|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
O mundo não pára
Mesmo com juros em alta, incerteza nos EUA e com a China tentando desacelerar, até Japão e Europa crescem
QUE O MUNDO não crescia tão
depressa desde os anos 70 já
é mais que sabido. O que vai
ser da economia dos EUA continua
muito incerto, embora "desaceleração", e não "recessão", seja cada vez
mais a palavra utilizada para definir
a aterrissagem americana.
Afora a China, falar de produção
em alta em um momento em que os
alarmes algo paranóicos dos banqueiros centrais começaram a tocar
parece meio defasado. Os juros já sobem faz algum tempo, mesmo no
Japão (para 0,25%!), embora discretamente. Mas o temor de resfriado,
gripe ou pneumonia econômica
americana lançou mais luz sobre a
capacidade de outras regiões no planeta ao menos aliviarem o desaquecimento global (da economia).
A Europa não crescia tanto desde
2000. Em relação à média 2003-2005, a produção cresceu dois pontos percentuais. A americana caiu. O
Japão não crescia tanto desde o início dos anos 90 e não o fazia por tanto tempo desde os anos 70, segundo
relatório do banco americano JP
Morgan que chama a atenção para o
desempenho nipo-europeu.
Os europeus estão importando
mais; o crescimento enfim passou a
depender mais do mercado doméstico que do comércio exterior. O fluxo de comércio da Eurozona com a
Ásia supera os negócios com os EUA
e cresce mais depressa. O consumidor asiático vai gastar 7% a mais neste ano em relação a 2005; os americanos, 3%, segundo o FMI. Em suma, a conexão euroasiática teria fôlego para segurar parte da barra da
desaceleração americana.
Há nuvens por aí, como sempre.
Para os banqueiros centrais europeus, a Eurozona não pode crescer,
como agora, ao ritmo de 3%, sem
ameaça de inflação. O Japão depende de câmbio desvalorizado (o iene
mais baixo em 20 anos), tem dívida
pública alta, ainda sofre com deflação e teme a inversão de uma maré
especulativa, uma pequena bolha
nipônica. Como os juros no Japão
estão em torno de zero, os mercadistas japoneses emprestam dinheiro
para especular em mercados com
juros e riscos maiores. Quando o dinheiro voltar, o que será do iene?,
pergunta o "Financial Times".
O desequilíbrio sino-americano
persiste. Os EUA consomem demais
(têm déficits fiscais e comerciais
enormes), China e Ásia financiam.
Há quem diga que a queda da riqueza dos americanos devido ao fim da
supervalorização dos imóveis estaria sendo só aliviada, temporariamente, pela baixa no preço dos combustíveis e porque o mercado de trabalho ainda não sentiu o impacto
dos juros. Um dia, diz a teoria, a festa
acaba em crise. Mas não se sabe
quando e como ela virá.
Há pilhas de dólares nos cofres
dos BCs do planeta. Segundo o FMI,
as reservas internacionais (o que os
BCs guardam em moeda forte) mais
que dobraram em cinco anos. Há o
rumor sinistro de que, em certo momento, os BCs, com medo de uma
desvalorização do dólar, comprem,
por exemplo, euros. Haveria uma
desvalorização do dólar, que poderia
suscitar estouro de boiadas nos
mercados. Os EUA, com o dólar
mais fraco, gastariam menos.
Mas pode ser que o ajuste seja lento e gradual. O que se sabe mesmo é
que não há sinais novos de catástrofe. E apareceram uns colchonetes
em caso de tombos ou tropeços.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Um novo metabolismo Próximo Texto: São Paulo perde espaço no PIB nacional Índice
|