|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dono da OceanAir cresceu como cliente do governo
Negócios de Efromovich com o Planalto começaram no início dos anos 90, em contratos com a Petrobras
Proposta de transportar os passageiros da BRA pode ser a chance que a OceanAir
desejava para crescer no mercado, dizem analistas
Bruno Miranda/Folha Imagem
|
|
German Efromovich, dono da OceanAir, que pretende ficar com as linhas que antes eram operadas pela BRA
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
Dono do conglomerado
Synergy Group, com negócios
nas áreas de petróleo e aviação,
o empresário German Efromovich mantém relações próximas com a cúpula do governo e
a do PT, a ponto de se vangloriar de ter Lula entre seus alunos de matemática no ABC 30
anos atrás.
Na semana passada, Efromovich anunciou que a OceanAir,
a quarta colocada em participação no mercado doméstico,
com uma fatia de 2,9% em outubro, se responsabilizaria pelo
transporte dos passageiros que
compraram pacotes de viagem
na PNX com vôos da BRA.
Analistas ouvidos pela Folha
avaliam que a oferta de Efromovich pode ser a grande
chance de a empresa ganhar
mercado. O empresário foi o
único que já foi recebido em
audiência pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. O ministro
já fez críticas diretas ao modelo
de duopólio TAM-Gol, no mercado doméstico de aviação.
"As grandes empresas estão
de orelha em pé, querendo saber o que vai acontecer. Ele
tem boa "entrada" com o governo e criou um "crédito" significativo ao aceitar transportar
esses passageiros. Isso mostra
a crueldade do duopólio no
país", afirma o consultor em
aviação Paulo Bittencourt
Sampaio.
O empresário não se comprometeu a transportar os 70
mil passageiros que compraram bilhetes da OceanAir, mas
apenas os que tinham pacotes
de viagem da PNX. A BRA, porém, rebateu a OceanAir e afirmou, na terça-feira, que todos
os seus passageiros, inclusive
aqueles de vôos que não sejam
de fretamento, terão transporte garantido pela OceanAir.
Efromovich reclamava havia
meses da atuação da Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) e dizia que a agência protegia o duopólio. Afirmava que
a estratégia da OceanAir para
ganhar mercado se daria por
meio de rotas alternativas porque não havia como lidar com a
"concorrência predatória".
Enquanto a nova diretoria da
agência não toma posse, Efromovich resolveu recorrer ao
próprio ministro. A expectativa
é que a OceanAir seja beneficiada com as linhas da BRA.
Judeu, filho de sobreviventes
de origem polonesa do campo
de extermínio de Treblinka,
Efromovich tem fama de "brigão". É do tipo que fala muito,
sempre com gestos largos e o
sotaque de emigrante boliviano que chegou ao país com 13
anos. Gosta de vangloriar-se de
ter acesso direto à toda-poderosa Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil.
Já a relação com o presidente Lula data de três décadas,
quando o metalúrgico assistia a
suas aulas de matemática num
cursinho oferecido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
"Ele [Lula] tem muito valor",
costuma dizer Efromovich, que
também é amigo de Roberto
Teixeira, advogado compadre
do presidente e um dos lobistas
mais ativos do setor aéreo.
De olho na África
O portfólio de empresas de
Efromovich inclui a Marítima,
que atua na área de petróleo, e
os estaleiros Mauá e Eisa. As
atenções do empresário, no entanto, concentram-se atualmente no setor de aviação.
Além da OceanAir, ele é dono
da Avianca (Colômbia), de empresas aéreas no Peru e no
Equador e prepara-se para entrar no continente africano.
Pouco depois de Lula apelar
por vôos diretos entre o Brasil e
a África, a OceanAir pretende
iniciar uma linha para a cidade
de Lagos, na Nigéria.
A OceanAir começou explorando rotas usadas pelos funcionários da Petrobras, como a
Rio-Macaé, como uma pequena empresa de táxi aéreo.
A elevação da OceanAir à categoria de empresa de aviação
regular exemplifica a personalidade do empresário. Impressionado com os baixos preços
de aviões Fokker-100, que estavam parados no deserto nos
EUA, decidiu compor a frota
com esse modelo de aeronave,
apesar dos conselhos de que o
avião tinha má fama no Brasil
por estar associado a diversos
acidentes na década anterior.
Não deu ouvidos a ninguém. A
OceanAir tem hoje encomendas de aeronaves A-320 para
expansão das linhas. Os planos
de expansão incluem ainda a
compra de ativos da Vasp, que
está em recuperação judicial.
