São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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Rendimento cai no início da safra de cana

Mesmo com moagem maior, início de temporada apresenta produção total menor de açúcar e álcool, aponta Unica

Chuva prejudica a maturação dos canaviais para a colheita; previsões apontam mais nebulosidade para os próximos meses

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

Chuvas além da conta vêm prejudicando o rendimento da lavoura neste início de safra no centro-sul do país. Levantamento da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) divulgado ontem mostra que, embora o volume de matéria-prima moída na região tenha crescido 5,19%, a quantidade de produtos obtidos obtidos por tonelada de cana processada (conhecida pela sigla ATR) recuou 6,02%. Resumo da ópera: a produção total de açúcar e álcool baixou 1,15%.
O levantamento da Unica comparou o desempenho no centro-sul do início da colheita, em abril, até 1º de junho, em relação a igual período do ano passado. A produção de açúcar caiu 10,77%, para 3,273 milhões de toneladas. A de álcool, somando anidro e hidratado, cresceu 6,15%, para 3,217 bilhões de litros, o que reforça "o perfil alcooleiro", provocado pela demanda por veículos flex.
Em abril, a Unica anunciou previsão de que o centro-sul produza 24,3 bilhões de litros de álcool em 2008/9, mais 19% ante 2007/8. De açúcar, devem ser 28,6 milhões de toneladas, 9% mais.
Com 84 novas usinas desde 2005, a nova oferta no setor desequilibrou o mercado, diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. A preferência pelo álcool se deve à possibilidade de "fazer caixa em curto prazo", afirma -algo essencial a empresas com capital de giro restrito.
As previsões para os próximos meses são de mais chuvas e nebulosidade na comparação com a safra passada, o que prejudica a maturação dos canaviais e conseqüentemente leva a rendimento menor. Apesar dos boletins meteorológicos, o mercado avalia ser cedo para cravar produtividade mais baixa para toda a safra.

Momento de pressão
A oferta de início de safra pressiona os preços. Ismael Perina Júnior, presidente da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil), diz "até entender" as cotações do açúcar, mercado com "armazéns abarrotados". A saca de 50 kg está em R$ 26 em São Paulo. "Mas, para o álcool, não há perspectiva de muita sobra no final da safra. Há, sim, excesso de oferta neste momento."
Perina atribui as cotações retraídas para o álcool à "pressão forte dos distribuidores de combustíveis, que atuam no mercado de forma concentrada". Segundo a assessoria de comunicação do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), cada empresa tem sua estratégia comercial. Por isso, a entidade não se pronuncia especificamente sobre preços.
Para o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), na semana passada, o preço médio à vista do álcool hidratado combustível pago às usinas ficou em R$ 0,6390 o litro. As cotações de açúcar e álcool desembocam em um preço de R$ 31 a tonelada para o produtor de cana, contra custo estimado em R$ 50.
Para Julio Maria Martins Borges, diretor-executivo da consultoria JOB, a gasolina funciona como estoque de segurança do mercado de álcool. "Se o preço supera 70% do da gasolina, o consumo migra."
Para o andamento da safra, a analista Renata Marconato, da MB Agro, destaca a evolução favorável do consumo, que tende a deixar o mercado mais ajustado. A Unica relata que as vendas mensais ao mercado brasileiro superam 1,5 bilhão de litros, quando se soma o álcool hidratado ao anidro.
Marcos Escobar, consultor de gerenciamento de risco da FCStone, aponta para a expectativa de que o Brasil exporte até 5 bilhões de litros ao ano -60% desse volume para os EUA, como complemento à estratégia norte-americana para o álcool de milho.
Manoel Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, concorda que os preços não remuneram, a exemplo do que ocorreu no ano passado. "É um comportamento de cotações típico de uma área em expansão." Segundo ele, a cadeia produtiva dispõe de uma câmara setorial de âmbito nacional que pode ser um fórum para "uma discussão estrutural do setor".
Apontado por Bertone como essencial para que o setor avance em planejamento financeiro, o mercado futuro do álcool ainda "não pegou", diz Arnaldo Correa, da assessoria Archer Consulting. O produto ainda não é considerado uma commodity. Há divergências sobre qualidade e tributação. O ideal é que mais países produzam álcool, até para mais transparência nos preços internacionais.


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