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Para Lula, emergentes podem cortar tarifa
Presidente afirma, na África, que taxas de importação de produtos industriais podem ser reduzidas na Rodada Doha
Mas, segundo ele, cortes nos subsídios agrícolas de países desenvolvidos devem ser maiores que os propostos para haver contrapartida
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A BRAZZAVILLE
(CONGO)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o
Brasil e os países emergentes
poderão reduzir tarifas de importação industrial como parte
de uma grande barganha para
concluir a Rodada Doha da
OMC (Organização Mundial do
Comércio).
Mas ele ressalvou que espera
concessões ainda maiores dos
países ricos em troca. "Ou os
países ricos cedem um pouco
ou o acordo estará cada vez
mais difícil."
Falando a uma platéia de ministros da República do Congo,
na África Central, e ladeado pelo presidente do país, Denis
Sassou Nguesso, Lula fez um
ataque frontal aos países ricos,
que deveriam ser "mais generosos" com os pobres e parar de
tratá-los como "pedintes". Foi
aplaudido por duas vezes pelos
anfitriões congoleses.
"Queremos fazer um grande
acordo em que a União Européia facilite na questão da entrada dos produtos dos países
mais pobres, em que os EUA diminuam a quantidade que subsidiam a agricultura interna e
que os países em desenvolvimento como o Brasil flexibilizem os produtos industriais."
A Rodada Doha, que se arrasta desde 2001, vem enfrentando obstáculos para a sua conclusão principalmente por conta de divergências quanto ao
acesso a mercados ricos para
agricultores de países pobres.
Em contrapartida, o mundo
desenvolvido exige facilidades
de entrada de produtos industrializados em países emergentes como Brasil, Índia e África
do Sul. Líderes dos três países
se reúnem hoje em Pretória,
capital sul-africana, para discutir o assunto.
"Queremos que os países ricos parem de tratar os países
pobres como pedintes", declarou Lula, na presença de todo o
ministério congolês, na sede do
governo local.
Ao mesmo tempo em que sinalizou com alguma flexibilização nas tarifas industriais, Lula
avisou que essa flexibilização
terá limite estreito. "Essa flexibilização tem que ser proporcional à capacidade de cada
país", disse. O Brasil não abrirá
mão, por exemplo, de proteger
os setores que considerar estratégicos. "Os países que estão se
desenvolvendo agora não podem abdicar de ter políticas industriais", declarou. Para ele, a
oferta do EUA de limitar a US$
16 bilhões anuais os subsídios
aos agricultores é insuficiente.
Sobraram críticas também
ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Lula lembrou que
o próximo diretor do Fundo,
Dominique Strauss-Kahn, é
um francês, que poderia ser um
amigo do Congo, de língua
francesa. "Mas não sei se alguém que representa uma instituição como o FMI continua
amigo de alguém", disse.
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