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Dólar caro leva à falta do algodão
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No Porto de Paranaguá (PR) há
lotes de algodão aguardando a liberação para serem enviados para
a Europa e Índia. Com o excesso
de cargas esperando o sinal verde,
houve atraso de cerca de um mês
no envio, informam fabricantes
do Mato Grosso do Sul. Esse grande volume de exportação já causa
falta de algodão no Brasil. Fabricantes de roupas têm dificuldade
para achar o produto. Redes varejistas "correm" atrás de novos fornecedores de roupas por causa
dessa escassez de matéria-prima.
Querem evitar o risco de falta de
mercadoria no final do ano.
As vantagens obtidas com as exportações fizeram os produtores
transformarem mercado externo
em prioridade. É o que a SLC
Agrícola, grande fabricante do sul
do país, tem tentado fazer desde
meados do ano, assim como fabricantes como a família Schlatter, com 5,5 mil hectares de plantação de algodão e 20% da produção sendo exportada hoje.
Por conta desse cenário, segundo a Folha apurou, um grande
fornecedor de meias não está conseguindo dar conta de todos os
pedidos para novembro. Isso por
causa da dificuldade em achar o
algodão. "A vontade deles em exportar é tamanha que os produtores já estão mandando para fora
até a pluma do algodão (o produto antes de passar pela fiação)",
diz o executivo.
Quando o dólar dispara, fica
mais interessante mandar mercadorias para fora do país. O produto torna-se mais barato no exterior e a empresa ainda consegue
receita em dólares.
O problema é que a medida causa respingos na cadeia produtiva.
No último domingo, a C&A decidiu publicar um anúncio chamando novos fornecedores para
conhecer e fechar contratos. Segundo a Folha apurou, a decisão
ajuda a afastar o risco de receber
menos itens no final do ano, por
causa da escassez de algodão.
A companhia diz, no entanto,
que isso em nada tem a ver com a
subida do dólar. "Sempre fazemos esse contato com fabricantes", diz Marcelo Fernandez, porta-voz da companhia.
A indústria do vestuário fatura
cerca de US$ 16,5 bilhões por ano
-são 5,3 bilhões de peças fabricadas-, e mais de 70% do montante é obtido no verão. Ou seja, o
período é o "ganha-pão" do setor.
Na ponta do lápis, dá para entender porque há tanto produto
indo para fora.
Segundo a direção da SLC Agrícola, o mercado de algodão em
pluma (em fardos de aproximadamente 220 quilos, obtidos após
o descaroçamento), trabalha com
as cotações em reais ou em dólar
por libra-peso. Neste momento,
há demanda no exterior e os
clientes estrangeiros têm pago R$
1,78 por uma libra-peso. Cerca de
duas libras-pesos equivale a um
quilo de algodão.
No Brasil, entretanto, o valor varia de R$ 1,48 a R$ 1,50 por libra-preso. "O produtor está preferindo exportar neste momento porque o mercado externo está bastante comprador. O valor pago
compensa mais do que o praticado hoje pelas indústrias têxteis no
país", diz Werner Tiede, gerente
de Negócios da SLC.
O aumento na exportação é
contínuo: são entre US$ 20 milhões a US$ 30 milhões exportados por mês desde maio, quando
o real começou a se desvalorizar.
Apenas neste ano, até agosto, foram exportados US$ 189 milhões.
Os ganhos também aparecem
como forma de compensar o ano
perdido de 2001. Os subsídios ao
algodão americano e a supersafra
da China acabaram complicando
a vida dos produtores brasileiros
no ano passado. Neste ano, a idéia
é vender abusando da recuperação das cotações lá fora -que subiram 30% em 2002.
Na avaliação dos compradores
de algodão e tecidos no Brasil, a
situação só não está mais delicada
-com a necessidade urgente de
insumos- porque não há demanda forte por roupas no Brasil
atualmente.
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