São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Empresas têm o pior 1º semestre sob Lula

Rentabilidade sobre o patrimônio líquido de companhias industriais foi de 10%, ante 13,9% no mesmo período de 2005

Responsável pelo estudo, Iedi aponta o câmbio como fator principal para o mais fraco resultado nos seis primeiros meses do ano

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito recentemente que, pela primeira vez, as empresas brasileiras tiveram lucro maior do que os bancos e que valeu a pena investir no Brasil, os índices de rentabilidade da indústria no primeiro semestre deste ano mostram exatamente o contrário. O resultado foi o pior desde 2003, início do governo Lula.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido das empresas industriais nos primeiros seis meses foi de 10%, sem incluir a Petrobras, uma taxa 28% inferior aos 13,9% registrados no mesmo período de 2005. Já com a Petrobras, a rentabilidade sobe para 11,7%, mesmo assim, abaixo dos 14% de 2005.
Os dados constam de pesquisa inédita feita pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) a partir de uma amostra de 101 empresas industriais no primeiro semestre.
Os setores que registraram maior queda de rentabilidade foram os de alimentos, siderurgia, material aeronáutico, papel e celulose e química.
O setor de alimentos, por exemplo, registrou uma queda da rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 10,4% em 2005 para 0,2% neste ano, uma diminuição do lucro sobre a receita de 5,8% para 0,2% e um prejuízo de 0,02% na atividade sobre a receita. O economista Edgard Pereira, do Iedi, diz que esse resultado da indústria é reflexo principalmente da supervalorização cambial. O efeito da valorização do real sobre a indústria se dá basicamente de duas formas. Em primeiro lugar, deprime a receita obtida com as exportações; além disso, incentiva a importação de produtos a preços mais baixos do que os fabricados no país. "A tesoura aperta dos dois lados", diz Pereira.
Outro fator importante que também afeta a rentabilidade da indústria é o nível de atividade, que reduz o volume de vendas das empresas.
Segundo Pereira, "a piora da rentabilidade nos mercados interno e externo é decorrente do atraso e da pronunciada parcimônia com que as taxas de juros vêm sendo reduzidas no Brasil, fator que determina tanto a apreciação da moeda quanto o retrocesso do mercado interno".
O economista do Iedi diz que não há pior notícia do que a redução da rentabilidade das empresas para um país que precisa acelerar fortemente os investimentos e assegurar um maior crescimento econômico de longo prazo.
"Nunca é demais lembrar que, em uma economia cujo mercado de capitais ainda é incipiente e são escassas as fontes de financiamento de longo prazo, a acumulação interna das empresas, que só pode ser garantida pela sua rentabilidade, é a fonte primordial dos investimentos", diz Pereira.
O pior é que as empresas estão prontas para iniciar uma nova fase de investimento. O Iedi constatou na pesquisa que as grandes empresas industriais melhoraram sensivelmente os níveis e a qualidade do endividamento, o que significa que elas estão preparadas para contrair novos empréstimos com o objetivo de disparar investimentos. O endividamento sobre o PL das empresas caiu de 0,45% para 0,34% entre junho de 2005 e junho deste ano, incluindo a Petrobras. Sem a estatal, o endividamento cai de 0,46% para 0,42%.


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