São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO

Pesquisa verifica aumento no consumo de itens não-essenciais, como iogurte, salgadinho, suco e pós-xampu

Venda de supérfluos cresce no varejo com recuperação da renda

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada econômica começa a dar impulso à venda no varejo de itens considerados supérfluos. A expansão é considerada sutil pelo mercado, mas tem a sua importância por se tratar do último degrau de resistência à melhora no desempenho dos supermercados neste ano. Os grupos Sonae, Pão de Açúcar e Carrefour perceberam a mudança.
Há um crescimento na venda de iogurtes, salgadinhos, sucos, pratos congelados, entre outros, neste ano em comparação a 2003.
Na rede CompreBem, com 154 pontos-de-venda, houve um aumento de 61% na venda de sucos em polpa em setembro, em relação a igual mês de 2003. Em pizzas congeladas, a alta foi de 27%, e, em doces em pasta, 42%. Lasanhas congeladas registraram expansão de 50% no volume de itens comercializados.
Dois movimentos ajudam a explicar essa alta, na avaliação da empresa: a reestruturação das lojas, com mudanças no layout -que deram destaque a certas mercadorias (o espaço de perfumaria está na entrada das lojas, por exemplo); e a retomada na renda do trabalhador.
"Como 120 lojas já passaram pela reformulação no layout, mas ainda faltam 34 pontos, não dá para dizer que foi apenas a reestruturação que incentivou essa alta nas vendas. Há um pequeno reaquecimento, impulsionado pelos ganhos de renda", diz Hugo Bethlem, diretor-executivo do CompreBem.
Pelas contas da rede Sonae, dona dos hipermercados BIG, houve uma expansão média de 16% na venda dessas mercadorias classificadas como dispensáveis nos primeiros seis meses do ano, em relação a 2003. O destaque foram as mercadorias light e diet, de consumo focado nas classes de maior poder aquisitivo.

Etapas
No processo de reaquecimento nas vendas, o varejo passa por etapas. Em princípio, a recuperação econômica se reflete em aumento na demanda por eletroeletrônicos. São itens que fazem parte do desejo de consumo e têm uma demanda reprimida no país. O segundo segmento atingido num movimento de recuperação é o alimentício. Pode ocorrer expansão na quantidade de itens de primeira necessidade (cesta básica) ou aumento na venda de itens que estavam fora da lista de compra.
Uma análise com dados nacionais mostra o mesmo movimento em outras praças. Levantamento da consultoria Ibope/LatinPanel, realizado todas as semanas nos lares de famílias brasileiras, mostra que houve um aumento de 7% na quantidade de casas que consumiram salgadinhos nos primeiros sete meses do ano. Cada ponto equivale a 360 mil domicílios. Na categoria amaciantes, a alta foi de 5% -o equivalente a 1,8 milhão de lares a mais que compraram o produto neste ano sobre 2003.
Os dados da LatinPanel são obtidos com a análise da compra de 6.300 famílias no país. Os pesquisadores verificam a compra semanal nesses lares. É possível afirmar que esses domicílios, numa análise estendida, refletem os hábitos de consumo de 31 milhões de domicílios, de acordo com a empresa.
Em massas instantâneas e caldos, outros itens considerados dispensáveis, a expansão foi de 5% em relação a igual período de 2003. O pós-xampu, produto utilizado basicamente para consumo feminino, a alta foi de 5% de janeiro a julho.

Movimento sutil
Para Ana Fioratti, diretora da LatinPanel, essa retomada é sutil e ocorre depois de um momento de corte na lista de gastos desses itens no ano passado.
"No final de 2002, com a desvalorização do real, os preços dispararam e esses produtos perderam prioridade para as famílias", afirma. "O que existe agora é uma leve retomada."
A rede de hipermercados Carrefour registra hoje um aumento de 12% na demanda por iogurtes, por exemplo. Em carnes congeladas, a alta é de 18% em relação a outubro do ano passado.
Pesquisa realizada pelo instituto ACNielsen, em fevereiro, mostrava que 35% dos consumidores no país pretendiam gastar uma eventual sobra na compra de itens alimentícios. Segundo a pesquisa, apenas 14% queriam se endividar com a aquisição de eletroeletrônicos ou automóveis.
Dados do Dieese/Seade mostram que, em julho de 2004 -dado mais recente-, o rendimento médio real dos ocupados em São Paulo estava em R$ 1.008. No ano anterior (julho de 2003), o valor era de R$ 960.


Texto Anterior: Luís Nassif: O herdeiro de Baden
Próximo Texto: Bebida fina: Mercado nacional se rende aos cafés especiais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.