São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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VIZINHOS EM CRISE

Setor brasileiro mostra insatisfação com restrições a exportações de eletrodomésticos definidas em Buenos Aires

Para empresários, cota argentina é "absurda"

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil aceitou negociar as cotas de exportação à Argentina por razões puramente políticas. Os efeitos, de ordem econômica, que os limites de exportação -determinados no acordo- terão sobre as empresas ficaram em segundo plano na estratégia brasileira. A avaliação foi feita ontem por líderes industriais e associações de comércio exterior.
Para Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), "é absolutamente ridículo e absurdo" o tamanho da cota de eletrodomésticos para exportação e o entendimento abre precedente para novas revisões nas exportações de outras mercadorias ao país vizinho. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, também ficou surpreso com os números das cotas dos produtos.
Explica-se: para fogões, por exemplo, ficou determinada uma cota de exportação de 90 mil unidades do Brasil à Argentina.
Apenas de janeiro a junho o país embarcou 56.210 unidades. Restam, portanto, pelas novas regras, 33.790 itens a serem enviados no segundo semestre, período em que a demanda sempre cresce e no qual que deve ocorrer maior consumo de bens duráveis no mercado argentino.
Para o primeiro semestre de 2005, ficou determinada uma cota de 47,5 mil fogões. A economia argentina deve crescer 4% em 2005 e vai receber menos fogões, portanto, do que o enviado no primeiro semestre deste ano (56.210), quando o país deve registrar uma alta no PIB de 5,5%
"Esse acordo não foi bom. Pode ter sido o possível. Por trás disso deve existir uma intenção de o pais passar uma imagem de conciliador aos outros possíveis futuros parceiros que tem no mundo. Não podemos esquecer que o país tem interesse em acordos com a União Européia", afirmou José Augusto de Castro.
No caso dos refrigeradores, ficou determinado, de forma preliminar, uma cota de exportação de 42.370 unidades de julho a setembro. Isso vai exigir que as duas partes sentem novamente à mesa logo para rever o entendimento para 2005. De qualquer forma, esse volume é menor do que o enviado em igual período do ano passado (45.341).

Insatisfação
A Folha apurou que empresários da chamada linha branca (geladeiras, máquinas de lavar) estiveram em conversas telefônicas pela manhã de ontem e na quinta-feira para analisar os números. São três empresas no Brasil: Electrolux, Multibrás e BSH Continental. A direção da Multibrás, fabricante da Brastemp, considerou o acordo "desanimador", mas acredita que poderá ser atingida uma cota melhor no último trimestre, apurou a Folha.
Em nota, a Eletros, que representa o empresariado do setor, afirma que está tentando "atender aos apelos do governo para investir no aumento das exportações". E não fala na cota determinada para geladeiras. Só diz que "será criada uma comissão de trabalho que avaliará [a questão] nos próximos 60 dias".


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