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Brasil esnoba convite do "clube dos ricos"
OCDE convida país para um "envolvimento reforçado", mas Amorim diz que "o Brasil não precisa do selo de qualidade'
Chile, Estônia, Israel, Rússia e Eslovênia são convidados a se tornar membros
plenos da instituição, que hoje tem 30 integrantes
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
A OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) formalizou ontem o convite para que cinco
países (Chile, Estônia, Israel,
Rússia e Eslovênia) se tornem
membros plenos dessa instituição tradicionalmente conhecida como o clube dos países ricos (são 30 seus integrantes).
O Brasil, embora sua economia seja bem maior do que a
dos convidados, exceto a Rússia, foi chamado apenas para
um "envolvimento reforçado,
com vistas a uma eventual adesão", com China, Índia e Indonésia.
Mas, ao contrário do que
acontecia até recentemente,
quando a OCDE é que não se
entusiasmava com o Brasil,
agora é o Brasil que esnoba as
constantes insinuações do secretário-geral da instituição, o
mexicano Ángel Gurría, para
que adira plenamente.
Sem selo
O chanceler Celso Amorim
diz que "o Brasil não precisa do
selo de qualidade [que representaria ser membro pleno do
clube dos ricos], porque já o
tem na sua política econômica,
na sua política social e na própria política, com a consolidação da democracia".
Ontem, na conversa com
Amorim, Gurría deixou bem
claro que era ele, como executivo da OCDE, quem demandava
a entrada do Brasil, ressalvando, como é óbvio, que cabe ao
país decidir se, quando e como
iniciar negociações para a adesão plena.
O Brasil já tem com a OCDE,
desde 1998, um acordo de cooperação que estabelece uma
"relação especial", como a define Nicholas Bray, porta-voz da
organização. Significa que o
país participa de muitos comitês, que são a forma prática de
atuação da OCDE. Como diz
Gurría, o Brasil "já trabalha hoje em praticamente todos os comitês substantivos".
Ainda assim, o desejo da OCDE, expresso pelo próprio Gurría, é o de ter com o Brasil "um
relacionamento tão próximo
quanto o Brasil deseje", o que
fica a um passo de um convite
público para adesão plena.
"Não estamos nos oferecendo",
responde indiretamente Amorim.
Proteção e abertura
Esclarecidos os termos do
namoro, quais são as dificuldades? Explica, pela OCDE, Bray:
"A questão não é apenas ser
uma grande economia, mas ter
mercados financeiros e do trabalho que funcionem bem e leis
adequadas para que o mercado
funcione bem. Ou seja, leis que
protejam a propriedade e que
sejam abertas aos investimentos estrangeiros".
Dessas restrições, parece evidente que o grande problema é
a proteção dos investimentos.
Há alguns anos, a OCDE preparou um acordo (MAI, sigla
em inglês para Acordo Multilateral de Investimentos), que
era tão liberal que provocou o
rechaço até da França, sem falar na revolta das ONGs que
atuam nessa área. O Brasil nem
quis ouvir falar do MAI quando
suas regras entraram nos debates sobre a relação entre comércio e investimento.
Agora, por mais que o Brasil
tenha feito reformas liberalizantes, ainda há o desejo de
preservar o espaço para eventualmente adotar políticas industriais que limitem a liberdade absoluta do investimento
externo.
O que facilitaria uma futura
adesão plena do Brasil ao clubão do mundo rico seria o tratamento em bloco dos Brics
(Brasil, Rússia, Índia e China,
países em desenvolvimento
que seriam as grandes potências mundiais a partir de 2020,
segundo exercício especulativo
da firma financeira Goldman
Sachs). A esses quatro, Gurría
acrescentou ontem a África do
Sul e a Indonésia.
De que serve ser membro
pleno da OCDE? Explica o ministro espanhol da Economia,
Pedro Solbes: "A OCDE centra
sua atividade na análise dos
principais problemas econômicos e sociais, identificando as
boas práticas, ou políticas que
demonstraram sua eficácia para enfrentar os diferentes desafios e oportunidades decorrentes da globalização".
Ou seja, o Brasil poderia, em
tese, beneficiar-se da experiência do mundo rico nos mais diferentes campos. Na prática,
pode não funcionar tão bem assim. Tanto que o Brasil assinou
o acordo anticorrupção debatido e decidido no âmbito da OCDE, o que não quer dizer que o
país tenha evoluído nesse quesito, como demonstra sua classificação (ruim) no ranking da
Transparência Internacional.
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