São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2007

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Para Lula, emergentes podem cortar tarifa

Presidente afirma, na África, que taxas de importação de produtos industriais podem ser reduzidas na Rodada Doha

Mas, segundo ele, cortes nos subsídios agrícolas de países desenvolvidos devem ser maiores que os propostos para haver contrapartida

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BRAZZAVILLE (CONGO)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o Brasil e os países emergentes poderão reduzir tarifas de importação industrial como parte de uma grande barganha para concluir a Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Mas ele ressalvou que espera concessões ainda maiores dos países ricos em troca. "Ou os países ricos cedem um pouco ou o acordo estará cada vez mais difícil."
Falando a uma platéia de ministros da República do Congo, na África Central, e ladeado pelo presidente do país, Denis Sassou Nguesso, Lula fez um ataque frontal aos países ricos, que deveriam ser "mais generosos" com os pobres e parar de tratá-los como "pedintes". Foi aplaudido por duas vezes pelos anfitriões congoleses.
"Queremos fazer um grande acordo em que a União Européia facilite na questão da entrada dos produtos dos países mais pobres, em que os EUA diminuam a quantidade que subsidiam a agricultura interna e que os países em desenvolvimento como o Brasil flexibilizem os produtos industriais."
A Rodada Doha, que se arrasta desde 2001, vem enfrentando obstáculos para a sua conclusão principalmente por conta de divergências quanto ao acesso a mercados ricos para agricultores de países pobres.
Em contrapartida, o mundo desenvolvido exige facilidades de entrada de produtos industrializados em países emergentes como Brasil, Índia e África do Sul. Líderes dos três países se reúnem hoje em Pretória, capital sul-africana, para discutir o assunto.
"Queremos que os países ricos parem de tratar os países pobres como pedintes", declarou Lula, na presença de todo o ministério congolês, na sede do governo local.
Ao mesmo tempo em que sinalizou com alguma flexibilização nas tarifas industriais, Lula avisou que essa flexibilização terá limite estreito. "Essa flexibilização tem que ser proporcional à capacidade de cada país", disse. O Brasil não abrirá mão, por exemplo, de proteger os setores que considerar estratégicos. "Os países que estão se desenvolvendo agora não podem abdicar de ter políticas industriais", declarou. Para ele, a oferta do EUA de limitar a US$ 16 bilhões anuais os subsídios aos agricultores é insuficiente.
Sobraram críticas também ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Lula lembrou que o próximo diretor do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, é um francês, que poderia ser um amigo do Congo, de língua francesa. "Mas não sei se alguém que representa uma instituição como o FMI continua amigo de alguém", disse.


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