São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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BC teme pressões de demanda na inflação

Descompasso entre ritmo de investimentos da indústria e procura maior por bens e serviços pode obrigar Copom a elevar juros

Fazenda, no entanto, não vê riscos na atual utilização da capacidade instalada das fábricas e atribui o aumento de preços a choque de oferta

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os dados sobre o crescimento da economia divulgados pelo IBGE acentuaram as divergências entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central com relação às expectativas de inflação para os próximos anos, sobretudo em 2008. Enquanto os técnicos do ministro Guido Mantega (Fazenda) sustentam o otimismo no forte crescimento dos investimentos, os diretores do BC, comandados pelo presidente Henrique Meirelles, temem que um descompasso entre esses investimentos e o aumento da demanda por bens e serviços obrigue o Copom a voltar a subir os juros.
A questão central para o BC é que, mesmo com a elevação de 13,8% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006, os investimentos têm sido insuficientes para evitar que, cada vez mais, as empresas se aproximem do limite atual de produção.
Hoje, entre 83% e 86% de máquinas, equipamentos e de todo o parque produtivo estão sendo usados para atender à demanda crescente por bens e serviços. Esse percentual varia conforme a fórmula de cálculo, mas está no pico da série.
Segundo a Folha apurou, a preocupação do BC é que, à medida que essa utilização da capacidade aumenta, o risco de pressão inflacionária cresce.
Na prática, o medo é que o consumo das famílias, impulsionado pelo aumento do crédito (27% em junho na comparação com o mesmo mês de 2006) e da renda (4,37% no mesmo período), suba num ritmo ainda mais acelerado do que os 5,7% verificados no segundo trimestre, antes que haja tempo para os investimentos que estão sendo feitos maturarem e elevarem a capacidade produtiva da economia.
Argumenta-se no BC que não se sabe como funciona exatamente o ciclo de investimento a ponto de garantir que ele suprirá essa demanda. Se isso não acontecer, alegam, a saída será importar ou, onde não for possível, haverá alta de preços.
Para a Fazenda, esse risco é pequeno já que o que está puxando o investimento atualmente é o segmento de bens de capital, que, rapidamente, aumenta a capacidade produtiva.
A tese é endossada por especialistas. Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda e hoje consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que o uso de 85% do parque produtivo não gera risco inflacionário. "Não é alto demais. O problema é passar disso."
Outro ponto que, na avaliação do BC, não está merecendo a devida atenção da Fazenda é o comportamento do setor de serviços. Uma área em que há dificuldade para se medir a utilização da capacidade produtiva, não é sensível à importação e costuma sancionar aumento de preços mais facilmente.
Em agosto, a inflação nesse setor foi de 0,48%, praticamente o dobro da média registrada entre maio e julho, 0,25%.
A Fazenda rebate essa tese alegando que o setor de serviços está no fim da cadeia produtiva e não há uma contaminação de preços ao longo do processo produtivo. Com isso, o impacto na inflação é menor.
Há ainda o temor de que, em 2008, a pressão seja ainda maior porque será combinada com mais gastos do governo em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A expectativa dos técnicos da Fazenda é que a ligeira alta na inflação registrada atualmente está concentrada em um choque de oferta de alimentos e deverá se reverter de forma mais significativa a partir de meados de 2008.

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