PIB (em 2006 foi de 0,18%), apesar de o ideal, segundo o consultor, ser 1%, especialmente com alta da produção e exportações de commodities, bens intermediários (insumos industriais) e duráveis (como carros e eletrodomésticos).
No caso de energia, o risco de racionamento a partir de 2010 no Sudeste seria entre 15% e 20%, e entre 20% e 25% a partir de 2011, segundo o trabalho.
"Certamente a infra-estrutura é crítica para o crescimento", avalia Paulo Levy, diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). "Mas enfatizando: se nada for feito. Nada vai ser feito? Eu acho que não, o PAC foi feito para se antecipar ao surgimento desses gargalos", completa, fazendo a ressalva de que ambiente de regras não claras para investidores pode dificultar o cenário.
Apesar de a avaliação do consultor ser de que o PAC representa um avanço considerável em alguns casos, o programa não resolverá problemas centrais do setor, como a fragilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), que, segundo ele, enfrenta "ausência de quadros experientes e projetos técnica e juridicamente consistentes". Ele indica também o ambiente regulatório deficiente para licitações de concessões rodoviárias como barreira ao setor.
Três quartos das rodovias do país, diz o consultor, continuam em estado regular, ruim ou péssimo. E, apesar disso, elas continuam aumentando sua participação no transporte de cargas: representavam 56,3% em 1990, percentual que passou para 59,3% em 2004.
Quando fala em energia, além de citar a probabilidade de um racionamento de até 25% em 2011 -conseqüência de uma demanda estimulada pelo crescimento previsto para a economia e possibilidade de atraso de obras- o consultor afirma que os preços da energia serão pressionados. "Teremos um custo crescente da energia", afirmou.
"O risco de apagão não existe. Com o aumento de demanda, o que pode acontecer é o racionamento, de forma pontual", analisa Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica), da UFRJ.


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