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PF aponta fraude de R$ 1,5 bi envolvendo multinacional
Operação prende 40 acusados de importação ilegal, entre eles o presidente da Cisco no país
Segundo a investigação, a empresa de informática, uma das maiores do mundo, foi beneficiada por esquema de sonegação de impostos
ANDRÉA MICHAEL
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal deflagrou
ontem, em conjunto com a Receita e o Ministério Público Federal, a Operação Persona, de
combate a fraude fiscal em
transações de importação de
produtos de informática, uma
ação na qual, pela primeira vez,
segundo as autoridades, foi
comprovada a participação de
uma multinacional -a norte-americana Cisco Systems, conforme a Folha apurou.
Nos últimos cinco anos, chega a R$ 1,5 bilhão o total de impostos devidos e não recolhidos, além de correção monetária e multa que devem ser aplicadas contra as empresas envolvidas, segundo informou
Gerson Schaan, coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal.
A base para o cálculo é o volume de produtos importados
por meio da engenharia montada pelos fraudadores: eles declararam ao fisco ter comercializado US$ 500 milhões, mas a
investigação indica que o montante real importado foi de US$
1,2 bilhão no período.
A investigação, que durou
dois anos, apontou que a Cisco,
juntamente com a distribuidora Mude, atuavam nos EUA e
no Brasil. Elas teriam montado
uma rede de 14 empresas que
tinham como sócias "offshores" -companhias sediadas em
paraísos fiscais cujo nome dos
sócios é protegido por um forte
sistema de sigilo- e pessoas de
poder aquisitivo incompatível
com o volume de dinheiro que
giravam, ou seja, laranjas.
Em um dos casos, por exemplo, um dos laranjas (pessoa
que empresta seu nome para
outro), que morava no Jardim
Horizonte Azul, no extremo sul
de São Paulo, era dono de uma
companhia que negociou mais
de R$ 500 milhões em um ano.
O resultado é que os mentores do negócio conseguiram
blindar, segundo a delegada da
PF Erika Nogueira, os verdadeiros beneficiários das transações, no Brasil e no exterior. O
sigilo lhes garantiu sonegar impostos, subfaturar valores de
produtos e simular descontos
de até 100% do montante negociado. Assim, o grupo chegava a uma redução de até 70%
no preço dos produtos que comercializava no país.
O saldo da Operação Persona, até a conclusão desta edição, apresentava o cumprimento, nos Estados de São
Paulo, Bahia e Rio de Janeiro,
de 93 mandados de busca e
apreensão de produtos e documentos, além de 40 prisões, entre as quais a dos presidentes
da Cisco no Brasil, Pedro Ripper, e da Mude, Moacir Álvaro
Sampaio, e a do ex-presidente
da multinacional no país Carlos Roberto Carnevale.
Também entre os presos estão seis auditores da Receita,
sendo dois aposentados. Ao ser
preso em Santos (SP), um deles, da ativa, tinha consigo US$
200 mil. No total, a operação
apreendeu US$ 290 mil e R$
240 mil em espécie, além de R$
10 milhões em mercadorias.
A Justiça decretou prisão de
cinco brasileiros que participaram das fraudes nos EUA. A
polícia fazendária daquele país,
segundo o governo, investiga a
participação de americanos.
Ainda não há indícios de que
clientes das empresas no Brasil
estejam envolvidos nos crimes:
corrupção ativa, passiva, quadrilha, evasão de divisas, sonegação e lavagem de dinheiro.
No início da operação, nos
EUA, fazia-se a falsificação de
notas fiscais para manipular o
valor da mercadoria e aproveitar a diferença de tributação
para equipamentos e programas de computador no processo de importação. No Brasil, o
hardware tem Imposto de Importação de cerca de 10%. Os
softwares são quase isentos.
Fazia-se, então, o superfaturamento do software e o subfaturamento do hardware. Uma
máquina que custasse US$ 10
mil era declarada, por exemplo,
com preço formado por US$
9.000 em programas e US$
1.000 em equipamentos. Assim, a incidência dos impostos
era reduzida ainda mais.
Outro expediente usado pelo
grupo, segundo informaram
Gerson Schaan e Erika Nogueira, era simular que, ao ingressar no Brasil pelo porto de Salvador, os produtos eram industrializados no pólo de Ilhéus,
procedimento que garantia
uma série de incentivos fiscais.
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