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LUÍS NASSIF
O novo tempo
da imprensa
O depoimento de Luiz
Costa Pinto, sobre a maneira como o deputado Ibsen
Pinheiro foi destruído, é relevante por três motivos.
1) Por demonstrar a qualidade das fontes que alimentaram
as manchetes durante o período. Se se montar uma tabela
com as principais manchetes,
por trás de cada grande escândalo havia um lobista não apenas interessado mas manipulando o tema; um jornalista
vendendo a alma ao diabo e
um órgão de imprensa vendendo a alma ao mercado.
2) Por demonstrar o estilo de
"esquentar" notícias. O jornalista é o avalista da notícia que
publica. Nesses anos terríveis,
limitava-se a divulgar as informações mais inverossímeis,
muitas obtidas de modo criminoso, atribuí-las a uma fonte
-sem necessidade de nominá-la- e lavar as mãos.
3) Por demonstrar que esse
estilo está moribundo. Não
apenas pela autocrítica de um
dos principais escândalos da
década mas pela reação da mídia em geral. Dez anos atrás
eram raríssimas as vozes dispostas a investir contra a maré.
Os melhores limitavam-se a fazer bem o seu trabalho e a fechar os olhos para esses abusos.
Tudo isso ocorria porque havia um clima inquisitorial, linchador, de toda a sociedade,
avalizando essas práticas e
aceito em todos os ambientes
-jornalístico, político, no Ministério Público.
A opinião pública demandava escândalos. Quem ousasse
remar contra a maré era alvejado por saraivadas de e-mails
de leitores indignados, muitas
vezes pelos próprios barras-pesadas da profissão, com insinuações, patrulhamento. Além
disso, alguns dos escândalos
mais rocambolescos da década
foram premiados. Os jovens
jornalistas que entravam no
mercado miravam-se nos
exemplos vitoriosos, de colegas
pouco escrupulosos que atendiam à necessidade de escândalos de uma competição predatória.
Lá por volta de 1998, quando
ficou claro que estavam ultrapassando os limites jornalísticos e éticos, alguns veículos tentaram reencontrar o caminho
da sensatez e do bom jornalismo. Mas havia o temor generalizado de que, se se desviassem
do rumo do escândalo, o competidor poderia ocupar o território.
É importante entender o estado de espírito que levou a essa situação -muito semelhante ao fenômeno do macarthismo- para não tentar resolver
o problema da mídia com soluções autárquicas, como esse
conselho. Deformações como
essa resolvem-se com tomada
de consciência da opinião pública como um todo e da mídia
em particular. Hoje em dia os
jornalistas denuncistas são
malvistos por uma parcela cada vez maior de leitores e de colegas, a investigação séria é reconhecida. O mesmo está ocorrendo no Ministério Público e
na Polícia Federal, com a valorização da investigação profissional, impessoal e as críticas
aos procuradores de mídia.
A própria criação da Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo teve a intenção
de reagir contra os denuncistas
e de reafirmar a importância
do jornalismo investigativo sério.
Mais do que nunca, é importante a liberdade de imprensa.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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