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JORGE GERDAU JOHANNPETER
Um pacto contra o corporativismo
Só com uma agenda comum o Brasil poderá priorizar os
interesses nacionais ante o
corporativismo histórico
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A CARGA tributária recorde de
quase 40% do PIB recentemente divulgada mostra que
a capacidade de gestão pública, nos
moldes atuais, está chegando ao seu
limite. Déficits estruturais nas contas públicas e falta de eficiência na
gestão dos recursos têm sido financiados pela contínua elevação do
ônus do Estado sobre a economia.
Somem-se a isso práticas de corporativismo nos mais variados segmentos, sejam na área empresarial, judicial, sindical, acadêmica ou política. Todos buscam a proteção de seus interesses -setoriais ou individuais-, invariavelmente sobrepostos aos interesses coletivos.
A retomada de consciência da sociedade sobre o estrangulamento do
modelo de gestão pública é o primeiro passo para reverter esse quadro.
Normalmente, a conscientização e a
mobilização das pessoas somente
surgem em períodos de pós-guerra
ou em países com expressivos conflitos políticos. No caso do Brasil, as
elites têm se mantido em uma posição confortável, sem fazer sacrifícios pelo bem comum.
Não podemos mais ser tolerantes
diante dos problemas nacionais, sob
o risco de sermos coniventes com
uma situação que onera a todos. É
preciso fazer um pacto entre os interesses públicos e privados pelo desenvolvimento do país. Somente por
meio de uma agenda comum o Brasil poderá priorizar os interesses nacionais ante o corporativismo histórico.
Mas não existem milagres. Um
pacto somente funciona quando as
lideranças passam a atuar juntas na
busca de soluções para os desafios
estruturais. A formação de pactos,
com maior ou menor sucesso, já
ocorreu em outros lugares do mundo. Em 1977, por exemplo, a Espanha estabeleceu o Pacto de Moncloa, um acordo coletivo pelo crescimento, após a ditadura franquista.
Também existem no Brasil exemplos positivos. No Rio Grande do
Sul, onde há uma das maiores crises
das finanças públicas no país, a sociedade estabeleceu um debate sobre o Estado que gostaria de ter nos
próximos 20 anos. Ao mesmo tempo, a Assembléia Legislativa construiu um pacto entre as diversas
bancadas e aprovou por unanimidade lei para impedir o aumento das
despesas do Estado nos próximos
anos, possibilitando o ajuste fiscal.
Em decorrência do período pré-eleitoral, principalmente pelos indicativos que levam à realização de um
segundo turno para a definição ao
governo do Estado, foi possível obter a adesão das lideranças políticas
ao pacto. Trata-se de um início, de
um aprendizado novo.
Se não houver a consciência e o esforço nesse sentido, continuaremos
em um processo lento das reformas
e que fará com o que o momento para aumentar a competitividade brasileira seja retardado. Temos que reconhecer que muitos países em desenvolvimento, nossos principais concorrentes na atração de investimentos e na disputa do mercado
global, possuem estruturas menos
democráticas que o Brasil.
Em países como China, Índia e
Rússia, as mudanças para aumentar
a competitividade foram caracterizadas pelo autoritarismo, um modelo já superado pelo Brasil. Esse não é
o quadro que desejamos. Precisamos que a democracia no Brasil assuma o seu papel de responsabilidade neste momento de inserção global. Não podemos perder essa corrida no sentido de gerar empregos e
mais desenvolvimento.
JORGE GERDAU JOHANNPETER , 69, é presidente do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
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