Na Colômbia, por ter comprado a Avianca -"Pegamos
essa empresa na lona", diz ele,
com orgulho- ganhou de presente do presidente Álvaro Uribe, a quem reserva os mais efusivos elogios, mais uma cidadania, a colombiana. A Avianca é
uma das empresas mais tradicionais da América Latina -foi
fundada em 1919.
Petróleo
Nos próximos anos, Efromovich pretende ampliar os tentáculos ainda mais, para setores
como o do agronegócio.
A mais notória confusão empresarial de Efromovich é uma
disputa internacional com a
Petrobras, que se arrasta desde
o início da década. O empresário quer indenização de US$ 8
bilhões. Reclama ainda de ser
perseguido e excluído de licitações.
As queixas, segundo seus adversários, são descabidas.
Quem não gosta de Efromovich
lembra, com certo veneno, que
ele tinha excelente trânsito na
petrolífera durante meados da
década de 90, sob a gestão tucana, mais especificamente a de
Joel Rennó. Nas vacas gordas, a
carteira de negócios do empresário com a Petrobras ultrapassava US$ 2 bilhões.
Afirmações como essa fazem
os olhos de Efromovich ficarem
miúdos por trás dos óculos e
são devolvidas em forma de palavrões ou de um silêncio contínuo. É o que também acontece
quando alguém menciona um
de seus muitos desafetos.
Para desespero de seus assessores, todos escolhidos a dedo
entre ex-funcionários da Petrobras, Efromovich gosta de rejeitar acordos e tentativas de
conciliação, a despeito de, no
passado, ter acionado sua rede
de contatos oficiais.
No início do governo Lula, foi
recebido por Dilma, então ministra de Minas e Energia, que
ouviu suas reclamações e imediatamente telefonou para o
então presidente da Petrobras,
José Eduardo Dutra, pedindo
atenção aos pleitos do empresário. De nada adiantou. "Esses
contatos no governo não resolvem nada", diz o empresário.
Apesar do discurso para fora,
Efromovich tem o hábito de investir pesado em áreas que dependem de concessão do governo, como a de exploração de petróleo. Diz que o ambiente para
seus negócios melhorou sensivelmente durante o governo
petista.
"Dia histórico"
Os anos FHC foram de altos e
baixos. Efromovich surgiu do
nada como papão de contratos
da Petrobras no início da década de 90, com a Marítima, espécie de nave-mãe de seu conglomerado, o Synergy Group.
A lua-de-mel com o Estado
acabou de maneira estrondosa
quando o comando da estatal
saiu das mãos de Rennó e passou aos sucessores, Henri
Reichstul e Francisco Gros. O
naufrágio da plataforma P-36,
construída pela Marítima em
2001, azedou de vez as relações.
Efromovich conseguiu reconstruir as relações com a Petrobras nos últimos anos, depois de se tornar sócio majoritário do estaleiro Mauá, citado
na operação Águas Profundas,
da Polícia Federal.
Segundo relatos, no dia em
que retomou negociações com
a Petrobras, parou na frente da
sede da empresa e disse estar
vivendo um "dia histórico" por
voltar a colocar os pés na estatal após anos de discussões na
Justiça.
De acordo com a investigação, o Mauá integraria um esquema envolvendo o pagamento de propinas a funcionários
da Petrobras, centralizado pela
empresa Angraporto. Para o
empresário, tudo não passa de
um esquema armado por grandes empresas para atrapalhar
as atividades de sua companhia.
Estilo despojado
Se gosta de uma polêmica em
público, Efromovich, em privado, faz o estilo empresário despojado. Dispensa a gravata,
brinca com as secretárias, despacha com simplicidade em um
escritório enfeitado com maquetes de aviões. Do seu escritório é possível enxergar a pista
do aeroporto de Congonhas, na
zona sul de São Paulo.
Um mistério é onde ele mora.
A base formal é São Paulo, onde
estão também a mulher, as três
filhas e os dois netos pequenos.
Só para agradá-los, aliás, aceita
tirar uns dias de folga e esquiar.
Mas é "no ar" onde ele fica
90% do tempo, dizem assessores. É capaz de viajar 80 horas
em uma semana. No restante
do tempo, gosta de fazer o marketing da simplicidade. Viaja
em aviões de carreira dos concorrentes, pega táxis na rua e
dirige um Ford Versailles dourado, a álcool, ano 1991.
"Vale R$ 6.000", diz ele, contando que o carro não o torna
um alvo óbvio para seqüestradores ou ladrões.
Texto Anterior: Municípios com terminais podem ganhar R$ 1,5 bi Próximo Texto: PNX deve perder competitividade sem BRA, diz analista Índice
|