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Sem censo, agropecuária vive "apagão estatístico"
Como o IBGE não fez o levantamento em 2005, país não sabe o rebanho que tem
Instituto FNP diz que há
164 mi; IBGE estima que
sejam 205 mi e indústria de
produtos para animais
calcula de 180 mi a 190 mi
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O país começa a viver um
apagão estatístico no setor
agropecuário. A não-realização
do censo agropecuário, que deveria ter ocorrido no ano passado, coloca em risco uma série
de investimentos no setor.
A análise é de Victor Abou
Nehmi Filho, do Instituto FNP,
consultoria especializada em
análises no setor de agronegócio, com tradição na pecuária.
Entre os muitos problemas
trazidos por esse vazio estatístico, Nehmi cita o do rebanho
bovino brasileiro. Enquanto o
IBGE -entidade responsável
pelo censo agropecuário, mas
que não o fez em 2005 por falta
de liberação de verbas do governo- estima o rebanho brasileiro em 205 milhões de cabeças de gado, números do IFNP
indicam apenas 164 milhões.
O ministro da Agricultura,
Luis Carlos Guedes Pinto, afirmou que o censo é muito importante, mas não sabe dizer se
ele será realizado em 2007.
Os desencontros não param
por aí. A ausência de um dado
único, que sirva de base para todas as entidades ligadas ao setor, faz com que cada uma procure uma referência própria.
O CNPC (Conselho Nacional
da Pecuária de Corte), por
exemplo, trabalha com um rebanho próximo de 196 milhões
de cabeças. Já o Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Saúde Animal)
trabalha com números que vão
de 180 milhões a 190 milhões
de cabeças.
Ter números mais próximos
possíveis da realidade do rebanho é fundamental para as empresas desse sindicato, já que
são responsáveis pelo fornecimento de uma extensa gama de
produtos para o setor.
Esses desencontros de informações são cruciais neste momento, quando o país assume a
liderança mundial nas exportações de carne bovina.
Nehmi diz que números inflados do rebanho podem fazer
com que a indústria frigorífica
monte unidades em regiões
com oferta menor de animais
do que o estimado.
As indústrias de produção de
insumos para o setor, como vacinas, sais minerais e outros
medicamentos, também colocam o planejamento em risco
devido à incerteza das estatísticas, segundo Nehmi.
Diferenças
Além das diferenças dos números, os critérios de avaliação
do rebanho também acabam
confundindo as análises do setor. Mesmo com diferença inicial, os dados do rebanho podem não ser tão distorcidos como indicam à primeira vista.
A diferença básica entre eles
é o período de coleta das informações. O IFNP, por exemplo,
apresenta o rebanho médio,
enquanto o IBGE indica o total
de animais no último dia útil do
ano. A diferença entre esses
dois critérios é grande. O nascimento dos bezerros concentra-se na primavera, somando, em
dezembro, de 30 milhões a 35
milhões de cabeças a mais do
que em agosto.
Nehmi diz, no entanto, que o
critério usado no mundo para
medir o rebanho é o da média
anual, que inclui os bezerros
nascidos e também os abates
que vão ocorrendo durante o
ano. Esse é o critério usado pelo
IBGE no último censo agropecuário, em 1995, diz Nehmi.
O IBGE defende os seus critérios para apuração dos dados.
Adriana Helena Gama, analista
socioeconômica da área de pecuária do IBGE, diz que "nossos dados são um levantamento
feito em instituições sérias de
pesquisa". Entre elas, estão as
Ematers, a Embrapa e unidades regionais do IBGE.
Vacinas
Já Nehmi afirma que o IFNP
cruzou uma série de dados para
chegar ao rebanho de 164 milhões. Um deles é a venda de vacinas, mas esse número deve
ser olhado com reserva.
A diferença entre o volume
de vacinas comprado e o realmente usado pelos pecuaristas
pode chegar a até 20%, dependendo do Estado. Na média, as
perdas são de 5% a 7%.
Outro dado importante levantado, segundo Nehmi, é o
tamanho das pastagens em cada Estado. Nos últimos anos,
devido à forte queda nos preços
da carne, houve migração de
pecuaristas para atividades
mais rentáveis, diminuindo a
área de pastagens. As novas atividades procuradas, principalmente no centro-sul foram soja, cana-de-açúcar e eucalipto,
segundo Nehmi.
Para chegar à estimativa do
rebanho, o IFNP cruzou também os dados de desmatamento. Desde 96, foram desmatados 20,2 milhões de hectares,
segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
No período, a área destinada à
agricultura e ao reflorestamento somou 15 milhões de hectares; a de pastagens, 5 milhões.
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