São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo é acusado de sonegar R$ 500 mi

Segundo a PF, esquema subfaturava itens trazidos por escritório de comércio exterior para clientes no país, entre eles grandes empresas

Pela primeira vez, Polícia e Receita conseguiram enviar equipe para fazer diligências e prisões em Miami, nos Estados Unidos


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal prendeu 95 pessoas em oito Estados acusadas de fazer parte do que ela classificou de o "maior esquema" de fraudes em importações já descoberto no Brasil.
O esquema era dirigido, segundo a PF, pelo empresário Marco Antonio Mansur, preso ontem de manhã com o filho, Marco Antonio Mansur Filho, em seu apartamento dúplex no Paraíso, na zona sul de São Paulo. A PF apreendeu US$ 250 mil em um escritório do empresário em São Paulo.
O grupo MAM, batizado com as iniciais de Mansur, é acusado de ter sonegado R$ 500 milhões em cinco anos.
A PF e a Receita Federal chegaram a esse valor a partir das importações feitas pelo grupo MAM nesse período, de R$ 1,1 bilhão. Como o subfaturamento era em média de 50%, chega-se aos R$ 500 milhões.
Empresas globalizadas, como a Sharp (distribuída no Brasil pela empresa Plena) e a Maxwell, são investigadas pela PF sob a suspeita de utilizarem os serviços do grupo MAM. Responsáveis pela importação de produtos da Sharp e da Maxwell foram apanhados em conversas telefônicas com integrantes do esquema.
A Daslu, a Shoptime, que tem um canal de vendas por TV e internet, e a rede de lojas de roupas Via Veneto recorriam a Mansur para intermediar suas importações, de acordo com os policiais. Law Kin Chong, empresário preso sob acusação de contrabando, também era freguês de Mansur, diz a PF.
Outras investigadas pela PF são Elgin, Britania, Gráfica Cinco Irmãos, Cil e H.Stern.
Batizada de Dilúvio, a operação da PF em conjunto com a Receita Federal foi a maior já realizada pelas duas instituições no país. Foram mobilizados 950 policiais e 350 servidores da Receita.
Pela primeira vez, a PF e a Receita conseguiram enviar delegado, agente e auditor fiscal para fazer diligências em Miami, no sul dos Estados Unidos. A ação nos EUA foi feita em conjunto com o DHS (Departamento de Segurança Interna, em inglês), com autorização da Justiça daquele país.
Dois brasileiros foram presos em Miami: Adilson Tadeu Soares e Márcio Campos Gonçalves. Eles dirigiam as empresas Feca e All Trade em Miami, usadas pelo MAM para cometer as supostas fraudes. A PF informou que os dois estavam em avião para o Brasil ontem.
O próprio Mansur controlava o braço dos negócios em Miami, de acordo com a PF. Ele importava computadores, carros, material cirúrgico, equipamentos gráficos e CDs por preços subfaturados. As empresas que intermediavam as compras nos EUA, a All Trade e a Feca, e remetiam o material para o Brasil eram teleguiadas pelo empresário, diz a PF.
"Há provas documentais de que o grupo MAM controlava essas duas empresas nos EUA", disse o delegado da PF Paulo Vibrio Jr., que iniciou as investigações sobre Mansur em Paranaguá (PR) há dois anos. Havia uma terceira empresa nos EUA que maquiava os preços, chamada System Trade Corp.
Num exemplo hipotético, a Feca adquiria um computador por US$ 1.000 em Miami e o enviava para o Brasil como se tivesse pago US$ 500 por ele. A diferença era enviada aos EUA por doleiro ou conta CC5 (usada para fazer remessas legais).
As notas de importação com os valores subfaturados eram falsificadas no Brasil.
As empresas de Mansur já haviam sido apanhadas em outras três operações da PF, entre as quais a Narciso, que resultou na prisão de Eliana Tranchesi, dona da Daslu. Ele morou no Paraguai e foi casado com uma filha do ditador Alfredo Stroessner, que morreu ontem.

Prisões na Receita
Nove funcionários da Receita e um do Ministério do Desenvolvimento foram presos, sob acusação de facilitar as fraudes.
Em Santa Catarina, a PF prendeu o consultor técnico Aldo Hey Neto, criador de um programa de incentivo a exportações. A PF diz ter provas de que o consultor vendia ilegalmente esse benefício -uma empresa pagou R$ 100 mil ao funcionário público. Os policiais apreenderam R$ 649 mil e US$ 50 mil com Hey Neto.
O grupo MAM também usufruía de benefícios do ICMS em Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Segundo o delegado Vibrio Jr., Mansur usava firmas de fachada para usufruir dos benefícios, que sumiam no momento de recolher o ICMS.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Outro lado: Marcas negam esquema ou não comentam
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.