São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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São Paulo perde espaço no PIB nacional

Dados do IBGE de 2004 mostram que Estado tinha 33,7% da economia do país em 2000 e 30,9% quatro anos depois

Migração da indústria de alimentos para novos centros, expansão agrícola e benefícios fiscais elevam peso de outras regiões


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A economia do país prossegue num processo acelerado de desconcentração, puxado pela perda de peso do Estado de São Paulo no PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Maior do país, o PIB paulista, que já chegou a representar 33,7% em 2000, correspondia a 30,9% da economia brasileira em 2004. Em 2003, o percentual era de 31,8%, segundo o IBGE.
Em contrapartida, economias do Sul, do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte ganharam terreno. A situação tende, porém, a mudar quando computados dados de 2005 e 2006, segundo o economista Sérgio Vale, da MB Associados. É que a crise no campo, que se irradiou para o comércio e parte da indústria, afetou o desempenho do Sul e do Centro-Oeste.
Norte e Nordeste, por sua vez, continuaram provavelmente avançando, estima Vale, com o aumento da renda proporcionado por programas de transferência (como o Bolsa Família), a expansão da indústria e da fronteira agrícola.
Em 2000, 4,6% do PIB era gerado na região Norte. Em 2004, subiu para 5,3%. No Nordeste, no mesmo período, foi de 13,1% para 14,1%; no Sul, de 17,6% para 18,2%; no Centro-Oeste, de 7% para 7,5%. Apesar da desconcentração, a região Sudeste ainda representava 54,9% do PIB em 2004 -o percentual era de 57,8% em 2000.
O PIB paulista perde espaço desde 1990 (quando era 37% do do país), mas a tendência se acelerou de 2000 em diante. Entre as razões, Frederico Cunha, gerente das contas regionais do IBGE, cita a abertura de novas empresas em outros pólos econômicos, os incentivos fiscais de alguns Estados e a migração de indústrias de bens de consumo (especialmente alimentos) para mais perto dos mercados consumidores. Ressalta ainda o efeito da expansão da fronteira agrícola para o Centro-Oeste e o Nordeste, atraindo a agroindústria.
"Muitos Estados, especialmente os do Nordeste, estão se integrando ao mercado consumidor, o que leva as empresas, principalmente de bens de consumo não-duráveis, a se instalar na região", concorda o economista Edgar Pereira, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Diferentemente de São Paulo, não houve perda em outros Estados em que a economia também é dinâmica. Segundo maior PIB do país, o Rio, que perdeu terreno na década de 1990, manteve praticamente inalterada sua participação -12,5% em 2000 para 12,6% em 2004. Foi efeito do crescimento da indústria do petróleo, diz o IBGE. Em Minas, o peso passou de 9,6% para 9,4%.
Os dois Estados, avalia Vale, devem manter seu peso graças à expansão da exploração de petróleo e minério de ferro. "Sem dúvida, no Sudeste, São Paulo é o que tende a perder mais em 2005 e 2006."
Em 2004, a economia paulista cresceu 6,4%, mais do que o PIB nacional, cujo crescimento foi de 4,9%. O motivo foi o desempenho da indústria naquele ano -expansão de 10,8%, a melhor marca desde o início da série da pesquisa do IBGE, em 1985. Em 2004, o PIB paulista somou R$ 546,607 bilhões, de um valor total de R$ 1,767 trilhão no Brasil.
Os maiores crescimentos do PIB, em 2004, aconteceram no Amazonas (11,5%) e em Mato Grosso (10,2%), sob efeito da indústria da zona franca e da agropecuária, respectivamente. Afetado pela estiagem que também prejudicou os Estados do Sul, Mato Grosso do Sul foi o único com taxa negativa (-0,8%). Na seqüência, os piores desempenhos ficaram com Paraíba (1,6%) e Rio de Janeiro (1,9%) -no segundo caso, sob efeito da queda de 3% da produção de petróleo, a primeira desde 1990.
Em razão da seca, Rio Grande do Sul e Paraná também cresceram abaixo da média em 2004 -3,4% e 3,2%, respectivamente.
Pereira, do Iedi, ressalta que "um cenário de forte crescimento econômico, como foi o de 2004, beneficiou as economias menores e favoreceu o processo de desconcentração regional". Acre e Tocantins são dois exemplos, com altas acima da média -5,7% e 5,5%.


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