São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA

É pra frente, Brasil!

BENJAMIN STEINBRUCH

A história é rica em lições. Temos muito a aprender com acertos e erros do passado. Mais do que isso, temos a obrigação de apurar responsabilidades e punir, na forma da lei, comportamentos ilícitos que tenham resultado em prejuízos para a sociedade.
Justificam-se, portanto, desde que despidas de revanchismos e oportunismos político-eleitorais, ações para forçar a abertura de arquivos de operações duvidosas do passado recente.
Nas últimas semanas, porém, o país vem sendo conturbado por ondas denuncistas, com exposição pública de atos cuja privacidade é garantida pela Constituição e com prejulgamentos sem provas cabais.
Não cabe aqui a discussão do mérito das denúncias. Elas devem ser apuradas, com base nas leis e na Constituição do país. Mas isso não pode dominar o cenário político, como se fosse a mais importante tarefa a ser cumprida pelos poderes constituídos.
A energia política e as horas de trabalho gastas com o denuncismo representam uma clara inversão de prioridades, num momento em que ressurgem no país as esperanças de retomada de crescimento econômico, hoje a maior aspiração da sociedade brasileira.
O governo e o Congresso seriam mais produtivos se olhassem mais para a frente e menos para o retrovisor. Nada é tão importante, neste momento, quanto a busca de mecanismos políticos e econômicos para preservar e estimular esse crescimento da produção recém-nascido e frágil.
Ao brincar de caça às bruxas no Congresso, governo e oposição dão as costas às preocupações evidentes da população, que são a melhoria da atividade econômica e a criação de empregos.
Ficou para segundo plano nas últimas semanas, por exemplo, a discussão sobre a taxa de juros, que será reavaliada pelo Banco Central amanhã. Energias foram gastas para colocar em destaque denúncias pessoais contra funcionários do Banco Central. Enquanto isso, deixou-se de questioná-los sobre a manutenção injustificável da Selic no nível atual de 16%, que impõe um juro real na casa de 10% ao ano e tem efeito devastador sobre a dívida pública e sobre os custos do setor privado.
Parte da energia gasta para escarafunchar arquivos poderia ser utilizada na busca de soluções para problemas que ameaçam impor gargalos à capacidade de produção do parque industrial brasileiro.
Como financiar novos investimentos? Como impedir que a crescimento da demanda interna reduza o superávit da balança comercial? Como recompor as reservas internacionais do país de forma a diminuir os riscos de que uma crise externa afete o crescimento interno? Como fazer deslanchar os investimentos em infra-estrutura sem comprometer o equilíbrio das contas públicas?
Essas perguntas poderiam ter resposta mais rápida se governo e oposição tivessem disposição para se debruçar de verdade sobre questões que têm a ver com o futuro do país e com o bem-estar dos cidadãos brasileiros. O projeto que institui as Parcerias Público-Privadas, por exemplo, crucial para financiar os investimentos em infra-estrutura, continua parado no Senado.
Ficar de olho no retrovisor faz parte da arte de dirigir. Mas nenhum piloto será bem-sucedido se olhar mais para trás do que para a frente.
Não se trata, portanto, de esquecer o passado ou de perpetuar impunidades. O problema está na dosagem de energias, cuja maior parte deveria, naturalmente, ser usada para viver o presente e projetar o futuro com melhor qualidade de vida para os brasileiros.


Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.

E-mail - bvictoria@psi.com.br


Texto Anterior: Retomada: Decretação de falências em julho cai 46,1%, diz Serasa
Próximo Texto: Luís Nassif: O novo tempo da imprensa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.