São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

O mundo não pára

Mesmo com juros em alta, incerteza nos EUA e com a China tentando desacelerar, até Japão e Europa crescem

QUE O MUNDO não crescia tão depressa desde os anos 70 já é mais que sabido. O que vai ser da economia dos EUA continua muito incerto, embora "desaceleração", e não "recessão", seja cada vez mais a palavra utilizada para definir a aterrissagem americana.
Afora a China, falar de produção em alta em um momento em que os alarmes algo paranóicos dos banqueiros centrais começaram a tocar parece meio defasado. Os juros já sobem faz algum tempo, mesmo no Japão (para 0,25%!), embora discretamente. Mas o temor de resfriado, gripe ou pneumonia econômica americana lançou mais luz sobre a capacidade de outras regiões no planeta ao menos aliviarem o desaquecimento global (da economia).
A Europa não crescia tanto desde 2000. Em relação à média 2003-2005, a produção cresceu dois pontos percentuais. A americana caiu. O Japão não crescia tanto desde o início dos anos 90 e não o fazia por tanto tempo desde os anos 70, segundo relatório do banco americano JP Morgan que chama a atenção para o desempenho nipo-europeu.
Os europeus estão importando mais; o crescimento enfim passou a depender mais do mercado doméstico que do comércio exterior. O fluxo de comércio da Eurozona com a Ásia supera os negócios com os EUA e cresce mais depressa. O consumidor asiático vai gastar 7% a mais neste ano em relação a 2005; os americanos, 3%, segundo o FMI. Em suma, a conexão euroasiática teria fôlego para segurar parte da barra da desaceleração americana.
Há nuvens por aí, como sempre.
Para os banqueiros centrais europeus, a Eurozona não pode crescer, como agora, ao ritmo de 3%, sem ameaça de inflação. O Japão depende de câmbio desvalorizado (o iene mais baixo em 20 anos), tem dívida pública alta, ainda sofre com deflação e teme a inversão de uma maré especulativa, uma pequena bolha nipônica. Como os juros no Japão estão em torno de zero, os mercadistas japoneses emprestam dinheiro para especular em mercados com juros e riscos maiores. Quando o dinheiro voltar, o que será do iene?, pergunta o "Financial Times".
O desequilíbrio sino-americano persiste. Os EUA consomem demais (têm déficits fiscais e comerciais enormes), China e Ásia financiam.
Há quem diga que a queda da riqueza dos americanos devido ao fim da supervalorização dos imóveis estaria sendo só aliviada, temporariamente, pela baixa no preço dos combustíveis e porque o mercado de trabalho ainda não sentiu o impacto dos juros. Um dia, diz a teoria, a festa acaba em crise. Mas não se sabe quando e como ela virá.
Há pilhas de dólares nos cofres dos BCs do planeta. Segundo o FMI, as reservas internacionais (o que os BCs guardam em moeda forte) mais que dobraram em cinco anos. Há o rumor sinistro de que, em certo momento, os BCs, com medo de uma desvalorização do dólar, comprem, por exemplo, euros. Haveria uma desvalorização do dólar, que poderia suscitar estouro de boiadas nos mercados. Os EUA, com o dólar mais fraco, gastariam menos.
Mas pode ser que o ajuste seja lento e gradual. O que se sabe mesmo é que não há sinais novos de catástrofe. E apareceram uns colchonetes em caso de tombos ou tropeços.


vinit@uol.com.br

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