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BC teme pressões de demanda na inflação
Descompasso entre ritmo de investimentos da indústria e procura maior por bens e serviços pode obrigar Copom a elevar juros
Fazenda, no entanto, não vê riscos na atual utilização da capacidade instalada das fábricas e atribui o aumento de preços a choque de oferta
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os dados sobre o crescimento da economia divulgados pelo
IBGE acentuaram as divergências entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central com
relação às expectativas de inflação para os próximos anos, sobretudo em 2008. Enquanto os
técnicos do ministro Guido
Mantega (Fazenda) sustentam
o otimismo no forte crescimento dos investimentos, os diretores do BC, comandados pelo
presidente Henrique Meirelles,
temem que um descompasso
entre esses investimentos e o
aumento da demanda por bens
e serviços obrigue o Copom a
voltar a subir os juros.
A questão central para o BC é
que, mesmo com a elevação de
13,8% no segundo trimestre
deste ano em relação ao mesmo
período de 2006, os investimentos têm sido insuficientes
para evitar que, cada vez mais,
as empresas se aproximem do
limite atual de produção.
Hoje, entre 83% e 86% de
máquinas, equipamentos e de
todo o parque produtivo estão
sendo usados para atender à
demanda crescente por bens e
serviços. Esse percentual varia
conforme a fórmula de cálculo,
mas está no pico da série.
Segundo a Folha apurou, a
preocupação do BC é que, à
medida que essa utilização da
capacidade aumenta, o risco de
pressão inflacionária cresce.
Na prática, o medo é que o
consumo das famílias, impulsionado pelo aumento do crédito (27% em junho na comparação com o mesmo mês de
2006) e da renda (4,37% no
mesmo período), suba num ritmo ainda mais acelerado do
que os 5,7% verificados no segundo trimestre, antes que haja tempo para os investimentos
que estão sendo feitos maturarem e elevarem a capacidade
produtiva da economia.
Argumenta-se no BC que
não se sabe como funciona exatamente o ciclo de investimento a ponto de garantir que ele
suprirá essa demanda. Se isso
não acontecer, alegam, a saída
será importar ou, onde não for
possível, haverá alta de preços.
Para a Fazenda, esse risco é
pequeno já que o que está puxando o investimento atualmente é o segmento de bens de
capital, que, rapidamente, aumenta a capacidade produtiva.
A tese é endossada por especialistas. Júlio Sérgio Gomes de
Almeida, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda e
hoje consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma
que o uso de 85% do parque
produtivo não gera risco inflacionário. "Não é alto demais. O
problema é passar disso."
Outro ponto que, na avaliação do BC, não está merecendo
a devida atenção da Fazenda é
o comportamento do setor de
serviços. Uma área em que há
dificuldade para se medir a utilização da capacidade produtiva, não é sensível à importação
e costuma sancionar aumento
de preços mais facilmente.
Em agosto, a inflação nesse
setor foi de 0,48%, praticamente o dobro da média registrada
entre maio e julho, 0,25%.
A Fazenda rebate essa tese
alegando que o setor de serviços está no fim da cadeia produtiva e não há uma contaminação de preços ao longo do
processo produtivo. Com isso,
o impacto na inflação é menor.
Há ainda o temor de que, em
2008, a pressão seja ainda
maior porque será combinada
com mais gastos do governo
em obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
A expectativa dos técnicos da
Fazenda é que a ligeira alta na
inflação registrada atualmente
está concentrada em um choque de oferta de alimentos e
deverá se reverter de forma
mais significativa a partir de
meados de 2008.
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